Cantor Toni Garrido lança primeiro álbum solo e fala ao jornal O Estado Free sobre os quase 40 anos de carreira
O cantor, compositor, instrumentista e ator Toni Garrido é nome mais do que conhecido em todo o Brasil, com sua voz leve e fluida de contratenor desde 1986, quando foi formada a banda Cidade Negra, da qual é também vocalista, e agora lança seu primeiro álbum solo, intitulado “Baile Free”, com a música de trabalho “Vai”, que mistura elementos de música eletrônica com soul, sem deixar para trás uma sonoridade característica de trabalhos anteriores do artista, que cativou e continua cativando muitos fãs em todo o país.
Quando pergunto a Toni sobre o balanço que ele faz da sua trajetória, a resposta vem descontraída e bem-humorada, mas emotiva. “O balanço que eu faço da minha trajetória desde o início até hoje, Méri – talvez seja a pergunta mais difícil da minha vida –, porque você está me pedindo para fazer um balanço da minha vida, e o que eu posso fazer agora, para não ficar muito traumatizado (risos), é dizer que é uma trajetória que está sendo muito curtida, muito deliciada. Eu tenho muita gratidão por tudo o que está acontecendo, este ano eu estou fazendo 40 anos fazendo música, então, é só gratidão, mesmo.”
Sobre o novo momento, com carreira e álbum solo, Toni deixa escapar que se apraz do fato de, décadas depois de ter começado, ainda perceber entusiasmo em sua caminhada. “É um momento muito especial, porque eu, 40 anos depois, começo uma carreira pessoal de verdade. A minha empreitada pessoal sempre existiu, que é a minha batalha nos lugares de música que eu me sinto à vontade, descobrir uma banda que eu fique à vontade. Então é muito delicioso olhar para esse tempo e ver que, opa!, temos força, temos gás, temos vontade, temos viço na pele, questão de energia, ‘libido’, que é o tesão de estar vivo, fazendo as coisas de verdade.”
O artista segue, falando sobre seu novo trabalho, as influências e nuanças presentes nele. “Agora esse momento do ‘Vai’, é o momento do ‘Baile Free’, onde eu estou me divertindo numa pesquisa muito – ao mesmo tempo que é responsável – é muito boa, muito gostosa, que é misturando a soul music, que é uma coisa que eu gosto muito, me sinto muito à vontade, com algo que eu não conheço, mas que eu gosto muito, que eu mergulhei nesses três anos, para poder entender e fazer minhas escolhas, minhas misturas.”
Ele complementa, falando ainda sobre o que o move em relação a esta nova etapa da vida e da carreira. “Eu não queria pegar um resultado pronto. A graça, o frio na barriga é achar um tom, achar vários tons, achar uma nova mistura, a minha mistura, ou achar a mistura daquele momento, não ficar copiando a referência. Nunca fui assim, e não seria assim agora. Então, se eu tenho a oportunidade de me divertir com essa alquimia, com essa maluquice que é fazer música deliciosa, que tem liberdade como ingrediente principal, eu não vou me privar disso”, assevera.
Sobre o single “Vai” e o álbum “Baile Free”, Garrido explica que não há como dissociar as duas principais influências do trabalho. “‘Vai’ é isso, é um lançamento de um álbum, o “Baile Free’, que é focado em black music e eletrônica, como se isso fosse um binômio separado. Na realidade, a black music já usa eletrônica desde que a eletrônica começou a ser usada nos anos 40 e 50, né? Eletrônica foi criada lá atrás, por aqueles malucos que usavam de outra forma, em outro tipo de música, inclusive, na música clássica tem elementos eletrônicos ali, já. Enfim, eu tô bem feliz e tem uma sequência linda de coisas para acontecer.”
Identidade musical
Quando perguntado sobre a própria identidade musical, Toni discorre sobre o livre trânsito que sua musicalidade lhe permite e proporciona, citando suas participações com outros artistas representantes de gêneros distintos. “Talvez a minha identidade musical, se você for parar para ver bem, seja uma identidade musical super irrequieta e mutante, quer dizer, eu gravo com os Titãs e com a Dona Ivone Lara com a mesma facilidade, ou com a mesma vontade, com o mesmo amor, com o mesmo entendimento de que eu estou à vontade dentro daqueles universos musicais. Agora eu tenho a minha banda, que é o Cidade Negra, mas tenho um show de bossa nova, que eu faço pelo mundo, com orquestra, tenho o ‘Baile Free’, que é eletrônica com black, tenho voz e violão, enfim, são muitos universos.”
Para o multiartista, seu trabalho não envolve apenas a voz. Toni comenta que sua vivência profissional e artística abrange muito mais do que a voz. “Eu tenho critérios, mas como intérprete, que é uma coisa muito importante para explicar tudo isso, mais do que tudo o que me leva, que me faz estar aqui conversando com você hoje, é o fato de eu usar meu corpo e minha voz para fazer meu trabalho, ou seja, ‘você é o quê? Cantor, compositor, instrumentista?’, não, eu sou intérprete, é o que eu realmente me dedico a organizar, centralizar minha vida. Quando eu vou fazer um filme, ou uma novela, eu estou fazendo esse mesmo trabalho, usando elementos diferentes do meu corpo, porque eu preciso do meu corpo para trabalhar”, explica.
Sobre a apresentação em Campo Grande, o cantor deixa claro que a importância do público é muito grande. “O destaque do público, o carinho do público é porque o público é amor, cara, e todo mundo é brasileiro. Você paga imposto em Campo Grande, eu pago imposto no Rio, no fim das contas a gente se equivale, e eu pago imposto para, quando você vir ao Rio de Janeiro, você se sentir a filha que você é, e você paga imposto aí para quando eu for aí, eu ter qualidade, você não ter vergonha de apresentar sua cidade para mim porque ela é saneada, porque ela é carinhosa. Eu acho que o público é bom, o público é carinhoso, vai muito além de uma música só, a gente precisa de expressão musical”.
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS.
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