Mesmo que você não seja um fã declarado de reggae, é bem provável que já tenha escutado algum som do Natiruts. Em mais de duas décadas de estrada, a banda brasiliense marcou presença em trilhas sonoras de momentos felizes, reflexivos e até dolorosos. Com mensagens que exaltam a paz, o amor e a liberdade, o grupo conquistou uma legião de fãs e se tornou referência no cenário musical brasileiro. Agora, após quase 30 anos de carreira, o Natiruts se despede dos palcos, mas não sem deixar um legado inesquecível.
Durante a turnê de despedida, o baixista e um dos fundadores da banda, Luís Maurício, conversou com o Jornal O Estado. Entre lembranças, ele falou sobre o carinho do público sul-mato-grossense, revelou planos para projetos solo e, claro, compartilhou sua conexão profunda com a música.
Sobre a Banda
Foi em 1997 que o grupo, ainda sob o nome Nativus, lançou seu primeiro álbum, um trabalho independente que rapidamente se transformou em um marco. O disco homônimo conquistou o público de imediato e rendeu à banda seu primeiro disco de platina. A faixa “Liberdade Pra Dentro da Cabeça” se destacou e, até hoje, segue como um dos maiores hinos do grupo. Dois anos depois, em 1999, veio o segundo álbum, Povo Brasileiro. Com letras de forte teor político e social, o trabalho não passou despercebido: vendeu mais de um milhão de cópias e garantiu ao grupo o cobiçado disco de ouro.
O tempo passou, mas o sucesso do Natiruts só cresceu. Em 2014, uma das músicas mais queridas do repertório, “Andei Só”, ganhou um videoclipe ambientado nas paisagens do Rio de Janeiro, fortalecendo ainda mais a conexão com o público. Com uma trajetória sólida, a banda não se limitou ao Brasil. Ao longo dos anos, conquistou espaço em outros países e levou seu som a palcos internacionais, com turnês por países como Espanha, Argentina e Portugal.
Turnê de Despedida
No fim de 2024, o Natiruts anunciou que era hora de encerrar sua trajetória nos palcos. A decisão veio acompanhada da turnê de despedida “Leve com Você”, que segue em cartaz até agosto deste ano, com apresentações em diversas cidades e participações em festivais, como o João Rock em julho. O encerramento da turnê e da história da banda nos palcos acontecerá de forma simbólica no lugar onde tudo começou: Brasília, no Distrito Federal, terra natal do grupo.
Antes de encerrar sua trajetória, o Natiruts faz uma parada especial em Campo Grande no dia 12 de junho, com um show marcado para o Bosque Expo. Os portões abrem às 20h e a apresentação tem início previsto para às 22h. Com classificação etária de 16 anos, o evento contará com dois setores: Área VIP (a partir de 16 anos) e o Frontstage Open Bar + After, exclusivo para maiores de 18. Os ingressos variam entre R$ 150 e R$ 300 no site www.meubilhete.com.br, dependendo do setor escolhido. Será uma oportunidade única para os fãs sul-mato-grossenses celebrarem essa despedida histórica ao som dos maiores sucessos da banda.
Entrevista Exclusiva
O Estado: Sejam bem-vindos a Campo Grande, novamente! Vocês estiveram na cidade em 2023 no MS ao Vivo. Quais lembranças vocês possuem daqui? Curtem a cidade, gostam da música e cultura?
Luís Maurício: Sim! A gente esteve em Campo Grande em 2023, em um show que ficou guardado no nosso coração. Um show lindo. A gente teve a oportunidade de tocar numa arena maravilhosa, ao ar livre, e com a arena lotada. Um público, uma vibração muito boa! E sim, a gente tem muitas lembranças boas da cidade, da comida, das pessoas… Sempre foi incrível tocar aí, e vai ser ótimo estar de volta e viver essa experiência, essa emoção novamente.
O Estado: Como tem sido para vocês viver essa despedida dos palcos em uma turnê tão intensa e carregada de emoções? O que mais emociona vocês ao verem os fãs chorando pela despedida da banda?
Luís Maurício: Essa turnê tem sido carregada de emoção, porque, realmente, são 30 anos, e as pessoas se identificam muito com as músicas, elas remetem a boas lembranças, bons momentos. A gente tem visto esse movimento de famílias indo curtir essa despedida, e é realmente muito emocionante ver essa troca com o público. A gente fica feliz ao perceber que é uma banda muito querida, que construiu esse legado com base nas canções mesmo. Ter conseguido impactar a vida de tanta gente com a música é, de verdade, algo muito gratificante para gente. E a gente espera ver isso aí em Campo Grande também.
O Estado: O nome da turnê é “Leve com Você”. O que vocês esperam que o público leve dessa última fase da banda?
