Com desejo de ‘furar a bolha’, quadrinhistas de MS lançam HQs com financiamento coletivo

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Foto: Letycia Thamara Nunes

Longe dos grandes centros urbanos, como São Paulo ou Curitiba, tradicionalmente associados à cultura contemporânea, o Mato Grosso do Sul surge no campo das Histórias em Quadrinhos, com os mais diversos temas, e traz luz a arte dos quadrinhos, mostrando que os ‘gibis’ vão muito além da Turma da Mônica.

Uma das histórias de destaque atualmente é a coletânea ‘Quebra Torto’. De autoria dos quadrinistas Anderson Barboza, Daniel Shaman, Fabio Quill, Grippho, Marina Duarte, Neiton Benite, o livro reúne seis histórias, de 20 páginas cada e de diversos gêneros.

Foto: Anderson é quadrinista referencial em Campo Grande/Letycia Nunes

“Na minha história, parti da seguinte ideia: e se o Saci agisse como um psicólogo de alguém? E até o nome da história é inusitado pela ideia inusitada. Conversando com o Fábio e com a Maiara, responsável pela revisão e preparação do livro, eles me deram algumas ideias para melhorar a história, para falar também sobre liberdade, pertencimento e sonhos”, disse o quadrinista Anderson Barbosa, também autor da história ‘Perfect Chesee”.

 

Também presente na coletânea com a história ‘Raya e o espiríto da Mata’, a jornalista e quadrinista Marina Duarte propõe uma narrativa feminina e que conversa com a questão ambiental.

Foto: Marina seguiu a linha mais feminista para falar sobre jornalismo em HQs/Letycia Nunes

“A minha história “Raya e o espirito da Mata”, parte de ‘e se no princípio a gente tivesse uma mata viva, permanecendo viva, porque uma sociedade de mulheres cultiva essa mata?’. Então eu falo muito sobre o feminino dentro dessa narrativa e sobre as energias masculinas e femininas no universo”, Destaca a jornalista.

Outro nome de destaque para os quadrinhos de Mato Grosso do Sul é do artista Fred Hildebrand. Durante a pandemia de Covid-19 o quadrinista criou a história ‘Spaceshit!’, explorando o cenário espacial com narrativa focada nos “relacionamentos familiares, empatia e superação”.

Inicialmente a história foi lançada em partes. Entretanto, nos dias 17, 18 e 19 de novembro, Fred lançará a versão completa, por meio de financiamento coletivo.

Fred é autor quadrinista da história’Spaceshit!/Letycia Nunes

“Recebi essa semana da gráfica e a história está em campanha de pré-venda no Catarse. Spaceshit é onde culminou minha carreira até agora; trabalho com quadrinhos desde 2009, lancei outro quadrinho de forma independente também no mesmo ano. Antes eu fazia quadrinhos com alguém escrevendo, desenvolvia ideias, mas não escrevia o roteiro, mas o Spaceshit se tornou quase um estudo sobre roteiro”, explica.

Ele ainda comenta que um dos maiores desejos é ‘furar a bolha’ e mostrar que o Mato Grosso do Sul também faz quadrinhos. “Porque às vezes parece que a gente tá separado do resto do Brasil, principalmente do sudeste e nordeste, que faz muito quadrinho”.

Dificuldades

Mas, viver da arte em geral não é tarefa fácil, e viver dos quadrinhos também não é tarefa fácil. “A gente vai no ‘se vira’, pede dinheiro. Para conseguir imprimir qualquer coisa hoje, temos que juntar dinheiro do nosso bolso ou pedimos dinheiro em financiamento coletivo. Também é possível por meio de financiamento público e edital, mas é mais difícil. Mas eu não consigo me sustentar com o lucro dos meus quadrinhos, apenas com contrato, trabalhando para outras pessoas”, relata Marina.

