A casa onde o poeta Manoel de Barros morou com sua família e viveu os últimos anos de vida será transformada em um museu, que será inaugurado neste domingo (25), às 19h, para convidados. O evento deve contar com a presença da atriz Elisa Lucinda e com a música do grupo El Trio Jazz, além de Maria Adélia Menegazzo.
O neto de Manoel de Barros, Silvestre Barros, conta que a ideia inicial veio de Lilian, uma irmã por parte de mãe, que não é neta do poeta. “Ela me deu essa ideia, na verdade não era nem um museu, no começo. A sugestão era que fosse um centro de cultura, alguma coisa dedicada a ele, algo do tipo, ela é professora de Português.” Inicialmente, ao compartilhar a ideia, houve certo desestímulo, o que mudou com uma ligação de Pedro Spíndola.
Silvestre afirma que há muitas expectativas em relação a isso. “As expectativas são as mais altas, né? A gente sabe que o nome do Manoel é muito feroz, só precisava de um pontapé inicial. […] A expectativa é que esse projeto – que está só no começo – se estenda e a gente consiga cada vez mais apoio e patrocínio, para melhorar a casa, abrir para mais pessoas, e melhorar cada vez mais o projeto.”
Dividindo o mundo
Sobre dividir algo tão particular, como a casa onde cresceu, Silvestre tem um misto de sentimentos.
“Olha, você sabe que dividir com outras pessoas essa casa vai ser uma coisa bem incomum, né? Porque a gente não abre as portas da casa da gente para as pessoas estranhas, mas, nesse caso, é a casa que era do Manoel, que pouca gente conhece e que eu achei muito egoísmo da minha parte manter isso só para mim, apesar de eu ter sido nascido e crescido lá dentro.
As pessoas terem acesso ao mundo ‘Manoelesco’, mundo da pessoa Manoel, não o Manoel lúdico, não o Manoel poeta, mas o Manoel homem, eu acho que seria muito interessante, eu acho muito bom, porque vai manter a casa onde cresci do jeito que sempre foi.”
Ele ainda conta que o Manoel avô não era tão diferente dos outros: “É um avô que mimava os netos todos, que tinha muita alegria em receber todo mundo, dava bons conselhos, bons puxões de orelha… Víamos muito futebol juntos, ele era botafoguense, eu sou Flamengo, então a gente se chateava um ao outro quando tinha Botafogo x Flamengo. Mas era um avô comum, primeiro eu levo em consideração o ‘vô’ Manoel, depois essa figura lúdica”.
Espaço de cultura
Segundo o diretor-presidente da Fundação Nelito Câmara, Ricardo Pieretti Câmara, “a ideia de criar a casa e o museu veio do contato do Silvestre Barros e do jornalista Pedro Spíndola, para fazermos um projeto e oferecer para o Estado ou alguma grande empresa que quisesse ser mantenedora desse espaço. O Silvestre é neto de Manoel e herdou a casa, e ele sempre quis que a casa se tornasse um espaço, um polo cultural”.
A criação do museu, de acordo com Ricardo, tem um objetivo: “A ideia é que seja um lugar para manter a memória do homem Manoel de Barros, assim como o de sua esposa, Stella Barros, e também criar dinâmicas da obra, para que sempre esteja viva, principalmente como patrimônio sul-mato-grossense, um espaço para releituras, estudos e pesquisa da obra do Manoel”.
Ele ainda nos relata que “a expectativa de abertura da casa é de que a gente sinta essa presença do Manoel, a casa tem a aura dele, da dona Stella, então, todos que têm visitado a casa, antes mesmo de ficar pronta, se emocionam muito. Eu acho que vai ser um momento de celebrar essa sorte que nós tivemos de ter esse poeta tão especial morando nessa cidade por tanto tempo e tendo em sua residência os momentos de criação de sua obra, que é referência mundial”.
O projeto prevê a visitação da casa, com enfoque a objetos pessoais, escritos e acervo geral do poeta, além de espaço de pesquisa, já que a ideia é reunir no local, também, trabalhos que tenham sido feitos por pesquisadores a respeito de Manoel de Barros. Além disso, pelo menos uma vez ao mês, a ideia é promover eventos culturais, de acordo com Ricardo.
Para o jornalista Pedro Spíndola, a ideia é manter viva a memória do poeta. “Eu frequentei a casa dele durante 35 anos e durante 10 anos nós caminhamos juntos, e eu sempre pensava que aquela casa, com o falecimento dele, deveria ser transformada num museu.”
Entretanto, Spíndola guardou a ideia para si, até que, no ano passado, o neto de Manoel, Silvestre Barros, expressou o desejo de criar um museu. “Mais dia, menos dia, vai ser o Museu Casa Manoel de Barros, Museu Manoel de Barros, vamos trabalhar para isso acontecer e, enquanto isso não acontece, vamos fazer essas ações menos vultosas, mas para manter acesa a chama de se homenagear o poeta”, afirma.
Fundação Nelito Câmara
A Fundação Nelito Câmara é uma ONG de Ivinhema, criada em 2004, tem Manoel de Barros como uma das inspirações e atendimentos voltados a crianças, adolescentes e jovens, promovendo a formação e a inclusão cultural, por meio de oficinas, eventos, e outras atividades em cidades como Ivinhema, Douradina, Jardim, Dourados e, mais recentemente, em Campo Grande, por meio de um festival de música de câmara.
Na próxima semana, será aberta a venda de ingressos por meio da plataforma Sympla, ao preço de R$ 35, para visitações a partir do dia 20 de outubro.
A Casa Quintal de Manoel de Barros fica na Rua Piratininga, 363, Jardim dos Estados, na Capital.
Alvo de vandalismo, escultura permanece sem um pé
Campo Grande tem, ainda, uma escultura do poeta na Avenida Afonso Pena, disposta no canteiro central. Instalada em dezembro de 2017, em homenagem aos 101 anos de nascimento do poeta e escritor símbolo do Estado, a peça tornou-se ponto turístico para quem quer tirar fotos ao lado do poeta. Criada pelo artista plástico Ique Woitschach, a escultura sofreu um ato de vandalismo em abril de 2021, quando um pé de Manoel de Barros foi roubado.
Conforme o titular da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), Max Freitas, declarou ao jornal O Estado em agosto, a estátua de Manoel de Barros, que fica na Avenida Afonso Pena, deve passar em breve por um reparo, já que um dos pés da escultura foi roubado recentemente.
“A estátua do Manoel é de responsabilidade da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) e, assim que o Estado fizer o pagamento equivalente ao do pé da estátua, faremos o reparo e, posteriormente, vamos melhorar, também a iluminação do local.”
Até o momento, a estátua ainda não passou pelo reparo mencionado.
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado
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