Com obras sobre crianças refugiadas, artista da Capital quer mostrar as dores da guerra

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Muitas vezes, devido ao intenso fluxo de notícias no dia-a-dia, histórias passam por nós e não conseguimos dar a devida atenção, principalmente em casos que ocorrem tão longe do nosso país. Com essas características a artista plástica Eliana Gonçalves lança a mostra “As flores da Primavera Árabe: refugiados”, que faz parte da abertura da 3ª temporada de exposição de arte no MARCO (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul), que começa nesta terça-feira (06), à partir das 19 horas.

Trajetória

Eliana Gonçalves, natural de Paranaíba mas campo-grandense de coração, se formou como Artista Visual com habilitação em Artes Plásticas na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) em 2012. Nesse período ela já realizava exposições coletivas na universidade e em galerias de arte. Após a graduação a artista investiu ainda mais na carreira e iniciou um mestrado, período em que ficou afastada da carreira artística.

Em 2019, Eliana fez um curso intensivo de pintura de observação no Museu de Belas Artes de Boston, nos Estados Unidos. “Amo as artes e suas diversas modalidades como escultura, gravura, pintura entre outras”.

Obras

A exposição conta com 12 obras, retratando a situação de refugiados, principalmente de crianças sobreviventes dos conflitos do Oriente Médio. “Para esta exposição me dediquei a pintura com foco em retrato, usando as técnicas de tinta acrílica e giz pastel seco”, explica a artista.

A origem do tema é são as histórias de sofrimento dos refugiados, com foco nas expressões de dor de quem sobrevive as mazelas da guerra. “O tema da minha exposição teve seu início em 2018 quando, por meio de noticiários na internet, tive acesso as reportagens da Guerra na Síria e o movimento dos refugiados para outros países em condições extremas de risco de morte. Dentre esses refugiados e as consequências dos bombardeios haviam muitas crianças, o que me chamou muito a atenção”, relata.

Comovida pela situação, Eliana ainda buscou mais informações sobre o que ocorria nesses países. “Entendi que estava havendo um fenômeno que ficou conhecido como Primavera Árabe […] que teve seu início no final de 2010 na Tunísia, gerada por protestos contra o regime opressivo governamental. Os protestos na Tunísia foram o ponto de partida para protestos em países vizinhos como a Síria. Embora tenha seus pontos positivos, a história vai deixando rastros de perdas irreparáveis na sociedade e cada indivíduo que a compõe”.

A artista ainda conta que o objetivo das suas obras é aprofundar o assunto e fazer com que o público reflita sobre isso. “Me propus a ‘levar’ essas crianças para um local onde eles pudessem ser contempladas de um modo diferente que a mídia apresenta. Busco, ou tento estimular, o observador a exercitar o sentimento de empatia pela situação delas. O museu é um local que proporciona isso, pois paramos para ver ou enxergar algo com outro olhar, diferente dos noticiário, e há um leque de possibilidades de reflexão”, explica.

Ela defende que, mesmo com histórias semelhantes no passado, o mundo ainda não conseguiu se desenvolver sem os conflitos. “Percebemos, que nem todos aprendemos com os erros do passado, as duas Grandes Guerras e suas consequências miseráveis que são sentidas até hoje, não foram o suficientes para aqueles que detém o poder em suas mãos, de pensar em resolver as questões de forma diferente”.

Olhar dos mais vulneráveis 

A exposição, que leva o título de “A flores da Primavera Árabe: refugiados” é focado no olhar das crianças e adolescentes para a guerra, e o nome faz referencia a isso. “Porque me remeto as crianças e adolescentes que estão nascendo, crescendo e se desabrochando num campo ou em um terreno muito hostil”, diz a artista.

Para ela, todos os cidadãos que enfrentam uma guerra se tornam vulneráveis, mas as crianças são as que mais chamam a atenção. De acordo com a Acnur (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), cerca de metade dos refugiados do mundo são crianças.

Além de enfrentar perda da família, residência e pátria, 48% das crianças refugiadas em idade escolar estão fora da escola. Elas ainda estão vulneráveis a exploração, violência, negligência, tráfico, abusos e recrutamento militar, segundo pesquisa da Acnur.

“Aquelas que sobreviveram, muitas, além de toda perda teve que abandonar suas cidades e se deslocar para outras regiões do país, enquanto outras tiveram a necessidades de deixar seu próprio país para encontrar segurança. Isso nos leva a refletir sobre aqueles, não só os refugiados da Primavera Árabe, mas a todos os que estão em estado de refugio, que nosso papel é o acolhimento e não o olhar de discriminação sobre eles”, diz Eliana.

Com obras que colocam crianças em uma situação de realidade, a artista busca trazer o sentimento das vítimas da guerra. ” Sei que muitos esperam ver retratos de crianças felizes e alegres, mas isso não corresponderia a realidade deles, estão venho, enquanto artista, por meio de minha arte contribuir para que eles possam ser vistos com outro olhar em um local especial que é o museu”.

 

Com pinturas em tinta acrílica, giz pastel seco e papel, Eliana ainda consegue trazer outros sentimentos além da dor. “O gesto de amizade dessas crianças nos faz pensar  que a guerra pode destruir tudo a nossa volta, mas não pode destruir o que há de mais necessário no ser humano, os bons sentimentos , de amor, amizade solidariedade e esperança. Esse meninos estavam sentados em cima de escombros decorrentes do bombardeio”, explica.

 

 

 

Serviço

A 3ª temporada de exposições do MARCO começa nesta terça-feira (06) a partir das 19 horas, na rua Antônio Maria Coelho, Parque das Nações Indígenas, 6000. A entrada é gratuita.

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1 thoughts on “Com obras sobre crianças refugiadas, artista da Capital quer mostrar as dores da guerra”

  1. Elaine knoner Monteiro

    O trabalho da artista Eliana é fantástico, ela consegue transmitir através das suas obras os sentimentos mais profundos que um ser humano pode sentir e que com palavras e difícil dizer.
    Parabéns Eliana, seu trabalho é lindo!!!!

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