Eternidade: Filme traz para as telas uma versão do pós-vida de forma burocrática e regrada

Foto: Reprodução
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De ‘The Good Place’ até ‘Viva: a vida é uma festa’, a questão da vida após a morte é explorada há tempos pela televisão e pelo cinema, com os mais diversos arranjos. ‘Eternidade’, filme que estreia nesta quinta-feira (4), explora o romance e a burocracia para alcançar o ‘além’.

Na obra, todas as almas, após a morte, vão para uma espécie de limbo denominado ‘Junction’, onde tem uma semana para decidir onde querem passar a eternidade. Ao lado de seus coordenadores do pós-vida, cada um precisa escolher a maneira como – e com quem – irá passar o resto da eternidade. Quando Joan morre, ela é confrontada com uma escolha impossível: decidir entre Larry, o homem com quem passou a vida junto, ou Luke, seu primeiro amor e marido, que morreu na guerra muito jovem e esperou por ela por 60 anos no limbo da eternidade.

O triângulo amoroso é Elizabeth Olsen (WandaVision), Miles Teler (Divergente) e Callum Turner (Animais Fantásticos); o longa é completado por Da’Vine Joy Randolph, Betty Buckley, John Early, Olga Mereidz, Kristina Capati e Olga Petsa. Já a direção fica por conta de David Freyne (Meus Encontros com Amber), que também assina o roteiro ao lado de Patrick Cunnane.

Além disso, o filme é da produtora A24, responsável por grandes sucessos do cinema nos últimos anos como Midsommar, Moonlight, O Quarto de Jack, A Bruxa, Lady Bird, Hereditário, Pearl, Zona de Interesse, A Baleia, sendo vários deles indicados ao Oscar.

Um grande ‘e se?’

Além de tensão de, obviamente, morrer e descobrir todo um novo mundo (ou novos mundos, no caso), o que move a comédia romântica ‘Eternidade’ é a escolha de Joan. De um lado, como não escolher o pai de seus filhos, do qual você construiu toda uma vida juntos, com risadas, conquistas e felicidade? Passar a eternidade ao lado de seu parceiro de vida parece natural. Porém, a personagem enfrenta um passado arrancado de forma abrupta, com a presença de Luke, seu primeiro marido e amor, morto na Guerra da Coreia, que espera por ela no limbo há mais de 60 anos. Uma baita prova de amor não é?

No final das contas, Joan terá apenas uma semana para decidir com quem ficar, o ‘mundo’ que pretende seguir no pós-vida e se realmente levará um de seus dois amores para o além com ela. Apenas de ser vendido como uma comédia romântica, nem a própria protagonista acredita que o filme seja sobre um amor convencional. “Não é um triângulo amoroso comum, porque Joan precisa decidir sobre o amor fora da estrutura normal do tempo e das circunstâncias terrenas”, disse ela.

Para o The Hollywood Reporter, Olsen se declarou ‘distante’ da atual geração, e disse que o filme se diferencia das demais comédias.

“Pode parecer bobagem, mas aos 36 anos, não consigo me imaginar fazendo uma comédia romântica no mundo moderno. Não sinto que sei como capturar a cultura pop atual, porque estou muito distante dela. Mas senti que poderia fazer essa como uma senhora de 90 anos [no corpo de uma mulher de 30 e poucos anos], e me pareceu uma oportunidade única. É algo que, de certa forma, reflete como me sinto”.

A atriz ainda refletiu sobre as questões do imediatismo vividos nos tempos atuais. “Estamos numa era em que somos obcecados por todas as opções disponíveis. Queremos saber qual é a opção perfeita para tudo. Podemos inserir um monte de informações no ChatGPT e queremos que ele nos dê todas as respostas possíveis para tudo. Então, há algo a se considerar sobre essa narrativa de mostrar diferentes caminhos que poderíamos ter seguido, ou que poderíamos seguir, porque vivemos num mundo em que queremos opções infinitas o tempo”.

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Criticas

No Rotten Tomatoes, site especializado em críticas, o filme alcançou 77% de aprovação, com 129 avaliações. “É romântico? É deprimente? É lamentavelmente limitado em sua concepção do que constitui uma vida humana? Sim? Sua simplicidade dedicada, inteligente e reconfortante também é bastante satisfatória — um filme contido, que agrada ao público e não se prolonga eternamente”, disse Lindsey Bahr, do Associated Press.

“Ajuda imensamente o fato de Teller e Olsen formarem uma boa dupla — ela consegue extrair o melhor de um parceiro de cena que às vezes pode parecer distante na tela — e que Turner saiba exatamente como fazer esse cara “perfeito” parecer imperfeito, mas ainda assim cativante”, complementa David Fear, da Rolling Stones.

Já para Alexandre Cunha, da revista O Grito, mesmo que bem ‘pensado’, o filme ainda peca em conceitos convencionais de roteiro, mas elogia o trio de protagonistas. “Mecanismos narrativos que poderiam ser mais explorados pela direção de David Greyne; entretanto, o cineasta prefere focar no sentimentalismo receitado por incontáveis filmes anteriores, mais palatável aos moldes do cinema comercial norte-americano. A produção parece se limitar a apostar na química do trio de atores principais. Elizabeth Olsen e Callum Turner transmitem segurança e carisma aos seus papéis, enquanto Miles Teller se destaca ao construir o mais cômico dos três personagens, imprimindo os sutis trejeitos de um senhor de idade avançada”.

Rui Filho, do Estação Nerd, vê que o filme coloca a decisão de Joan como além do romance, chegando a esfera moral da sociedade. “Se ‘Eternidade’ se destaca entre as narrativas românticas contemporâneas, é porque Freyne não trata o amor como um destino, e sim como uma escolha moral, uma decisão que envolve responsabilidade, compromisso e, sobretudo, autoconsciência. É por isso que o arco de Joan ressoa tanto com o espectador, sua jornada não é sobre escolher “o homem certo”, mas escolher a si mesma, escolher quem ela se tornou depois de uma vida inteira que não cabe no molde idealizado do primeiro amor”.

“No fim, ‘Eternidade’ emociona não porque oferece respostas, mas porque encara de frente o medo mais íntimo de todos, o de que, quando o futuro é infinito, nenhuma escolha parece suficiente. David Freyne, contudo, vira essa angústia ao avesso e propõe algo profundamente humano: a eternidade não é o que se promete, é aquilo que se constrói, dia após dia, até que um amor ganhe peso o bastante para sobreviver ao tempo. E é por isso que, mesmo em meio à fantasia brilhante do pós-vida, o filme nos devolve ao mais terreno dos sentimentos: a vontade de ser visto como realmente somos, e não como fomos um dia”.

 

Por Carolina Rampi

 

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