Conhecido por bordados realistas em folhas secas, o designer passará por cirurgia nos tendões, região mais afetada
O designer e artista sul-mato-grossense Alan Vilar, 29 anos, foi vítima de um assalto dentro de sua própria residência em Campo Grande na última quinta-feira (27). O criminoso tentou roubar o celular do artista e o atacou com um facão. Ao reagir para se defender, Alan sofreu cortes graves na mão, atingindo tendões, o que exigirá intervenção cirúrgica.
Para o Jornal O Estado, Alan Vilar contou que o incidente ocorreu enquanto ele finalizava um trabalho em casa. “Achei que fosse algum animal da reserva próxima, porque o cachorro não latiu. Estava com a porta e a janela abertas por causa de materiais de cheiro forte”, contou. Ao se deparar com o invasor, que estava escondido sob um tanque na varanda, Alan tentou se proteger e acabou ferido, enquanto o agressor conseguiu levar seu celular.
Após o ataque, Alan foi levado ao Hospital do Trauma da Santa Casa de Campo Grande, onde permanece internado à espera da cirurgia nos tendões, região mais afetada durante o ataque. As informações sobre seu estado de saúde indicam que, apesar da gravidade dos ferimentos, ele passa por acompanhamento médico contínuo.
Até o fechamento desta edição, não havia notícias sobre a prisão do suspeito ou avanços nas investigações. A polícia segue com as diligências para identificar e localizar o autor do crime, enquanto amigos e admiradores do artista acompanham de perto sua recuperação.
Sobre o corrido
Após o ataque em sua residência, o artista Alan Vilar passou por uma primeira cirurgia na mão, que consistiu principalmente em limpeza e avaliação dos danos. Ele explicou que ainda precisará de uma segunda intervenção devido ao rompimento de tendões e nervos, ferimentos que comprometem diretamente o movimento e a sensibilidade da mão, essencial para seu trabalho artístico.
Alan relatou surpresa com a gravidade do corte. “Recebi 12 pontos e, inicialmente, não tinha dimensão do que aconteceria. Só fui entender melhor a situação após a primeira cirurgia”, disse. Ele também comentou que, apesar da esperança de participar de eventos e oficinas em São Paulo, precisou adiar seus compromissos para focar na recuperação, o que motivou a divulgação do caso para seus seguidores e apoiadores.
O artista destacou ainda a preocupação com a demora nos atendimentos médicos, já que a Santa Casa enfrenta dificuldades operacionais que podem atrasar o retorno do especialista. Ele enfatizou que, quanto maior a demora, maiores os riscos de complicações na recuperação da mobilidade. “Sei que será um processo longo, com muita fisioterapia, mas estou confiante de que vou conseguir recuperar a mão”, afirmou, pedindo o apoio e as orações de amigos e admiradores.
Apesar dos desafios enfrentados, Alan Vilar mantém otimismo e confiança na recuperação, ressaltando que, após se recuperar, irá registar um boletim de ocorrência sobre o crime.
O artista comparou o momento a ter uma asa temporariamente cortada, mas acredita que em breve estará novamente produzindo e levando suas obras pelo país, retomando suas atividades artísticas e inspirando o público com seu trabalho.
“Meus passarinhos estão voando pelo Brasil todo e eu estou voando junto. Dessa vez, não vou conseguir voar com eles, mas em breve vou me recuperar para continuar meu trabalho”, finalizou.

Trabalho de Alan Vilar: Tuiuiú, a ave símbolo do Pantanal, bordada em folha de abacate esqueletizada – Foto: @alanvilar/Divulgação
Homenagens
Após a divulgação do ataque sofrido pelo artista Alan Vilar, conhecido pelo delicado trabalho de bordado em folhas secas, colegas e admiradores manifestaram apoio e solidariedade. Um vídeo publicado por Manu Ebert, amiga e artesã que receberia Alan em São Paulo para uma oficina, despertou uma grande comoção nas redes sociais, reforçando a preocupação com sua recuperação.
A equipe da Relação da Dança Circular com o Bordado Livre disse: “Alan era um amigo querido. Admiramos muito o trabalho dele e sua dedicação. Toda luz para os médicos terem a sensibilidade que ele tem e curarem as mãos dele com delicadeza, para que ele se recupere 100% e volte a criar suas obras únicas”.
Beatriz Podgorski, amiga de Alan, comentou: “Que tristeza! Sei bem o que é isso. Ano passado, quando caí de uma altura de três metros, fraturei o quadril e quebrei os dois dedos da mão direita. Alan é uma pessoa querida, talentosa, e seu trabalho estava crescendo muito. Espero que ele consiga ficar bem e continue nos encantando com suas maravilhas”.
O Projeto À Flor da Pele, de Conselheiro Lafaiete, declarou: “Alan é admirado por todos nós. Que Deus abençoe os médicos e toda a equipe, para que tudo corra bem e ele volte em breve a nos inspirar com sua arte, talento e dedicação”.
Sobre o artista
Desde a infância, Alan Vilar transformou a natureza em seu primeiro ateliê. Sem acesso a materiais convencionais, desenhava no chão com o que encontrava pelo caminho; galhos, terra e folhas. Essa relação orgânica moldou a estética que hoje define sua produção artística. Aos 28 anos, o artista plástico segue explorando elementos naturais como matéria-prima e ferramenta, despertando curiosidade pelo modo singular como transforma o que encontra no ambiente rural em obras repletas de delicadeza e minúcia.
O interesse pelo bordado em folhas surgiu quase por acaso. Em 2019, ao estudar técnicas de escultura em folhas, que consistem em recortes que revelam imagens quando expostos à luz, Alan começou a experimentar novas possibilidades. A descoberta de artistas que bordavam diretamente em folhas secas o motivou a tentar algo semelhante. Mesmo sem experiência prévia com bordado, sua vivência com desenho e pintura facilitou o domínio da técnica. Sem muitas referências disponíveis, o processo foi intuitivo e abriu caminho para pesquisas que o levaram a incorporar materiais como penas, casca de urucum, pétalas, asas de borboleta e até insetos.
Com o tempo, Alan passou a integrar diferentes linguagens em suas criações, misturando bordado e escultura para produzir obras com volume e movimento, como peças tridimensionais e folhas que funcionam como vitrais naturais.
Em 2024, Alan Vilar ganhou projeção nacional ao ser convidado para participar do programa de Ana Maria Braga. Na ocasião, o artista apresentou uma de suas peças mais emblemáticas: um Louro José bordado à mão em uma folha de cervejinha esqueletizada, técnica pela qual se tornou reconhecido.
Recentemente, Alan Vilar integrou a exposição coletiva “Curvas Pantaneiras”, realizada no CRAB (Centro de Referência do Artesanato Brasileiro), no Rio de Janeiro. O evento, lançado em 12 de novembro de 2025, reuniu obras que representam a diversidade artística do Mato Grosso do Sul, incluindo cerâmicas, trançados, esculturas, bordados e peças de design inspiradas na paisagem e nas tradições do Pantanal.
Amanda Ferreira
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