Cinderela, Cinderela, noite e dia Cinderela…

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Bailarina de Três Lagoas conquista vaga em companhia na Romênia após formação na Escola Bolshoi 

Natural de Três Lagoas, Cecília Bassetto (21) fez a transição de seu “lago” natal para o grandioso “Lago dos Cisnes” da Europa, o berço do balé clássico. Desde os 4 anos, Cecília vem dançando pelo Brasil sobre suas ponteiras e agora brilha no cenário internacional, tendo conquistado uma vaga na Opera Națională Română din Timișoara, na Romênia.

A história de Cecília começa com uma pequena bailarina dando seus primeiros passos nas escolinhas Sesc Horto, Funlec e Isadora Ducan. Seu desempenho rapidamente se destacou durante apresentações e aulas, atraindo a atenção necessária para receber indicações para a renomada Escola Bolshoi. Cecília então participou de audições e foi selecionada para uma bolsa de estudos, ingressando na única sede da escola fora da Rússia, localizada na cidade de Joinville, em Santa Catarina.

O futuro da sua carreira seguiu o ritmo impecável de seus fouettés. Entre um giro e outro, a bailarina concluiu sua formação em 2020 sendo convidada a integrar a Curitiba Cia de Dança como bailarina principal. Em seguida, participou da temporada 2023–2024 da International Ballet Company of Moldova, na Espanha, percorrendo diversas cidades do país. Agora, Cecília se prepara para brilhar na Ópera de Timișoara. Além disso, teve a honra de receber aulas de Vladimir Vasiliev e de dançar na mesma peça que Ana Botafogo.

Carreira Internacional

Após a formação profissional, o foco da maioria das bailarinas é o mercado de trabalho, que inclui tanto companhias nacionais quanto internacionais. O caminho que uma bailarina depende muito dos seus objetivos pessoais. No caso de Cecília, ela explicou para a reportagem do Jornal O Estado que sempre houve o sonho de trabalhar internacionalmente.

“Por meio de conexões com bailarinos que já passaram pela minha escola e que estão atuando em companhias internacionais, tive acesso a oportunidades valiosas. Foi assim que recebi o convite para uma possível vaga na Opera din Timișoara. Então, viajei para lá para realizar a audição e explorar essa nova oportunidade”.

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No universo do ballet, a dinâmica de seleção entre bailarinos e companhias segue uma lógica específica. Não é o bailarino que decide qual companhia integrar, mas sim a companhia que decide se aceita ou não o bailarino.

Quando os bailarinos concluem sua formação e iniciam a busca por oportunidades profissionais, eles preparam e enviam material para diversas companhias de ballet. A escolha final, em muitos casos, recai sobre a companhia que oferece a vaga, tornando-se a opção escolhida pelos artistas.

“Acredito que será uma grande oportunidade tanto profissional quanto pessoal trabalhar nela. Almejo muito trilhar de pouco a pouco meu caminho dentro dela e quem sabe futuramente ser uma bailarina principal”, destacou Cecília sobre a Opera din Timișoara.

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Cecília já possui experiências internacionais significativas e já participou de audições no Uruguai e teve atuações profissionais nos Estados Unidos como; Flórida, Nova Iorque e Oklahoma. Essas experiências incluíram audições e aulas com companhias de renome mundial. Além disso, a bailarina é fluente em vários idiomas, incluindo russo, inglês e espanhol.

“Morar no exterior é um desafio emocional. Você precisa se tornar mais forte para lidar com a distância e a saudade. Sempre há a tentação de pensar que seria mais fácil estar perto da família, mas é um grande sonho, e é necessário enfrentar essas dificuldades para alcançá-lo”, afirmou Cecília.

Grand plié, Developpé 

O ballet teve origem na Europa no século XVI, inicialmente como entretenimento para a aristocracia renascentista. O primeiro espetáculo de ballet, realizado em 1581, durava mais de cinco horas e combinava falas, poesia, canto e orquestração. No século XIX, o ballet começou a se moldar como o conhecemos hoje, com maior ênfase nas bailarinas e na técnica de dança em pontas. Este período também viu o surgimento de ballets icônicos, como “Giselle” em 1841 e “La Bayadère” em 1877, que incluiu a primeira versão de “Lago dos Cisnes” de Tchaikovsky e “Cinderella” Op. 87.

“A Europa é o berço do balé clássico. Tenho um amigo que estudou música clássica na Áustria, e quando voltou, trouxe um conhecimento imenso. Tem muitos brasileiros bailarinos no exterior, inclusive na Romênia. É um ambiente que realmente agrega muito à formação de um artista”, destacou.

O pai de Cecília, Adalton Garcia, destaca que o trabalho da filha foi extremamente árduo, envolvendo mais de 15 horas de aulas e seis horas de ensaio diariamente, seja no teatro ou em casa. Esse ritmo intenso foi mantido ao longo de todo o período de sua formação, preparando-a adequadamente para seguir sua trajetória na dança.

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“A Cecília, por exemplo, é uma artista extremamente dedicada e humilde. Ela participou dos 50 anos de Brasília, um evento significativo no cenário cultural brasileiro. Essa experiência é um reflexo da importância e do amor que ela coloca em seu trabalho”, revelou Garcia.

A bailarina é madrinha do projeto social Basseto Ballet, criado em 2018, onde atende crianças de 3 a 15 anos, nos períodos matutino e vespertino, e não possui fins lucrativos. É cobrado apenas uma taxa de R$ 75,00 mensais para a manutenção do projeto.

“Sempre digo para minha filha retribuir o que recebeu e ela faz isso de coração. Quando ela começou como bolsista no Bolshoi, foi também o ano do lançamento da bolsa integral. Acredito que é importante realizar ações sociais, e um exemplo notável é o projeto Basseto Ballet, que atende 80 alunos e oferece aulas de balé para crianças que não podem pagar. Esse projeto é uma forma de retribuir o que se conquistou”, reafirmou Adalton.

Com o passar dos anos, Cecilia se construiu e fortaleceu através da arte do ballet. A disciplina, tanto física quanto mental, é essencial, na prática, representando o principal esforço necessário. A dor e o esforço são partes integrantes do processo de crescimento na dança e indispensáveis para o ballet.

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“Quando você vê aquelas meninas dançando, você sente a dedicação e o engajamento delas. É claro que para muitas delas, isso representa uma porta de entrada para um futuro melhor, seja em termos de desenvolvimento intelectual, artístico ou pessoal. A dança, a música e a arte em geral oferecem um conhecimento completo, aliado à disciplina”, reafirmou.

A prática no ballet é um processo contínuo e evolutivo ao longo dos anos. Após oito anos de formação no Bolshoi e dois anos atuando como bailarina profissional na companhia júnior, a disciplina exigida pela dança trouxe mudanças significativas na vida de Cecília. Ela aplicou essa disciplina em todos os aspectos de sua carreira. “Cecília, Cecília, noite e dia, Cecília…”. Encantando sua trajetória com a mesma magia de Cinderela.

Por Amanda Ferreira

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