Mostra é realizada na Casa de Cultura até o dia 19 de novembro
Tradições de Mato Grosso do Sul, imagens sacras, cenas do cotidiano e identidade local são apresentadas na exposição ‘Bem Eu’, da artista Patrícia Helney, realizada na Casa de Cultura de Campo Grande. A mostra apresenta as temáticas exploradas pela artista ao longo de sua trajetória de 40 anos na frente das telas, dedicadas a Arte Naif.
Na exposição ‘Bem Eu’, as telas possuem vivacidades nos desenhos e jogos cromáticos, motivando a busca por detalhes nas composições carregas de significados e memórias afetivas e, ao mesmo tempo, aponta para o resgate das tradições da região Centro-Oeste e do país no geral, representando a construção da identidade.
Dentre as obras, se destacam as pinturas de santas, principalmente as que referenciam Nossa Senhora Aparecida, as de festejos típicos e as de pontos importantes de Campo Grande, onde Helney uniu locais como Obelisco, Relógio Central, Horto Florestal, a nova Casa de Cultura, Bioparque, Monumento Cabeça de Boi, Feira Central, Lago do Amor, Morada dos Baís e Praça das Araras em uma única pintura.
A artista trabalha com Arte Naif há mais de 40 anos e já acumula mais de 30 prêmeio em salões nacionais e internacionas. Ela destaca que a Arte Naif é a liberdade, e o artista pinta com o coração. “Meu processo é baseado naquilo que experiencio em meu cotidiano, literalmente o que fala à minha alma. A técnica mais utilizada por mim é a acrílica sobre tela, embora goste de experimentar outras. As cores que me inspiram são todas alegres e vivas, mas tenho uma predileção pelos azuis e amarelos.” explicou.
Ela ainda destaca que busca retratar as questões do cotidiano humano. “Não gosto de pintar tristezas, pois a vida já está repleta delas. Prefiro transmitir uma mensagem de amor, paz e serenidade para enfrentarmos o dia a dia”.
Com um trabalho que também é dedicado a mostrar as belezas do Pantanal e tradições, Helney comenta que explorar esse tipo de temática é um tipo de resgate. “Sou uma contadora de histórias, as mudanças constantes e globalização realmente ocorrem, mas planta sem raiz não floresce, e eu resgato exatamente isso, as nossas raízes, quem somos e de onde viemos”.
A arte sacra, presente na exposição ‘Bem Eu’, é fortemente influenciada pelas próprias experiências da artista. “Minha vida inteira estudei em escolas católicas, e sou uma pessoa que ama o sagrado e tudo que o envolve, ele representa uma parte de mim mesma. Até por isso minha exposição se intitula ‘Bem Eu’, por ser exatamente quem sou, com os temas que falam de mim e daquilo que gosto”, reforça.
Ela ainda comenta como sua arte pode contribuir para um sentimento de pertencimento naqueles que compartilham as mesmas tradições e vivências regionais. “As pessoas olham para meu trabalho, sorriem e depois me falam ‘lembrei da minha cidade, da minha infância’. Isso me traz muito contentamento, precisamos de coisas que nos façam bem, nos façam sorrir, o mundo já está muito cheio de coisas ruins”, pondera.
“Eu gosto de resgatar memórias, de mostrar que o mundo vale muito a pena, que viver é uma grande experiência”, finaliza.
O jornalista, crítico de arte e curador, Oscar D’Ambrosio destaca que a exposição mostra a paixão de Helney pela arte, com uma atmosfera alegre, sendo uma declaração de amor à arte e à vida. “Existe um mergulho de Patrícia Helney, por exemplo, nas tradições de Mato Grosso do Sul, e, por extensão, nas identidades nacionais. Nessa perspectiva, as suas expressões visuais motivam novos olhares a desvendar sentidos”.
A mostra está disponível até o dia 19 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 96h às 18h, e aos sábados, das 9h às 12h, na Casa de Cultura, na Avenida Afonso Pena, 2.270, Centro.
O que é a Arte Naif
A Arte naïf é um termo utilizado no vocabulário artístico, em geral, como sinônimo de arte ingênua, original e/ou instintiva. Ela é produzida por autodidatas que não têm formação culta no campo das artes.
A arte naïf se caracteriza pela ausência das técnicas usuais de representação (uso científico da perspectiva, formas convencionais de composição e de utilização das cores). Os tons brilhantes e alegres, a simplificação dos elementos decorativos, o gosto pela descrição minuciosa e a visão idealizada da natureza são alguns dos traços considerados típicos dessa modalidade artística.
O pintor francês Henri Rousseau (1844-1910) é considerado o precursor do estilo e foi reconhecido dessa forma quando expôs suas obras no “Salão dos Independentes” na França, em 1886.
A tela Um dia de Carnaval (1886), chamou a atenção de vários artistas modernistas da época, dentre eles Pablo Picasso (1881-1973), Léger (1881-1955) e também representantes do surrealismo, como Joan Miró.
O Brasil tem diversos artistas populares que possuem produções artísticas baseadas nas características da arte naïf. Dentre eles, alguns nomes se destacam, como Djanira, Maria Auxiliadora, Mestre Vitalino e Heitor dos Prazeres.
Por Carolina Rampi
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