“É um desafio, porque o mercado ainda é pequeno, está se expandindo agora. A gente está fazendo um esforço para mostrar nosso trabalho e é um desafio tanto para nós quanto para aqueles que ainda querem desenvolver algo. Nós aqui, temos que seguir em frente, mostrar o nosso trabalho”, diz Anderson.

Fred também avalia que a falta de eventos voltados exclusivamente para os quadrinhos no Estado faz com que o interesse em HQs fique concentrado em nichos específicos. “Os jovens não têm tanto preconceito em ler o material nacional como quem está há mais tempo nos quadrinhos. Mas os quadrinhos continuam muito atrelados aos eventos geeks, não há eventos só para quadrinhos, então a internet está aliada nessa divulgação”.

Jornalismo em Quadrinhos

Outra área que prospera no Brasil é o Jornalismo em Quadrinhos e o destaque do país nasceu aqui em MS, com a Revista Badaró. Criada e nascida em solo sul-mato-grossense em 2019, ela é o primeiro veículo brasileiro voltado para a produção de jornalismo em quadrinhos. Este ano, a revista lançou suas primeiras edições impressas.

Foto: Norberto é um dos principais ilustradores da revista Badaró/Letycia Nunes

“Pensamos na época em fazer algo semelhante a revista Piauí, mas depois veio a ideia de fazer algo bem Jornalismo em Quadrinhos, pois não tinha nenhum veículo desse tipo aqui no Brasil”, explica Norberto Liberator, um dos diretores da revista.

“Também temos esse viés de que, quem é de fora do Estado saber o que está acontecendo aqui, e não de ser voltado somente para cá”.

Marina, que também é ilustradora e quadrinista da Revista Badaró, os quadrinhos conseguem tornar gráfico coisas as vezes não são suficiente serem apenas imaginadas. No jornalismo em quadrinhos conseguimos fazer essa abordagem, através dos quadrinhos temos uma infinidade de possibilidades. Mas é muito complexo trabalhar com os quadrinhos, trabalhar com texto e depois com imagem, ainda há muito preconceito com a narrativa.

 

 

Recepção

Marina ainda reitera que a receptividade do livro e dos quadrinhos em geral aqui no Estado está crescendo cada vez mais.

 

Foto: Acima na imagem, a revista em quadrinhos “Badaró” que faz referência ao jornalista “Líbero Badaró”, primeiro jornalista a morrer em decorrência da profissão/ Letycia Nunes

“Eu achei que seria algo bem recepcionado devido à carência de publicações de quadrinhos. Agora, a gente vê uma crescente cada vez maior de autores se colocando, passando em edital, lançando livro, se financiando, como o Fred e a Badaró. É uma luta para a cena dos quadrinhos se sobressair cada vez mais aqui no Mato Grosso do Sul. Estamos cada vez mais em uma linguagem mais emergente, tendo busca na cidade por ela, o pessoal comprando, se interessando em apoiar. Desde sempre eu estava acreditando muito no projeto”.

“A recepção foi muito boa, o livro fez um sucesso muito grande tanto no FLIB (Feira Literária de Bonito) quanto no Festival de inverno de Bonito”, destaca Anderson. Para ele, o gosto pelos quadrinhos não acabou, mas os leitores mudaram seus interesses.

“Não acabou o gosto que as pessoas tem pelos quadrinhos internacionais, mangás e Mauricio de Souza. Só que como o mercado cresceu, os leitores passaram a procurar outros tipos de histórias e o quadrinho nacional tem essa possibilidade. Ele traz histórias da nossa região, histórias das cidades. Fora do mercado americano, dos super-heróis, temos quadrinhos mais filosóficos, que exploram vários gêneros da literatura e que trazem sempre coisas novas”.

O livro ‘Quebra Torto pode ser adquirido por meio do Catarse, Hámor Livraria, Banca Elite ou até com os próprios autores. A Spaceshit também pode ser adquirida por meio do Catarse e a mais informações sobre a Revista Badaró pelo site https://www.revistabadaro.com.br/

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