Luís Maurício: Realmente a gente escolheu esse nome da turnê, “Leve com Você”, porque, como diz a música, a gente quer que as pessoas levem tudo que foi bom, tudo que a gente deixou de mensagem, de positividade, de esperança, de alegria na vida delas. Então, esse é o nosso recado final. A gente se despede dos palcos, mas as músicas continuam aí. E a gente espera que elas ainda ecoem por muito tempo na vida de muita gente.
O Estado: Vocês estão preparando algo especial ou diferente para esse show no Bosque Expo? Alguma surpresa no repertório? Podemos esperar uma celebração à altura de quase 30 anos de história?
Luís Maurício: Sem dúvida, o público pode esperar uma celebração maravilhosa! A gente tem feito esse show por muitas cidades, e o público realmente tem gostado bastante. Procuramos montar um repertório bem abrangente e, além disso, tem um conteúdo de vídeo muito legal que soma bastante a esse conjunto;música, imagens no telão e a iluminação. Tem sido um show muito especial, e a gente tem certeza de que a galera vai curtir demais!
O Estado: Vocês se despedem com a sensação de missão cumprida? Há algo que ainda gostariam de ter feito como banda?
Luís Maurício: Sem dúvida, essa é realmente a sensação: missão cumprida. A gente foi muito além do que se propôs lá no começo. Acho que realizamos tudo e mais um pouco do que qualquer banda gostaria de conquistar. Fizemos muitos álbuns, muitos registros em vídeo, recebemos premiações, indicações ao Grammy, conquistamos um público fora do Brasil. Fizemos turnês internacionais com muito êxito, com estrangeiros curtindo os shows, não só brasileiros que moram fora. Então, acho que fomos muito além do que imaginávamos. E estamos encerrando essa história com chave de ouro. O que faltava mesmo era encher estádios de futebol, e isso a gente está conseguindo realizar nessa turnê de despedida. Tivemos a oportunidade de tocar em vários estádios pelo Brasil, reunindo mais de 50 mil pessoas em alguns deles. Isso era algo impensável para gente no início. A gente só via isso com bandas internacionais. Então, é a realização de um sonho. Estamos, de fato, fechando com chave de ouro.
O Estado: Quais músicas mais marcaram vocês ao longo desses anos? não só pelo sucesso, mas pelas histórias por trás delas?
Luís Maurício: É muito difícil apontar quais músicas mais marcaram a nossa carreira nesses 30 anos. Mas, se fosse para escolher duas, eu acho que diria “Presente de um Beija-Flor”, que foi a nossa primeira música a realmente abrir as portas para o Natiruts, tanto no Brasil quanto fora dele. E talvez também “Natiruts Reggae Power”, que foi uma canção muito marcante. Quando a gente compôs essa música, queríamos justamente sair um pouco do estilo que já vínhamos fazendo, que era um reggae mais tradicional. A gente se inspirou muito nas viagens que estávamos fazendo pela América Central, especialmente em Porto Rico, e acabamos criando, talvez, o primeiro reggaeton brasileiro, lá em 2006. Acho que essas duas músicas, sem dúvida, tiveram um papel especial na nossa história.
O Estado: Mesmo com o fim dos palcos, existe a possibilidade de novos projetos individuais ou colaborações entre vocês?
Luís Maurício: Eu, particularmente, vou dar um tempo agora dessa experiência que vivi intensamente, de estar dentro dessa bolha do mundo artístico. Vou tocar outros projetos, mas não dentro do mundo artístico, vou aproveitar para descansar, curtir mais a família, os amigos. Já o Alexandre, sim, ele é um artista nato, ele não vai parar de compor. Acho que ele vai dar um tempo dos palcos, mas vai continuar criando e enriquecendo a nossa cultura musical aqui no Brasil, com a excelência que ele tem. Na minha opinião, ele é um dos maiores artistas e compositores da minha geração, então ele não pode parar.
O Estado: E para os fãs mais fiéis: o que vocês diriam para quem os acompanhou por tantos anos e estará em Campo Grande para se despedir?
Luís Maurício: A mensagem que a gente quer deixar para os fãs mais fiéis, essa galera que sempre nos acompanhou, é de muito agradecimento. Agradecimento por tudo que fizeram por nós, por propagarem nossas canções, apresentarem para outras pessoas, e por carregarem a gente no coração e na mente. A gente é muito grato porque, para mim, o Natiruts sempre foi uma banda que partiu do público, não o contrário. Então, ficamos muito felizes e queremos agradecer, do fundo do coração, a cada pessoa que depositou energia, alegria e ajudou a espalhar as nossas músicas.
Por Amanda Ferreira
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