Em entrevista ao jornal O Estado, André Frateschi compartilha histórias sobre a Legião Urbana e revela ser um legionário
Propondo aos fãs da aclamada Legião Urbana um show inesquecível, os músicos Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, ex- integrantes da icônica banda, preparam-se para uma apresentação nostálgica em Campo Grande. O show, intitulado “As V Estações” acontecerá neste sábado (21), a partir das 22h, no espaço de shows do shopping Bosque dos Ipês. Em entrevista ao jornal O Estado, o vocalista André Frateschi compartilha sua experiência com a turnê e conexão com a obra da banda de Brasília, afamada por suas letras atemporais.
Com um repertório repleto de clássicos, como “Meninos e Meninas” e “Pais e Filhos”, esta única apresentação dos artistas na Capital promete transportar os fãs da Legião Urbana aos anos 80 e 90. Não apenas pela relevância dos álbuns que foram lançados nesses respectivos períodos, “As Quatro Estações” e “V” – os quais serão celebrados e completam mais de três décadas – mas também por coincidir com o mês da morte de Renato Russo, falecido em 1996 no dia 11 de outubro, há quase 30 anos. Para o ator e vocalista André Frateschi, realizar um show na Capital é a realização de uma expectativa que, conforme comenta o cantor, será concretizada com uma turnê especial para a banda. André ainda revela ser um legionário de carteirinha.
“Esta turnê é diferente das outras que já fizemos e acredito que seja a melhor das três turnês que já realizamos até agora, e isso tem sido confirmado pela resposta do público. Estamos muito ansiosos para trazer esse show para Campo Grande e ver a reação dos legionários. Ah, e quanto a mim? Eu sou Legião de coração. Comecei a curtir a Legião quando tinha onze anos. Assisti a um show deles em 1985 e foi uma experiência que mudou minha vida e me fez perceber o que eu gostaria de ser. E olha só, a vida deu voltas, e agora, mais de 30 anos depois, estou com eles”, declara Frateschi
Na atual turnê, um aspecto notável de diferença se destaca em relação aos shows anteriores. Nas turnês precedentes, o foco era na interpretação integral dos álbuns, com a adição de alguns dos sucessos consagrados da banda. No entanto, dessa vez, a abordagem escolhida traz uma mudança significativa, introduzindo uma narrativa mais elaborada e esperançosa. André destaca que o sentimento que o espetáculo reflete é de retomada.
“A montagem do show incorpora elementos de dramaturgia, o que faz com que ele conte uma história. Portanto, é uma experiência mais completa para quem está assistindo. Essa escolha tem uma feliz coincidência, pois os dois álbuns que estamos tocando agora têm uma pegada mais esperançosa e espiritual, o que se alinha com o momento de renovação que o Brasil está vivendo. Após a pandemia e um governo que não priorizava a cultura, agora temos a oportunidade de vivenciar novos momentos e acredito que a turnê também reflete isso, de alguma maneira”, explica.
O vocalista ainda compartilhou sua perspectiva sobre a significância desses dois álbuns e também mencionou o impacto do incidente no Mané Garrincha e como, após esse episódio, trouxe novas perspectivas para a banda e para o vocalista Renato Russo. Ele também enfatizou que essa busca por sentido na vida é uma experiência compartilhada por muitas pessoas e os álbuns capturam essas questões universais, o que torna o trabalho da Legião Urbana sucesso até os dias atuais.
“Esses álbuns, em específico ‘As Quatro Estações’, falam sobre nossas buscas eternas, sobre quem somos e qual é o nosso propósito neste mundo. São composições líricas e espiritualmente poderosas que tocam profundamente as pessoas. Quando ‘As Quatro Estações’ foi lançado, houve uma mudança estética significativa na abordagem da Legião. Além disso, houve uma mudança clara na pegada política, principalmente nos primeiros e terceiros discos, que eram muito políticos. O segundo álbum ainda tinha um pouco disso, mas o primeiro e terceiro eram bem políticos. Como isso foi nos anos 89 e 90, já não era o auge. Estávamos passando por mudanças, com a chegada do axé e do sertanejo, mas acredito que esses discos capturaram o espírito da época. Não era mais aquele entusiasmo do fim da ditadura e da abertura que impulsionou o rock nacional com muita força. Era uma fase de amadurecimento, vamos dizer assim, acho que essa maturidade se refletiu em outras bandas contemporâneas, e esses pioneiros, como a Legião, Titãs, Paralamas do Sucesso, abriram portas para movimentos incríveis. Chico Science e Nação Zumbi, Raimundos e muitos outros surgiram nessa esteira. E, acredito, que isso pavimentou o caminho para outros movimentos incríveis”, disse o cantor.
