Há 47 anos, a criação de Mato Grosso do Sul foi oficializada, dividindo a extensão de Mato Grosso em duas partes. Mas, além das fronteiras geográficas e questões políticas, o laço emocional dos sul-mato-grossenses com suas raízes não mudou. Para muitos artistas que escolheram outros destinos para desenvolveram suas carreiras, a saudade de casa é um fio invisível que os conecta ao calor do Pantanal, as paisagens inconfundíveis e ao amor que sentem pela cultura de MS.
Pertencentes a celebre e talentosa família Espíndola, Tetê e Alzira E conversaram com o jornal O Estado, e declararam o amor por Mato Grosso do Sul, mesmo estando longe daqui.
“Mato Grosso do Sul é minha terra, minha cidade natal é Campo Grande. Estou em São Paulo há muito tempo, mas o MS nunca saiu de mim, então nem posso dizer que tenho saudades, porque convivo com Mato Grosso do Sul dentro de mim, nossos rios, nosso por-do-sol, nosso Pantanal, nossa gente, minha família. Não consigo me desapegar, estou sempre aí, com meus irmãos, lutando com a nossa arte, para a melhoria das nações indígenas, do Pantanal e do fim das queimadas”, declarou Alzira E.
Amor marcado em cartas de tarô
Outra filha da terra – e dos Espíndola –, Tetê é de Campo Grande, mas ganhou notoriedade nacional ao se mudar para São Paulo e vencer o Festival dos Festivais da TV Globo, com ‘Escrito nas Estrelas’, (1985), que se tornou um grande sucesso. Para o jornal O Estado, a cantora contou algo inusitado: ela saiu do Estado no mesmo dia de sua divisão.
“Eu saí do ‘Matão’ exatamente nessa data, quando Mato Grosso dividiu o Estado. Sempre foi uma alegria muito grande voltar a Campo Grande, é uma coisa muito carinhosa, é a cidade onde nasci e o MS é onde está a minha família. Sinto muita saudade da infância que passei aí e tenho saudade do mato, da água do Pantanal, do cerrado, que não existe mais infelizmente.”
A cantora ainda reforça a atenção sobre a crise climática que afeta o Estado. “Eu queria alertar todo mundo sobre esse problema seríssimo das queimadas, o Pantanal se tornará um deserto, o Cerrado já é. Queria deixar meu carinho para essa terra, para esse povo que sempre me acolheu e desejar muita sorte para o Estado”, finaliza.
Do reggae ao pagode
Assim como mostra Tetê e Alzira, nem só de sertanejo vive o Estado. Outro grupo que desponta e representa a Capital é a banda de pagode Atitude 67, formada por Éric, GP, Karan, Leandro, Pedrinho e Regê. Entre os feitos do grupo, eles ganharam o prêmio Multishow de Melhor Grupo do Ano em 2019, se destacam no mercado brasileiro com músicas autorais que têm uma identidade única no pagode.
Para o grupo, Mato Grosso do Sul sempre será um local especial. “Campo Grande foi onde nascemos e crescemos. Lembrar dessa região traz um gostinho de nostalgia, que faz a gente lembrar do começo. Mas, falando sobre a saudade, a região é muito rica em beleza natural. Nós gostamos muito desse contato com a natureza e renovar essa conexão é sempre muito bom”, ressaltaram em entrevista para o jornal O Estado.
Um dos momentos mais marcantes da banda, foi o show realizado em 2019, no Parque das Nações Indígenas, que contou com um público de mais de 4 mil pessoas, presença da família, amigos e fãs que acompanhavam desde o início o trajeto. Inclusive, o carinho pela terra é o que faz o grupo alertar e se preocupar com a situação climática que o Estado vive.
“Os incêndios não apenas devastam a flora e a fauna da região, como também impactam o clima de todo o país. Deixamos um alerta para que todos se conscientizem sobre a gravidade da situação e desejamos apoio àqueles afetados. Todos nós temos a responsabilidade de cuidar do nosso meio ambiente, e é essencial que continuemos unindo forças para combater essa crise”, destacaram.
Já no cenário do reggae, a artista Marina Peralta entrou no cenário musical com tudo: ela é a única mulher de Mato Grosso a se apresentar no Lollapalooza de 2025 e a única mulher do reggae com o feito. Com uma mistura de reggae, samba, MPB e rap, Peralta mora atualmente em São Paulo, mas a saudade dos amigos e família de MS sempre fala mais alto.
