Evento reúne fé, resistência e apresentações culturais neste sábado (26)
O feijão – juntamente com o arroz – é a base da alimentação do brasileiro. Mas você conhece a tradição da ‘Feijoada de Ogum’? Em Campo Grande a tradição segue viva pelo Ilè Asé Efunsola Àjagúnà, terreiro de Candomblé da nação Ketu, no Jardim Seminário. Realizada anualmente pelo local, a Feijoada de Ogum é um evento cultural e social aberto ao público, que reunirá apresentações artísticas afro-brasileiras como samba, capoeira, exposições de arte e o tradicional prato, das 11h às 19h.
A Feijoada de Ogum tem suas raízes na culinária africana e no sincretismo religioso presente no Brasil. É tradicionalmente preparada com feijão preto, carne suína, linguiças e temperos fortes. Essa feijoada simboliza a força, a coragem e a energia guerreira de Ogum, orixá dos caminhos, da tecnologia e da proteção. O prato é mais do que uma iguaria, é um símbolo de fartura, união e fé, comumente servido em terreiros e eventos dedicados ao orixá como forma de agradecimento, celebração e fortalecimento espiritual.
Segundo algumas histórias, a tradição do prato fica por conta do babalorixá Procópio de Ogunjá. Um filho de Santo teria ido até o terreiro, e Procópio não lhe ofereceu comida. Após a desfeita e erro, Ogum disse a Procópio que ele deveria dar uma feijoada completa, e oferecer todos os anos aos seus filhos de santo e visitantes.
O Pai de Santo Geiser Barreto explicou a importância do evento que reune fé e cultura. “A Feijoada de Ogum é uma expressão rica da cultura afro-brasileira, fortemente ligada ao Candomblé, religião de matriz africana que reverencia os orixás, divindades ligadas às forças da natureza. Ogum, nesse contexto, é o orixá do ferro, da guerra, da tecnologia e dos caminhos — uma figura de força, coragem e ação.”
Ainda segundo Geiser, existe uma conexão muito forte entre a feijoada e a religião. “No Candomblé, cada orixá tem comidas específicas, preparadas em rituais e oferendas. A feijoada é uma comida ritual associada a Ogum, feita com feijão-preto, carnes diversas (especialmente de porco), temperos fortes e, muitas vezes, servida com farofa, arroz e couve. Durante as festas e obrigações (rituais) dedicadas a Ogum, essa feijoada é preparada com muito cuidado, seguindo preceitos religiosos, e depois é compartilhada com a comunidade, em um gesto de fé, gratidão e união. A feijoada de Ogum é mais que comida: é uma oferenda sagrada. O ato de cozinhar e oferecer essa refeição tem valor espiritual, invocando a presença e proteção de Ogum.”
De acordo com o religioso, a feijoada possui quatro pilares que justificam sua representatividade. “Primeiro é que é símbolo de resistência. A feijoada de Ogum é parte de um sistema religioso que sobreviveu à escravidão e ao racismo estrutural. É, portanto, símbolo da resistência e da preservação das raízes africanas no Brasil. Em segundo lugar tem o sincretismo religioso com o catolicismo, Ogum é associado a São Jorge, especialmente no Rio de Janeiro. A feijoada, então, pode ser vista também em festas populares como o dia de São Jorge (23 de abril), reunindo tanto devotos católicos quanto praticantes do Candomblé. Em terceiro lugar estão a cultura popular e identidade, pois além do aspecto religioso, a feijoada se tornou um ícone da culinária brasileira. A sua presença em eventos, bares e festas reforça a influência afro-brasileira na formação da identidade nacional, e por último é sinônimo de comunidade e partilha, Comunidade e partilha, pois preparar uma feijoada de Ogum é um ato de comunhão. O alimento é partilhado entre filhos de santo, familiares, amigos e visitantes, criando laços sociais e fortalecendo o sentimento de coletividade.”
Mais do que um evento gastronômico, a Feijoada de Ogum é um ato de resistência cultural. Em um país marcado pela repressão e intolerância religiosa, manter vivas as tradições afro-brasileiras, é reafirmar a importância da diversidade e da ancestralidade na construção da identidade nacional. Compartilhar essa refeição fortalece os laços comunitários, valoriza a cultura de matriz africana e promove a convivência e o respeito entre diferentes expressões culturais e religiosas.
Cultura, Comunidade e Espiritualidade
Além de seu caráter cultural e festivo, o evento realizado pelo terreiro Ilè Asé Efunsola Àjagúnà tem como objetivo arrecadar recursos para a manutenção das atividades religiosas, sociais e culturais do terreiro, que atua na preservação da cultura afro-brasileira, com acolhimento da comunidade e continuidade das tradições religiosas de religiões de matrizes africanas e povos de terreiros.
Para o Pai de Santo Geiser Barreto a feijoada é uma partilha da fé com a comunidade. “Que possamos receber as famílias e comunidade nesse momento de festa, alegria e muita cultura. Levando a ancestralidade e nossa fé para todos presentes.”, finalisou o religioso.
A programação da Feijoada de Ogum conta com diversas expressões da cultura afro-brasileira:
* Exposição fotográfica: “Simbolismos do Candomblé”, de Lua Maria, disponível durante todo o evento.
* Capoeira é Resistência: apresentação do Grupo Cordão de Ouro com a mestra Pantaneira Léa Vieira e seus alunos.
* Os Sons Milenares na Música de Hoje: performance instrumental com Ney Wilde (guitarra), Roberto Souza (marimbau), Diogo Medeiros (atabaque).
* Roda de Samba com Fofão e Grupo, celebrando o samba como símbolo de resistência e alegria coletiva da cultura afro-brasileira.
* DJ Renan Cruz, com ambientação musical durante a abertura e o encerramento do evento, trazendo uma seleção vibrante de samba, pagode, axé e brasilidades.
Serviço: A Feijoada de Ogum será neste sábado (26), das 11h às 19h, no terreiro Ilè Asé Efunsola Àjagúnà fica na rua Marechal Câmara, 959, Jardim Seminário. O convite é R$ 40 e pode ser adquirido por meio do telefone (67) 99986-7717, com pagamento via PIX ou cartão de crédito. A comida será servida das 12h às 14h e não é permitida a entrada com bebidas, já que haverá venda no local. Levar pratos e talheres.
Por Carolina Rampi
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