Campo Grande celebra a música com lançamento da Confraria do Choro de Mato Grosso do Sul

O grupo Som que Chora, formado por adolescentes, é uma das atrações do encontro - Foto: Divulgação
O grupo Som que Chora, formado por adolescentes, é uma das atrações do encontro - Foto: Divulgação

Retorno da Confraria é um marco para o gênero após o tombamento como Patrimônio Imaterial

 

Neste sábado (31), a partir das 12h, Campo Grande se torna palco de um importante marco para a música brasileira: o Encontro de Chorões e Choronas do Mato Grosso do Sul. O evento, realizado no Escritório Bar Cultural, marcará o lançamento oficial da Confraria do Choro do MS, com participação do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O Escritório Bar Cultural é um espaço já consagrado como reduto artístico da Capital, que agora se torna base oficial dos encontros semanais da Confraria, todos os sábados. A programação do dia reunirá músicos atuantes no movimento do Choro em Mato Grosso do Sul e contará com apresentações especiais dos grupos: Quinteto Virgisanta, Som Que Chora, Samba Choro, Bibi do Cavaco, além de uma grande roda de choro com os chorões presentes.O evento também tem apoio do Oba Brasil MS.

Conforme o superintendente do IPHAN/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), João Santos, a reativação ou criação de uma Confraria do Choro no Estado abre uma instância para o diálogo com o poder público. “A partir do momento que eles se organizam em um coletivo que tem por objetivo a promoção, salvaguarda, reconhecimento, ou a prática do choro em Mato Grosso do Sul, isso é muito louvável. E o IPHAN é parceiro nessas ações, principalmente sabendo que o choro não é uma tradição em Mato Grosso do Sul, que é muito incipiente e que se trata de um gênero musical que mesmo nascendo popularmente, ainda se faz presente em uma perspectiva erudita, não popular, ou algo que não é apreciado enquanto uma cultura de massa”.

Patrimônio

O choro foi oficialmente tombado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 29 de fevereiro 2024, pelo IPHAN, um marco significativo na história do ritmo. A decisão foi fundamentada na importância histórica, artística e social do choro, reconhecendo sua contribuição para a identidade cultural do Brasil. A iniciativa celebra e fortalece a presença do Choro na cena cultural regional, valorizando o gênero. O Escritório Bar Cultural, parceiro do projeto, reafirma seu papel na promoção das artes, apoiando não apenas a música, mas também o grafite, as artes plásticas, a poesia e, agora, o Choro.

A partir de 2025, grupos de choro procuraram o IPHAN em busca de apoio institucional, relata o superintendente. O instituto agora inicia um processo de salvaguarda com ações a curto, médio e longo prazo, com expectativa de apoio financeiro para ações específicas nas áreas da educação, transmissão e encontros e editais próprios. “Temos uma possibilidade de ações em conjunto com os chorões e choronas de Mato Grosso do Sul na promoção desse gênero musical que é tão brasileiro, e que agora também estamos dando o pontapé inicial nesse processo de salvaguarda junto aos detentores”, destacou Santos.

Ele ainda reforça que o choro é um gênero que precisa de mais reconhecimento e popularização, logo, a criação de espaços é uma forma de regionalizar o som. “A gente sabe que a música popular brasileira em si necessita de apoio, espaço, formação de público, de plateia. O trabalho do IPHAN é promover e assegurar que a prática do gênero musical seja difundida, tenha espaços e que merece respeito, assim como qualquer outro gênero musical”.

Criação

O lançamento da Confraria do Choro do MS representa mais do que um evento: é a consolidação de um novo ponto de referência cultural em Campo Grande e um convite à comunidade para se conectar com a riqueza do Choro brasileiro.

A criação da Confraria do Choro do Mato Grosso do Sul representa um passo importante para a preservação e transmissão do gênero como patrimônio cultural. Para o IPHAN, iniciativas como essa fortalecem a continuidade do Choro, especialmente ao promover o encontro entre gerações. “Com certeza, a criação de confrarias, de rodas, de encontros, fortalece a transmissão. Nesse encontro mesmo, já fiquei sabendo que teremos a presença de muitos jovens, se aproximando e se apropriando do gênero musical”, destaca a instituição.

Segundo o IPHAN, os encontros presenciais são fundamentais para garantir que o saber não se perca. “Saber que Campo Grande agora tem um espaço físico regular para os chorões e choronas é motivo de alegria e muita festa”, reforça. Além de celebrar o gênero, a confraria marca também o início de um processo de salvaguarda com estratégias de curto e longo prazo, buscando viabilizar os encontros e valorizar a cultura. “Tenho certeza que estamos fazendo história. É uma vitória geracional, que prova que o gênero não morreu, que está muito longe de desaparecer”, conclui a Santos.

Um grupo da cena do Choro em Campo Grande é o Virgisanta, que possui cinco integrantes, Maria Claudia, Marcos Mendes, Laís Fujiyama, Higor Rinaldi e Cambará. O quinteto reside na missão de resgatar as letras dos choros, muitas vezes desconhecidas e esquecidas pelo público. Ao jornal O Estado, Marcos explica que a Confraria do Choro já existia na década de 2000, na Vila Alba e que agora haverá o retorno institucionalizado com o a presença do IPHAN.

“Nós vamos retomar a Confraria do Choro, que já existia na década de 2000, lá na Vila Alba. Agora ela vai ficar sediada no Escritório Bar Cultural e, a partir de sábado, teremos roda de choro lá todos os sábados. Isso já estava acontecendo, só que não de uma forma oficial como confraria. E agora a gente vai institucionalizar com o aval do IPHAN esse ponto de choro em Campo Grande e no Estado, uma referência. A ideia é agregar todos os chorões e choronas do Mato Grosso do Sul, catalogar esses profissionais e começar uma ação de resguardo e de resgate do choro, que é nosso patrimônio imaterial brasileiro”, afirma. Marcos também destaca que o show de lançamento contará com o Quinteto Virgisanta, além dos grupos Samba Choro, formado por remanescentes da Gema do Homem, e Som Que Chora, composto por adolescentes. “Isso também é muito importante para os chorões, para o choro no Estado — ter pessoas novas curtindo e cultuando o choro. Isso ajuda muito na preservação. A gente tem visto que nas apresentações do Virgisanta tem aparecido muitas pessoas jovens, então isso é muito importante. Faz com que a gente tenha ânimo para continuar essa luta de preservação e resgate do chorinho”, completa.

 

Por Carolina Rampi

 

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