Os legionários
Para o músico campo-grandense Antonio Carlos, conhecido como Karlinhus Ag’s, um legionário de carteirinha, Legião Urbana foi uma das bandas mais icônicas do rock nacional. A jornada de Karlinhus com a Legião começou em 1995, quando ainda era um adolescente de 13 a 14 anos. Foi nesse ano, que antecedeu a morte de Renato Russo, que ele foi apresentado à banda por amigos na escola.
“Haviam dois amigos que eram muito fãs, influenciados pelos irmãos mais velhos, acabaram me influenciando também. Eles eram uns dos poucos que tinham material fonográfico da banda, tínhamos entre 13 e 14 anos na época, e passávamos as manhãs cantando Legião na sala de aula e nos intervalos”, disse.
O álbum “V”, um dos trabalhos celebrados durante a turnê, ecoa em suas faixas um Brasil marcado pela crise econômica e por um governo sem norte de 1991. Faixas como “Metal Contra as Nuvens” – “Quase acreditei na sua promessa/ E o que vejo é fome e destruição” – e “L’ Âge D’Or” – “Já tentei muitas coisas, de heroína a Jesus” – refletem em suas letras os sentimentos de frustração e desolação da banda e cidadãos de uma época. No trecho do livro “Letra, Música e Outras Conversas”, em uma entrevista com Leoni, Renato Russo reforça esses sentimentos e relata sobre o choque frente a um país destacado pelo desemprego, fome e falsas promessas, fora o impacto desses aspectos perante suas músicas: “Pelo que estava acontecendo com a nossa vida, com o Collor etc., a gente não estava conseguindo fazer música para cima”, revelou. Uma canção em particular também marcou profundamente Karlinhus: “O Teatro dos Vampiros”, faixa integrante do álbum “V”. Esta é uma das mais apreciadas pelos fãs da Legião e se tornou uma das favoritas de Karlinhus. A letra da música capturou a essência da vida deles, na época.
“Naquele período, uma música que me marcou muito foi ‘O Teatro dos Vampiros’, é umas das mais ouvidas por seguidores da banda mundo afora e umas das minhas preferidas. É difícil escolher uma música preferida da Legião, são tantas (risos). Mas a letra traduzia muito do nosso momento, a época. Versos como ‘Acho que nem sei quem sou, só sei do que não gosto’ e ‘Vamos sair, mas não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego’ nos colocavam como personagens da canção, a gente se identificava como se fosse escrita sobre nossas vidas”, revela o cantor.
Karlinhus acredita que a Legião Urbana continua a conquistar novos fãs, mesmo mais de quatro décadas após a sua formação. Isso se deve à presença constante das músicas nas apresentações de bandas locais e pelas letras atemporais da Legião, que revelam muito de um Brasil de 1991 em comum com o país dos últimos anos.
ãs, e isso se dá pelo fato da manutenção e reproduções das músicas mais relevantes da banda, que ainda tocam nas rádios e embalam os shows locais de bandas que interpretam essas canções nas noites campo-grandenses, mas, principalmente, pelas letras atemporais que, no momento, estão super atuais com nosso cenário político e social. Entretanto, Legião falava também de amor, de paixões, levava qualquer um a refletir sobre diversos temas, isso mantém viva a obra dos meninos de Brasília!”, destaca o artista.
Para o vocalista da banda Haiwanna e músico há 30 anos, Hugo Roberto, um apreciador da Legião Urbana, observou que antes do lançamento dos álbuns marcantes da banda, esta já havia conquistado seu espaço com três trabalhos anteriores, demonstrando qualidade desde o início de sua carreira.
“Apesar de ter canções fantásticas e ser fantástico o quarto disco, Renato Russo já havia se confirmado como o poeta do rock brasileiro dos anos 80 com os discos anteriores. Mostrou sua qualidade desde o início. ‘V’ é o meu disco preferido. Lembrando que nessa época o Brasil atravessava uma séria inflação, retenção de poupança, plano Collor, e a banda soube definir o momento como muitos não conseguem fazer hoje em dia. É por isso que a Legião ainda tem muitos fãs, pelas letras lindas e inteligentes e pelo fato de Renato sempre usar a primeira pessoa, em algum momento você confunde sua vida com uma de suas letras”, enfatiza.
O projeto “As V Estações” iniciou em 2015, quando Dado e Marcelo se uniram para comemorar os 30 anos dos álbuns da Legião Urbana. O que começou com cerca de 20 shows se transformou em uma jornada de sete anos, com duas turnês e centenas de apresentações. A turnê conta com uma banda talentosa, incluindo Mauro Berman como diretor musical e baixista, Lucas Vasconcellos na guitarra e violão, Pedro Augusto nos teclados, além de Dado Villa-Lobos na guitarra, Marcelo Bonfá na bateria e André Frateschi como vocal. Os portões abrirão às 19h, com discotecagem para a abertura e a banda local Naip encerrando a noite. Os ingressos podem ser comprados no site oficial do evento, acesse https://cegonhaeventos.com.br.
Por – Ana Cavalcante
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