Entre comédia e terror, filme mostra relacionamento com reviravolta além da mostrada no trailer
Um encontro despretensioso no mercado, conexão a primeira vista, conhecer a família. A premissa parece de uma comédia romântica, mas não se engane, em ‘Acompanhante Perfeita’, longa que estreia nessa quinta-feira (6), o romance é só passageiro, dando lugar ao terror e thriller.
O filme segue o casal Iris (Sophie Thatcher, de ‘Yellowjackets’) e Josh (Jack Quaid, de ‘The Boys’) num final de semana entre amigos numa casa de campo tranquila e luxuosa. Os dois se conheceram no mercado e, logo, começaram a sair, e começam a viver um amor de cinema. Mas o plot twist vem aí: Iris é um robô, e nem ela mesma sabia.
A viagem toma, então, um rumo inesperado, com perseguições, sangue e revelações estrondosas e com a jovem máquina altamente sofisticada perdendo o controle e precisando lutar para sobreviver. O filme mistura suspense e terror com uma pitada de comédia e elementos sobrenaturais para falar sobre relações de gênero e as idealizações românticas que construímos e se chocam com a realidade. Com o relacionamento dos dois sendo diretamente testado, será que o casal sairá vivo desse pesadelo?
O elenco é completado por Rupert Friend (‘Hitman’) como Patrick, Lukas Cage (‘The White Lotus’) como Eli e Megan Suri (‘Não Abra’), como Kat. O longa é dos mesmos criadores de ‘Noites Brutais, com direção e roteiro de Drew Hancock (‘Faking It’ e ‘Suburgatory’).
Uma pitada de discussão
Mesmo sem saber que é um android, Iris é programada para ser dócil, gentil, compreensiva e submissa. No aspecto das relações sociais, ela é o esteriótipo de ‘mulher perfeita’ aos olhos masculinos, tudo que eles esperam e querem em um relacionamento. Até o figuirino da personagem remete a uma delicadeza exagerada. Mas, quando Iris age, aparentemente contra sua própria programação, é vista pelo namorado e amigos como uma ameaça, e precisa lutar pela sua vida.
Se pararmos para refletir, essa é uma característica da realidade: mulheres que lutam pela sua independência, direitos e lugar na sociedade – sociedade essa que é majoritariamente comandada, criada e desenvolvida por homens – são vistas como inconvenientes, que não querem cumprir com seus ‘deveres’ pré-estabelecidos como maternidade e família. Logo, elas precisam ser ‘eliminadas’ de alguma forma, seja em suas relações sociais, de trabalho ou em direitos básicos.
Em passagem no Brasil para a divulgação do filme, Thatcher revelou em entrevista ao Splash, que se inspirou em relacionamentos anteriores para a criação da personagem Iris. “É quando você está tão obcecado por alguém que acaba perdendo quem você é, se esquece de si porque está dando tudo para essa pessoa. Já estive nessa posição”.
Com o controle que o personagem de Jack Quaid tenta exercer sobre a android, com mudanças de personalidade e características, Thatcher precisou interpretar de maneira diferente em todas as tomadas. “A fisicalidade foi muito técnica, e também foi difícil encontrar as mudanças de voz certas. Foi preciso encontrar a zona certa no personagem”, recorda ela.
Recepção
O portal ScrenRant destaca como ‘Acompanhante Perfeita’ navega entre comédia com elementos de ficção cientifica, do que propriamente o terror tradicional, e o compara a obras como ‘Megan’ e ‘Noites Brutas’, que revelam a premissa básica no primeiro momento, mas não deixam o público a ver navios no cinema. Além disso, o veículo aponta a performance de Quaid, que se consegue se encaixar no espectro de ‘cara legal’ (outro ponto muito real): simpático, sorridente, meio bobo, mas, que no final, não sabe o que está fazendo e é um ‘idiota’ – se ele fosse realmente legal, teria uma namorada de verdade, e não um robô.
“Quaid entrega um personagem extremamente detestável e que, ao mesmo tempo, é tão fácil de ser o mais próximo da realidade possível”, comenta Miguel Morales, do Arroba Nerd. “Acompanhante Perfeita faz uma montanha-russa de emoções numa narrativa tão boa, tão interessante e que faz as poucas 1h40min que o filme tem passarem muito rápido”, continua.
Bruna Dolores, do Pontrona Nerd, pontua que o filme não se apoia em cenas exageradas de terror e gore, conseguindo se sustentar sem essas artimanhas.
“Acompanhante Perfeita vai navegando por algumas surpresas e aumentando o grau de violência à medida que avança, cumprindo o que promete, que é entreter o público. Nada é exagerado ou brutalmente gráfico, vemos apenas o suficiente para destacar a violência”, destaca.
“Com sua construção inteligente e timing cômico, o longa traz uma contagem crescente de mortes e algumas piadas legais, fazendo com que seja muito divertido! O filme mistura bem gêneros, pois há aspectos de comédia romântica em jogo, enquanto terror e ficção científica também entram em cena. Tudo se funde muito bem, ainda que o foco vá se modificando ao longo da trama”, complementa Dolores.
“Hancock faz um bom trabalho em seu début, apostando fichas em construções que, em boa parte, se afastam das obviedades. Seja no jogo de câmera, no uso despretensioso de flashbacks ou até mesmo em um roteiro que deseja entregar um bom entretenimento para os espectadores, o realizador tem plena noção do que deseja fazer. Tendo liberdade o suficiente para conduzir seu projeto como bem deseja, é notável como ele se diverte ao máximo, garantindo que os protagonistas e coadjuvantes se entreguem de corpo e alma a seus personagens”, comenta Thiago Nolla, do CinePop.
No Rotten Tomatoes, a obra já possui 93% de aprovação da crítica especializada, com elogios a história, direção e atuação. “Orçamento reduzido, um realizador desconhecido e uma história ambientada no futuro próximo podem soar como uma combinação que afastaria grandes distribuidoras. Mas a verdade é que o horror já provou inúmeras vezes ser capaz de transformar tais desafios em uma fórmula de sucesso. Acompanhante Perfeita é, assim, mais uma ótima estreia do gênero em 2025”, disse Thiago Natário, do República do Medo.
Por Carolina Rampi
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