“Vivi 27 anos no MS, sinto falta do ritmo, do cheiro, do calor desse lugar. A maioria das memórias está em Campo Grande. Mas tenho lembranças especiais demais em Piraputanga (onde compus Agradece), em Bonito, Rio Verde, Bodoquena…com amigos, com meu amor, com as filhas, em diferentes momentos da vida, sempre tento voltar”, relembrou ao jornal O Estado.
Sobre a participação no Lolla, a cantora conta que os preparativos já estão a todo vapor. “Me sinto capaz, me sinto grande, corri muito até receber esse reconhecimento. Já estamos preparando o show, pretendo levar um pouco dessa narrativa do MS também, e das lutas que nos dizem respeito”.
São Paulo de nascença; MS de coração
O amor por MS também atravessa fronteiras, e brota até em quem não nasceu aqui. Cantor, compositor, instrumentista e produtor cultural, Márcio de Camillo nasceu em São Paulo, capital, mas foi criado em Mato Grosso do Sul. Além de discos solos, Márcio se consagrou no cenário artístico de MS por meio do projeto ‘Crianceiras – Manoel de Barros’ e por seus shows em homenagens a nomes regionais como Geraldo Roca.
Em uma emocionante fala, Camillo relatou a gratidão que sente por MS, tanto por seus frutos na vida pessoal, conquistados aqui, quanto pela carreira artística. “Olha, esse estado me deu tudo. Me deu a minha família, me deu a música que eu faço hoje, as minhas raízes, me deu a minha filha, me deu a minha esposa. É um lugar que eu tenho um carinho muito grande e você pode perceber que por onde eu vou, eu sempre estou levando a história do meu estado, a arte do meu estado. Por exemplo, eu estou fazendo o ‘Crianceiras Manoel de Barros’ há 12 anos. Estreei agora o ‘Márcio de Camilo Canta, Geraldo Roca’, mais uma vez, falando de um artista. Fiz ‘Gerações’, que era uma enciclopédia musical do Mato Grosso do Sul. Ou seja, a minha carreira, por mais que eu viva hoje em São Paulo, por questões profissionais, o que fala mais alto, e acho que sempre vai falar muito alto, são as minhas raízes. Então, eu amo esse estado. Esse estado, por mais que eu não esteja aí, mas o estado está sempre em mim”.
Quem também é de Araçatuba, em São Paulo, é a atriz, modelo, artista e defensora da cultura indígena, Dandara Queiroz. Atualmente no ar na novela ‘No Rancho Fundo’, ela é de origem tupi-guarani, e criada desde pequena em Três Lagoas. Mesmo se mudando para São Paulo, para dar início a carreira de modelo, a etnia da família falou mais alto, e a jovem sempre busca se conectar com suas origens e ensinamentos, como contou em entrevista exclusiva ao jornal O Estado.
“Eu aprendi a buscar essa conexão dentro de mim e com as ferramentas que eu tenho. Entendi que não dá para parar de cultivar minhas crenças, tradições e costumes, porque isso é tudo que me fortalece emocionalmente, espiritualmente e até mesmo na minha saúde física. Quando eu tenho 2 ou 3 dias livres, confesso que saio correndo para minha casa no MS ou para aldeia Tabaçu. Esses lugares são sagrados para mim”, salientou.
Saudades da pescaria
O cantor Loubet, que hoje mora em São Paulo, também sente saudades de Mato Grosso do Sul, mais espeficamente do Pantanal, onde gosta de praticar seu hobby predileto. “com certeza o lugar que eu mais me recordo e quero voltar sempre é o nosso Pantanal sul-mato-grossense. Eu gostaria de ter mais tempo e oportunidade de pescar no Pantanal.”, afirmou o sertanejo.
Loubet mantém contato com os amigos sul-mato-grossenses e se mantém antenado com as novidades, mas aponta que está preocupado com os incêndios no Pantanal. “Eu sinto muita tristeza em saber que nosso bem mais precioso está sendo devastado e vejo pouca acão das autoridades para combater tudo isso. Os os artistas e todos que se importam com nossa fauna e flora devem se pronunciar e protestar em prol a causa. O poder público tem que dar mais atenção ao Pantanal, principalmente em relação as queimadas, a preservação de animais ameaçados e plantios de grãos nos quais utilizam fertilizantes e venenos que contaminam nossos rios e peixes.”, apontou.
“Eu prezo por manter a cultura e passar adiante. Isso é nosso dever, cobrar mais além de conscientizar da maneira que posso. Estou aberto a qualquer forma para ajudar sempre.”, finalizou.
Por Amanda Ferreira, Carolina Rampi e Marcelo Rezende.
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