Edição deste ano traz ‘sabor’ especial, com celebração do centenário da Feira Central, de 6 a 10 de agosto
Lá em 1925, na Rua Quinze de Novembro, entre a Avenida Calógeras e a Rua 14 de julho, estava instalada a Feira Popular, também chamada de Feira Livre ou Feira Central, onde feirantes comercializavam suas produções hortifrutigranjeiras, principalmente imigrantes japoneses.
Porém, em 1938, o poder público interferiu na organização da feira, devido aos bloqueios de trânsito causados pelas carroças dos comerciantes, determinando assim um limite em que a feira precisaria ser instalada, sempre a no máximo 1.500 metros de distância de mercados, escolas e hospitais.
Até o ano de 1965, a feira era localizada na Antônio Maria Coelho, entre as ruas Pedro Celestino e 13 de

Foto: Reprodução
Maio, mas no ano seguinte, ela ocupou as Ruas José Antônio, Abraão Júlio Rahe e Padre João Crippa, formando um ‘U’; foi somente em 2004 que ocorreu a mudança mais recente, para a Avenida Calógeras e Rua 14 de julho. E, 13 anos depois, o espaço cultural foi homologado como Patrimônio Cultural e Imaterial de Campo Grande.
Mas por que toda essa pequena história? Neste ano, a Feira Central, ou ‘Feirona’ traz no calendário uma comemoração para lá de especial, o seu centenário. São 100 anos de muita cultura e história para nossa cidade, e nada melhor do que celebrar com um dos eventos mais famosos do local, o Festival do Sobá, comida simbolo da feira. De 6 a 10 de agosto, a 18ª edição do Festival terá uma programação cultural amplificada, reunindo tradição, inovação e diversidade cultural, de forma gratuita.
O evento contará com shows nacionais, apresentações culturais nipo-brasileiras, atividades voltadas ao público jovem, espaço geek e forte presença de artistas locais e empreendedores da região.
Programação
A abertura oficial será na quarta-feira, 6 de agosto, com a tradicional cerimônia e a apresentação do grupo de tambores japoneses Raiden Daiko, seguida do show da dupla Marcos & Belutti. No dia 7, sobem ao palco Gian & Giovani, acompanhados por apresentações do Coral de Senhoras Nipo-Brasileiras, grupo infantil Sakurá, grupo de danças tradicionais Hananokai, além do retorno do Salão de Orquídeas. O artista Ruberval Cunha realiza intervenções diárias ao longo de todo o festival.
A programação contempla ainda a Parada Nerd, que contará com campeonatos de games, karaokê temático, apresentações de músicas de anime, palestras com dubladores e concurso de cosplay, numa ocupação pensada para aproximar o público jovem das tradições da feira.

Veteranos Amanhã (7) sobem ao palco os consagrados Gian & Giovani com seus clássicos – Foto: Reprodução
Gosto de tradição
O centenário homenageará um dos maiores patrimônios culturais imateriais de Campo Grande: o sobá. Mais do que um prato típico, o alimento tem sido reconhecido como elemento central da identidade da Feira e da capital sul-mato-grossense, passando a ser foco de pesquisas, registros de memória, estudos acadêmicos e ações de salvaguarda. Esse movimento reforça seu valor simbólico como parte do acervo vivo da cultura local, conectando gerações por meio da gastronomia.
Para a presidente da Afecetur (Associação da Feira Central, Cultural e Turística de Mato Grosso do Sul), Alvira Appel Soares de Melo, o festival deste ano reafirma o compromisso da Feira com a cultura local e com sua missão social. “Estamos celebrando o centenário da Feira com tudo aquilo que nos representa: o sobá, a cultura nipo-brasileira, a diversidade de Campo Grande e o futuro que queremos construir. Mais do que um prato, o sobá é uma ponte entre gerações e culturas. E essa festa é o nosso jeito de agradecer à população por manter essa história viva”.
O sobá faz parte da imagem identitária de Campo Grande. Para os que ainda não conhecem sua história completa, a iguaria é originária da Iha de Okinawa, no Japão, de onde partiram os primeiros imigrantes japoneses em direção ao Brasil, por volta de 1908. Com essa nova cultura, trazida e adaptada pelos okinawanos, que ajudaram na formação cultural da Capital, o prato caiu no gosto popular, e hoje é considerado como Patrimônio Cultural Imaterial, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Ele não é encontrado em nenhum lugar do país e nem do mundo, se tornando o ‘Sobá de Campo Grande’ motivo de orgulho e turismo para a Capital.
Uma das barracas mais antigas da Feira é a Barraca da Niria. Tadashi Gabriel Nishihira Katsuren, natural de Campo Grande, é o atual dono do local, que já está na terceira geração da família. A família é a pioneira em sobá no local, tendo sua história iniciada em 1965. Ele relata que o prato vendido na Capital é uma derivação de um prato de Okinawa.
“Então, quando meus avós começam a vender esse prato na feira central, eles vendem com as lembranças e as memórias da ilha de onde eles vieram. E era feito mais voltado para os imigrantes. Eles foram os primeiros consumidores, até o ponto em que começou a atiçar a curiosidade da população”, relata.
Entretanto, devido a preconceitos da época, os avós de Tadashi montavam as mesas com cortinas feitas de toalhas, para que quem fosse degustar do prato pudesse comer escondido.
“Naquela época não era comum a pessoa comer de palitinho, comer uma tigela com sopa, com macarrão. Não era algo convencional, então todo mundo tinha vergonha. Acabou que essas toalhinhas acabaram chamando mais atenção, o pessoal ficou curioso para saber o que estava acontecendo”, relembra Tadashi ao jornal O Estado.

Foto: Reprodução
Ainda conforme Tadashi, mesmo após 18 anos, a população de Campo Grande segue firme e forte com a festa. “Embora sempre tenham turistas, gente de fora que vem visitar o Pantanal, o nosso maior público é o campo-grandense. O festival é uma festa regional, feita para quem frequenta aqui, é um evento que sempre dá muita visibilidade para nós, para a cultura do sobá em Mato Grosso do Sul e a cada ano fazemos que ela fique cada vez melhor”.
A programação completa pode ser conferida pelas redes sociais @feiracentralcg
Por Carolina Rampi