Campo-grandense lança mangá ‘Spaceshit’ e fomenta debate sobre criadores de quadrinhos no Mato Grosso do Sul
Num cenário espacial, acompanhamos as aventuras da destemida Luiza, uma jovem que anseia em tornar-se uma caçadora de recompensas pelo universo. Junto com o seu tio Bigode, que teme pela vida da sobrinha repleta de sonhos arriscados e corajosos, a protagonista sai à “caça” de seu sonho e envolve os leitores em uma jornada cheia de conflitos e muita diversão. A aventura da obstinada Luiza é a trama do mangá “Spaceshit”, primeiro lançamento autoral do campo-grandense Fred Hildebrand, que já conquistou fãs nas plataformas digitais de quadrinhos. O lançamento oficial do mangá será realizado no Festival do Japão, que acontece na Associação Nipo, nesta sexta-feira (17).
“Spaceshit” é um projeto elaborado e desenvolvido em 2020, durante a pandemia de covid-19. A aventura foi idealizada a princípio para ser uma webcomic (quadrinho digital), mas, no decorrer desses anos, ganhou quatro capítulos que fecham a primeira da saga da protagonista. Conforme explica o artista visual e professor de mangá há mais 18 anos, Fred Hildebrand, a jovem aventureira nasce a partir de uma troca de ensino e aprendizagem, momento que incitou profunda inspiração no autor, que, agora, retribui com uma história cuja principal mensagem é sonhar e realizar sonhos.
“Foi durante uma aula demonstrativa de criação de personagens, que ministrei em 2018, durante o meu curso de mangá. Pedi aos alunos que me falassem uma ideia, que eu iria juntar todas e a partir disso criar o visual de uma personagem para ensiná-los alguns caminhos legais durante esse processo. Assim nasceu os primeiros desenhos da personagem Luiza. Eu achei que o resultado foi tão bacana, que depois da aula voltei a desenhar a personagem, ajustando algumas coisas e aprimorando as características e pensei, ‘acho que pode sair alguma história daqui’. Assim foi surgindo o ‘Spaceshit’, uma aventura que fala sobre sonhar e buscar a realização desses sonhos, independente das dificuldades, mas sabendo que durante essa jornada podemos contar com familiares e amigos”, disse o autor.
Com uma trama cheia de aventura, emoção e humor, o mangá foi tão bem acolhido pelo público que conta com mais de 11 mil de views nas plataformas digitais de quadrinhos, como a Fliptru e Funktoon, além de conquistar diversos comentários positivos. Em 2022, a história deixou as plataformas digitais e transformou-se em um volume de bolso que, em exposição em eventos e feiras, angariou mais de 250 cópias vendidas. Em dias atuais, com um arco completo e após uma campanha no Catarse, a HQ é lançada com aquele ar único que só os quadrinhos físicos possuem. Conquistando uma quantidade de apoio inesperada com o Catarse, segundo o autor, Fred ainda comenta sobre curiosidades do processo criativo.
“A campanha visa pagar os custos de produção da impressão e envio para os apoiadores. Foi uma campanha muito bacana, conseguimos 140 apoiadores e chegamos a 83% da meta em 30 dias, para mim, uma vitória. Quanto ao processo criativo, não existe uma fórmula 100% correta, mas no caso de ‘Spaceshit’ eu estava buscando aprender mais sobre roteiro e escrever histórias, então parti de pontos básicos, como: Quem são essas personagens? O que elas querem? Onde estão no universo? Outro ponto do processo é que as personalidades dos personagens também têm um pouco de mim, uma qualidade e um defeito (risos).
A Luiza representa a minha parte mais sonhadora, no caso dela, para se tornar uma caçadora de recompensas, para mim, ser um quadrinista. Então eu tento exagerar essas características, para poder trabalhar durante as aventuras, que carregam muito humor. Essa é uma proposta que começa desde o título, já que fiz uma brincadeira com a palavra ‘spaceship’ (nave espacial) e a palavra ‘shit’ que traz um contexto inesperado e surpresa, tanto para os leitores quanto para os próprios personagens”, detalha Fred.
Quadrinhos no MS
No Mato Grosso do Sul, o cenário dos quadrinhos continua em crescimento, contrastando com regiões como Sudeste e Nordeste, onde a arte é mais reconhecida. Apesar de não ser uma arte tradicional na região, contudo, no MS há excelentes projetos com estilos e temas diversos, como, por exemplo, a revista “Badaró”, formada em 2019 na Capital, sendo o primeiro veículo brasileiro focado na produção de jornalismo em quadrinhos.
No entanto, os profissionais dessa área ainda enfrentam o desafio de não serem vistos apenas como uma forma de leitura infantil ou restritos a super-heróis e séries populares. Conforme o quadrinista e designer gráfico Anderson Barboza, nos últimos anos, houve um crescimento significativo no cenário dos quadrinhos no Mato Grosso do Sul, principalmente no que diz respeito ao mercado mais alternativo.
“Existem excelentes quadrinistas no MS, cada um com estilo, traços e temáticas diferentes. No entanto, ainda é uma mídia em crescimento por aqui. Também enfrentamos um certo preconceito onde literatura escrita é reconhecida como uma arte maior e os quadrinhos como uma forma de leitura infantil. Mas existe todo um mercado alternativo e como a mídia é crescente e, hoje, e a cultura pop engloba uma parte grande do mercado, novos leitores estão surgindo e se voltando para os quadrinhos independentes”, argumenta Anderson.
Incentivos
Desde 1997, o Rumos Itaú Cultural promove ações artísticas e culturais, permitindo que artistas e pesquisadores tirem seus projetos do papel e fomentem a cultura pelo país. Dentre os projetos aprovados pelo Rumos, a coletânea de história em quadrinhos “Quebra Torto”, escrita por autores e quadrinistas sul-mato-grossenses, incluindo Anderson Barboza, foi um dos projetos selecionados no edital. Quanto ao âmbito regional, a storyboarder e quadrinista Milena Zarate destaca que iniciativas governamentais ou institucionais que promovam a produção e o consumo de quadrinhos no Estado precisam ser mais ativas.
“Infelizmente, tanto no âmbito estadual quanto no municipal, não há um apoio específico para a produção de histórias em quadrinhos. Geralmente, nos editais do poder público, é necessário submeter projetos sob as categorias de literatura ou artes visuais, refletindo um problema de escala nacional, visto que poucos locais no Brasil possuem iniciativas assim. No entanto, a procura por cursos e oficinas é significativa, especialmente durante os períodos de férias escolares. Geralmente, encontram-se aulas de mangá oferecidas no MARCO e em eventos da Fundação de Cultura. Já tive a oportunidade de ministrar uma oficina de HQs no Festival América do Sul, com turmas em Corumbá e Ladário”, conclui a quadrinista.
Ficou curioso para saber qual será o destino de Luiza? O festival do Japão acontecerá na Associação Nipo, localizada na Av. Ministro João Arinos, 140, Jardim Veraneio. Para conhecer mais sobre o trabalho dos quadrinistas, acesse O Estado Play no YouTube e confira o vídeo Entrevistando – Quadrinistas.
Por – Ana Cavalcante
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