Há nove anos grupo de capoeira promove ensino, esporte, cultura, arte e música, aliado a sustentabilidade
A combinação de preservação da memória cultural, sustentabilidade, e prática esportiva de capoeira são os pilares do projeto ‘Capoeira, Cultura e Memória’, idealizado de forma inovadora pela professora e capoeirista, Priscila Coutinho, do grupo Memória Capoeira.
O projeto realiza diversas oficinas e eventos ao longo do ano em Campo Grande, com o objetivo de engajar a comunidade local, promover a inclusão social e o fortalecimento do conhecimento cultural entre crianças, jovens e adultos à cerca da capoeira.
Professora de capoeira e idealizadora do projeto, Coutinho relata que a motivação para a criação da iniciativa foi na mudança de corda na capoeira [espécie de avanço de etapa], onde começou a ministrar aulas de capoeira na própria comunidade. “Vi na capoeira não apenas uma luta ou jogo, mas uma ferramenta pedagógica rica, capaz de romper barreiras e limitações, agregando benefícios físicos, sociais, psicológicos e cognitivos. Por meio do método ‘Vem pra Roda, Vem Brincar’, buscamos resgatar movimentos naturais e promover o desenvolvimento integral das crianças, num contexto lúdico e inclusivo”.
Para Coutinho, a capoeira é um território inclusivo, que celebra a diversidade e promove o respeito mútuo. “A capoeira é puramente inclusiva. Todos são iguais, se cumprimentam no início e no fim do jogo, e essa interação é fundamental. Nosso objetivo é desmistificar preconceitos e mostrar que a capoeira pode ser uma grande brincadeira educativa e transformadora”, explicou.
“A capoeira possui várias vertentes que o profissional pode trabalhar e possui temas transversais, como autocuidado, preservação, respeito, ética e cidadania. Eu vi a oportunidade de não se trabalhar somente a roda de capoeira enquanto jogo, enquanto luta, mas colocar valores e princípios da cidadania dentro das aulas de capoeira que eu ministro. A consciência ecológica, o meio ambiente, a importância do aluno no meio ambiente aonde ele reside e o comprometimento com a sustentabilidade, a natureza. E foi quando eu consegui unir esse tema dentro da capoeira”, contou a professora em entrevista ao jornal O Estado.
Inovação
Um dos destaques do projeto é o uso de materiais sustentáveis durante as oficinas, o que promove uma maior conscientização ambiental e desenvolvimento da criatividade. A artista sonora e professora de percussão, Mariana Cabral, ministra oficinas de percussão sustentável e enfatiza que a prática é uma forma de reciclar e ressignificar materiais, transformando itens que seriam descartados em instrumentos. “Isso não só desenvolve a criatividades das crianças, mas também promove a consciência ambiental e a inclusão social. A sustentabilidade é uma linguagem que ajuda no desenvolvimento criativo e educacional”.
Para Coutinho, o uso de ferramentas e materiais diversos agregam valor a aulas para jovens, mas a questão financeira impedia que ela adquirisse itens.
“Eu vi nos resíduos sólidos que a gente poderia adaptar. Comecei a utilizar nas aulas a garrafa pet, cabo de vassoura, pneus, latas, caixas e o negócio deu certo. Aí comecei a dar vida, dar cor nesses objetos, construir outros. Percebi que isso entra muito no mundo lúdico da criança, isso chama atenção e foi assim que eu comecei a utilizar dentro das aulas de capoeira. E hoje se tornou um carro-chefe nosso lá”. Os resíduos são levados pelos participantes, o que a professora acredita que além de desenvolver um senso de comunidade em crianças e jovens, também une e educa famílias e comunidades.
Com participação significativa das comunidades locais, o projeto segue com oficinas e eventos ao longo de todo ano. Em novembro, será realizado um grande evento, com a participação de mestres renomados de capoeira, como o Mestre Celso de Carvalho e o Mestre Jagunço, que irão compartilhar suas experiências e conhecimentos.
“Ter a presença de mestres como Celso de Carvalho é fundamental para a valorização da nossa cultura e história. Esses encontros fortalecem a capoeira e promovem um aprendizado contínuo tanto para os praticantes, quanto para a comunidade”, destacou Coutinho.
O projeto “Capoeira, Cultura e Memória” é uma iniciativa que celebra a tradição, promove a inclusão, sustentabilidade, a consciência ambiental, transformando vidas e fortalecendo a comunidade por meio da capoeira e da cultura. Ele foi contemplado pelo FIC (Fundo de Investimentos Culturais), edital desenvolvido pela FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), por meio do Governo do Estado.
Além da oficina de percussão, neste mês ainda haverá Cine Memória – classificação livre – filme em animação; 8° Troca de Graduação Escola de Capoeira Grupo Memória.
Nos 5 primeiro meses deste ano já aconteceram Cine Memória, workshop sabão sustentável com artesão, oficina de trançagem de caxixi com garrafas Pet, oficina de Capoeira Angola Mestre Denilson, de São Paulo, 1° Piquenique Brincantes, entre diversas outras ações. No decorrer do ano ainda haverá muitas outras ações do projeto “Capoeira, Cultura e Memória”.
Mais informações sobre o projeto pelo instagram.com/pindorama.memoriacapoeira/ A sede do grupo Memória Capoeira fica na rua Barão de Campinas, 1944, Jardim das Mansões.
História
A trajetória do Grupo Memória Capoeira em Campo Grande iniciou-se em 2015 e desde então desenvolve um trabalho que integra o ensino da capoeira com outras áreas de conhecimentos, como o esporte, cultura, arte e a música, dentre outras vertentes. Realiza curso de formação continuada de capoeira, oficinas, encontros, eventos e este mês haverá a 8° edição de Troca de Graduação.
Atualmente o grupo é composto por 25 integrantes e possui um repertório que se destaca pela diversidade composto por roda de capoeira tradicional, a expressão da dança do Maculelê, a encenação da “Puxada de rede” – manifestação tradicional e popular do folclore brasileiro nas aberturas das rodas de capoeira -, dando uma característica artística diferenciada das demais rodas.
“Nós temos no Brasil uma manifestação cultural que se chama puxada de rede. E a puxada de rede tinha praticamente caído no esquecimento da população, porque hoje ela se tornou uma apresentação cultural, uma manifestação cultural, folclórica. E eu consegui readaptar a história da puxada de rede com a preservação do meio ambiente. E é um dos temas culturais que a gente leva para os palcos e fala muito sobre a consciência ecológica e a sustentabilidade”, finaliza Coutinho.
Por Carolina Rampi
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