Exposição ‘Devaneios na Solidão da Infância’

Foto: Priscilla Pessoa e Alíria Aristides
Foto: Priscilla Pessoa e Alíria Aristides

Artista sul-mato-grossense explora o brincar e infância em nova exposição da Galeria de Artes Visuais da UFMS

 

“Nossa imaginação esvoaçava como pipas pelo firmamento. Fantasias forjadas, olhando as nuvens brancas, mais brancas como a neve”. Essa frase foi dita pelo pintor brasileiro Cândido Portinari sobre uma de suas obras retratando crianças em momentos de brincadeiras. A temática é explorada pelo artista sul-mato-grossense Wendel Fontes na exposição ‘Devaneios na Solidão da Infância’, que abre a temporada de 2025 da Galeria de Artes Visuais da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).

Visitantes poderão conferir a mostra até o dia 10 de abril, no piso térreo, no bloco 8, localizado no setor 1 da Cidade Universitária, próximo ao ginásio Moreninho. A entrada é gratuita e os visitantes podem conferir as obras de segunda a sexta-feira, das 13h30 às 16h30.

Durante a abertura da exposição, a pró-reitora de Extensão, Cultura e Esporte, Lia Brambilla, disse que o espaço de exposição na UFMS é um grande incentivo à reflexão. “A arte desperta em cada um de nós um sentimento, que só ela consegue alcançar”.

Exposição

Wendel foi selecionado por meio de edital, que busca promover a arte contemporânea. “A banca era composta por professores que possuem uma longa experiência no campo das artes visuais. Portanto, passar por esse tipo de seleção é uma alegria imensa, pois é uma forma de validação do nosso trabalho. Eu venho trabalhando nessa série nos últimos dois anos, e conseguir realizar uma exposição é muito gratificante, é um gás a mais para continuar fazendo arte”, destacou o artista em entrevista ao jornal O Estado.

A professora do curso de Artes Visuais e uma das coordenadoras das atividades da Galeria de Artes Visuais, Priscilla Pessoa, explicou que o trabalho de Wendel se enquadra de divulgação da arte contemporânea ao abordar o cotidiano da infância de forma singular.

“As pinturas retratam crianças brincando, desenhando ou simplesmente imersas em momentos de devaneio. Essa temática se conecta com uma longa história na arte, desde a pintura de gênero europeia do século XVI que buscava capturar cenas da vida cotidiana”, afirma.

Priscilla ressalta que o artista vai além do simples registro da infância, criando composições que misturam elementos do real e do imaginário. “Ao observar as obras com mais atenção, percebemos que não se trata apenas do ordinário, mas também do extraordinário. Detalhes como a presença de um passarinho ou espaços que parecem flutuar entre realidades, remetem à imaginação infantil e criam um jogo visual entre a realidade e a fantasia”, acrescenta.

Da infância para o pincel

Para o artista, crianças utilizam da imaginação nos próprios momentos de solidão, e assim conseguem criar uma realidade com estrutura e regras únicas e pessoais. “Penso que, como adultos, em um mundo cada vez mais acelerado e com grandes demandas, essa capacidade de criar no devaneio vai perdendo cada vez mais espaço. Portanto, esse trabalho parte do questionamento sobre como podemos aprender com a infância a resistir a esse mundo acelerado, e ter uma existência significativa”, disse.

Desenhar no chão, colorir, brincadeira de roda. Esses são alguns temas presentes nos trabalhos de Wendel, que se conectam com a própria infância e agora, com a vivência paterna. “Fiz muito dessas coisas na infância. Também era muito introspectivo e isso me ajudava de alguma forma. Mas não são apenas memórias da minha infância, tem muitas referências em cada tela. Tem também o fato de ser pai, e isso é uma experiência muito marcante para mim. Observo e aprendo muito com minhas filhas, por isso em algumas telas eu as retrato”, relata.

Foi na infância que o gosto pela arte tomou forma, acompanhando o pai feirante no trabalho, no Rio de Janeiro. “Um belo dia, ainda na adolescência, resolvi montar meu cavalete na rua e desenhar pessoas. Trabalhei assim por um tempo, e foi um grande aprendizado. Comecei e nunca mais parei”.

Após as primeiras experiências, foi no curso de graduação em Artes Visuais que teve contato com outras linguagens artísticas. “Lá aprendi sobre pintura e fotografia. Desde então, venho desenvolvendo minha pesquisa a partir dessas duas linguagens”.

O artista ainda cita como referência o artista brasileiro Antônio Obá, responsável por obras sobre luta dos direitos dos negros, tendo feito a capa do livro ‘O avesso da pele’, de Jefferson Tenório.

“Também admiro muito os trabalhos de dois artistas locais: a artista e educadora Priscila Pessoa, e os trabalhos em marchetaria do artista Iuri Dias. Os dois possuem uma expressividade poética que me chama muito atenção”, complementa.

“A relação entre arte e vida, a construção de narrativas não lineares e o uso da pintura, uma das formas mais antigas de expressão artística, mostram como ele reinventa e ressignifica a linguagem pictórica”, avalia Priscilla. “O uso das cores, o traço marcante, a composição das cenas e a relação entre os títulos e as obras tornam essa mostra uma experiência instigante. O Wendel é um nome crescente no cenário das artes visuais em Mato Grosso do Sul, e estamos muito felizes em recebê-lo na Galeria de Artes Visuais”, celebra.

Sobre a exposição ser realizada na universidade, o artista acredita que o espaço é o propício para promover discussões e debates instigantes.

“Nessa exposição, em particular, coloquei à disposição alguns registros de meu processo criativo. São imagens e anotações em diários que me acompanharam ao longo desse trabalho. É interessante ver o público analisando esse material e entendendo os caminhos que levam até a obra final”.

Com produção e pesquisa em andamento, Wendel segue participando de editais no Mato Grosso do Sul e em outros Estados, para ampliar suas exposições. “Vou apresentar um trabalho na galeria de artes visuais do Festival Campão Cultural, que acontece no final desse mês. Estou muito animado e com grandes expectativas”, finaliza.

 

Por Carolina Rampi

 

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