Há 129 anos, os irmãos Auguste Marie Louis Nicholas Lumière davam um susto a aproximadamente 30 franceses, na primeira sala de cinema do mundo, o L’Eden Théâtre, que assistiam pela primeira vez, um filme. Utilizando um cinematógrafo, invenção dos irmãos, o curta-metragem ‘La Sortie de l’usine Lumière à Lyon’, mostrava um trem chegando a estação. Quem assistia achou que o trem era real e vinha na direção do público, o que causou o alvoroço.
O mundo dá voltas, e o cinema evoluiu tanto e em diversos aspectos. Um dos cineastas modernos de destaque é Joel Pizzini. Diretor e curador, é um dos grandes realizadores da cena brasileira, no âmbito de curtas e longas-metragens, com ampla produção de resgate poético regional.
Nascido no Rio de Janeiro, passou a infância em Mato Grosso do Sul, onde ainda jovem já escrevia poemas. Foi na universidade que conheceu o trabalho de Mário Peixoto, que serviu de inspiração para a carreira no cinema.
Em 1981, voltou para Campo Grande, tornando-se frequentador assíduo de cinemas, e realiza divulgações de releases de filmes de Bressane e Sganzerla. Já em São Paulo, realiza seu primeiro curta-metragem ‘Caramujo-flor’ (1988), onde por meio de som e imagem, revela o universo do poeta Manoel de Barros. O curta recebeu prêmios como Melhor Direção e Melhor Fotografia, no Festival de Brasília (1988); Melhor Filme, no Festival de Huelva, Espanha (1988); Melhor Documentário Latino-Americano, no Festival de Mar Del Plata, na Argentina (2006).
Entre 2000 e 2010, produz mais de uma dezena de filmes e vídeos para a TV, com destaque para: ‘500 Almas’ (2004), que representa a experiência poética sobre a região onde vive na infância e juventude; ‘Mr. Sganzerla, o Signo da Luz’ (2011) e ‘Mar de Fogo’ (2014).
Sua obra ‘500 Almas’, foi o primeiro longa-metragem de Pizzini, e resgata a tradição dos Guatós, etnia indígena de Mato Grosso do Sul considerada extinta na década de 1960. Também foi curador da restauração da obra de Glauce Rocha.
Em entrevista ao jornal O Estado, Pizzini revela o que, na sua opinião, é ser um cineasta.
“Cineasta é um poeta, é um autor, é um porta-voz do seu tempo, de sua cultura, e ele é um intérprete da alma de uma determinada região. O cineasta é um realizador. Ele vai buscar sonhos, desejos, histórias que precisam ser contadas”, reflete.
Com trabalhos voltados para o regionalismo, no universo das culturas indígenas, ele se vê como um pesquisador. “Meu trabalho está muito ligado ao cinema de poesia, então eu sempre encontrei no cinema uma forma de expressar a dimensão poética da nossa realidade, do nosso mundo, sempre procurando investigar as potencialidades do cinema”.
Panorama regional
Mesmo com carreira nacional, o cineasta segue de olho nas produções do Estado. Ele destaca que um dos pontos importantes das produções é o resgate dos espaços voltados para o cinema.
“Como Mato Grosso do Sul não tem mais salas de cinema de rua, só nos shoppings, onde os filmes exibidos são os mais mercadológicos. Mas, para a nossa alegria, ressurgiram os festivais. Festival de Bonito, Festivale, em Ivinhema, sendo o mais longevo, onde tenho o orgulho de ser curador. O Festival de Curtas foi uma importante vitrine para o público da Capital”, pontua.
“Mas a gente tem esperança que as salas ressurjam. É importante ter cinemas de rua, porque é outro espírito, voltados a produção de conhecimento, ao autoconhecimento, ao espaço que não tem uma necessidade imediata de retorno financeiro”.
Projetos
Mesmo com prêmios na prateleira, Pizzini não deixa de realizar projetos. “Acabei de lançar no Festival de Curtas de Campo Grande um filme chamado ‘A Voz de Guadakan’, um curta-metragem que estreou no Bonito CineSur. É protagonizado pela Gleycielli Nonato Guató, primeira escritora indígena do nosso Estado e por sua mãe, Maria Agripina. Ele é muito significativo para mim, pois é como um filho de ‘500 almas’, e mostra descendentes dos guató, etnia quase extinta e que estava dispersa no Estado devido ao preconceito e violência”.
O cineasta também prepara um documentário sobra a obra de Manoel de Barros. Denominado ‘Manual de Barros’ a obra será construída com imagens de arquivo do próprio poeta, a partir de encontros entre ele e Pizzini e materiais levantados por todo o país. “Estou finalizando outra obra chamada ‘Depois do Trem’ a partir da obra de Joaquim Cardoso, grande poeta, que foi calculista de Oscar Niemeyer, resolvendo os delírios do arquiteto”, explica.
E ele realmente não para: além das produções citadas, o cineasta continua com um projeto sobre a artística plástica Lídia Baís, e outro sobre o Parque das Várzeas de Ivinhema.
Por Carolina Rampi e Marcelo Rezende
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