Grupo Renda que Roda apresenta hoje espetáculo infantil cheio de narrativas culturais
O grupo Renda que Roda estreia nesta quinta-feira (18), às 16h, o espetáculo infantil Kalivôno, em Campo Grande, propondo uma experiência artística que convida o público a dançar, brincar e reencontrar as múltiplas infâncias presentes na cultura popular brasileira. Voltada a todas as idades, a montagem marca a primeira criação do coletivo dedicada ao público infantil e aposta na cena como espaço de encontro entre imaginação, corpo e memória.
Construído a partir de brincadeiras, cantigas e gestos que atravessam gerações, o espetáculo assume como eixo central a valorização dos saberes tradicionais. A proposta artística reconhece as infâncias como territórios de potência criativa e conhecimento, ao mesmo tempo em que busca ampliar o acesso físico e linguístico aos bens culturais, reforçando a importância das manifestações populares como formas legítimas de aprendizagem e expressão.
Sonho do Grupo
A produção nasce da experiência do coletivo com rodas de dança popular em escolas públicas e da atuação de seus integrantes na rede de ensino, unindo cultura popular e brincadeira para criar um espetáculo acessível e rico em saberes sensíveis. Inspirado nas danças brasileiras e nas tradições transmitidas de geração em geração, Kalivôno propõe uma experiência lúdica que conecta crianças de todas as idades com memórias, identidades e gestos cotidianos do corpo brasileiro.
“Desde o começo nosso objetivo foi criar algo que pudesse ser sentido pelas crianças de forma direta, sem barreiras. Queríamos que o espetáculo fosse uma extensão do que já fazemos nas escolas e comunidades, um lugar para brincar, dançar e se encantar com a cultura popular. Cada passo, giro e canto foi pensado para que todos se sintam parte dessa celebração”, afirma Marcus Perez, produtor e intérprete do grupo para o Jornal O Estado.
A produção de Kalivôno envolveu uma articulação cuidadosa entre a equipe técnica e o processo criativo do grupo Renda que Roda, buscando equilibrar os aspectos artísticos, logísticos e pedagógicos da montagem. Cada elemento do espetáculo, da trilha sonora à iluminação e à cenografia, foi pensado para reforçar a identidade cultural brasileira e valorizar a diversidade de saberes presentes nas tradições populares.
Além disso, ações de acessibilidade foram incorporadas desde a concepção, como ajustes no volume da sonorização para crianças sensíveis e a presença de tradução em Libras integrada à atuação em cena.
“Nosso desafio foi fazer com que cada detalhe do espetáculo conversasse com as crianças de forma sensível, sem perder a força estética e cultural que caracteriza nosso trabalho. Queríamos que elas pudessem experimentar os movimentos, os sons e as histórias de forma completa, se aproximando da nossa cultura enquanto se divertem e aprendem”, explica Marcus.
Processo criativo
O processo criativo de Kalivôno foi fortemente influenciado pelas pesquisas e vivências dos integrantes do Renda que Roda, que unem práticas artísticas e estudos teóricos em diálogo constante com a educação e a cultura popular. A presença de integrantes da etnia Terena trouxe cores, grafismos, oralidade e tradições que atravessam toda a estética e a narrativa do espetáculo, inclusive no próprio título, que significa “criança”.
Ao mesmo tempo, outras manifestações culturais brasileiras, como maracatu, funk e capoeira, se entrelaçam na construção do enredo, compondo um universo sensível e plural.
“Queríamos que cada referência cultural que atravessa Kalivôno fosse sentida pelas crianças e pelo público como um convite à imaginação e à memória afetiva. O espetáculo mistura sonhos, brincadeiras e histórias que todos nós conhecemos, dos contos das avós aos brinquedos e lendas populares, criando um território de experimentação lúdica e sensível”, comenta o produtor.
A produção de Kalivôno buscou integrar de forma cuidadosa os saberes dos povos indígenas, afro-brasileiros, quilombolas e demais manifestações da cultura popular brasileira, garantindo respeito aos contextos e significados de cada tradição.
O processo envolveu ouvir atentamente os integrantes indígenas do grupo, estudar e praticar as danças brasileiras e transformá-las em movimentos cênicos que dialogassem com o público infantil, mantendo a essência e a autenticidade dessas expressões culturais. Cada gesto e cada dança carregam histórias e identidades, tornando-se, ao mesmo tempo, pedagógicos e poéticos.
“Nosso compromisso sempre foi criar um espetáculo que respeite as origens das culturas que trazemos para cena, ao mesmo tempo em que permita que as crianças sintam, se conectem e aprendam com esses saberes. Cada movimento, cada história em Kalivôno carrega a memória de diferentes regiões do Brasil e reforça a riqueza da nossa poética cultural”, destaca Marcus.
Crianças envolvidas
Para garantir que Kalivôno oferecesse uma experiência sensível, lúdica e educativa, a produção envolveu as próprias crianças no processo criativo. Durante a concepção do espetáculo, o público infantil participou ativamente, opinando sobre o que gostava ou tinha medo, desenhando e ajudando na confecção de figurinos.
Essa interação direta permitiu que o grupo ajustasse elementos de narrativa, estética e ritmo para criar um espetáculo que falasse diretamente às crianças, respeitando suas percepções e sensibilidades.
“Kalivôno não é apenas para crianças, mas com elas. Nosso objetivo foi valorizar o imaginário infantil, explorando o lúdico e a sensibilidade como ferramentas para ensinar e encantar. Queremos que cada criança saia do espetáculo com a sensação de que é possível sonhar, criar e se conectar com a cultura popular brasileira de maneira intensa e divertida”, finaliza.
Serviço
O espetáculo infantil Kalivôno, do grupo Renda que Roda, será apresentado no dia 18 de dezembro, quinta-feira, às 16h, no Sesc Teatro Prosa, localizado na Rua Anhanduí, 200, no Centro de Campo Grande. Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente pela plataforma Sympla, e a apresentação é aberta a todas as idades.
Por Amanda Ferreira