Presença feminina cultiva cenário mais justo na indústria e na vida

Foto: João Carlos Castro
Foto: João Carlos Castro

Entre ferramentas e máquinas, mulheres são decisivas para um futuro sustentável em igualdade

Em meio ao palpitar das máquinas e da agitação da indústria, surge no horizonte sul-mato-grossense, a esperança de um futuro em tom verde feminino. Isso porque, de acordo com dados divulgados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número de mulheres na indústria entre 2021 e 2022 deu um salto, ao sair de 2.249 para 2.816, o que significa um aumento em 25,21%.

Na atual realidade de Mato Grosso do Sul, as mulheres são presença forte e simbólica. Se de um ano para o outro elas apresentaram um salto significante, de 2018 a 2021, elas se mostram ainda mais expressivas no segmento. Conforme apresenta a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), as mulheres ocuparam mais espaços na indústria sul-mato-grossense no período, ao conquistar 4.589 vagas, o que significa um total de 53% de novos postos formais de trabalho em atividades desenvolvidas no Estado.

Com uma base florestal de 599.996 hectares espalhada por nove municípios de Mato Grosso do Sul – Água Clara, Aparecida do Taboado, Bataguassu, Brasilândia, Inocência, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo, Selvíria e Três Lagoas, sendo 143.129 hectares exclusivamente para a conservação da biodiversidade, o ponto de partida na produção da Suzano começa nos viveiros. Quando as mudas de eucalipto atingem a maturidade necessária, são transportadas para o plantio.

Todo o processo, do plantio à colheita, respeita as características da região e utiliza sistemas eficientes que contam com equipamentos de última geração. Somente em 2022, a Suzano colheu 12,684 milhões de m³ de eucalipto para abastecer as duas fábricas em operação em Três Lagoas, de acordo com dados do Resumo do Plano de Manejo Florestal MS.

Com programas de monitoramento da qualidade do ar, da água e de conservação de biodiversidade, a Suzano já conta com um catálogo com mais de 1,4 mil espécies diferentes de animais e plantas. O diferencial dentro da indústria, se mostra não só pelo olhar apurado para um cenário mais sutentável e eficaz para o planeta, como ainda, pela geração de emprego e renda para aqueles que habitam nas regiões atingidas pela onda verde que a industrialização, a partir de grandes empresas, promove.

Com uma participação feminina aumentada em dois pontos, ao passar de 24% para 26%, dados da Rais mostram que pelo menos 33,5 mil mulheres foram empregadas na indústria de MS até 2021, o que abre margem para um genuíno otimismo, onde a igualdade de gênero não precise ser pauta de melhora, e encontre, na prática, oportunidades que possibilitem uma vida mais digna.

Afinal, dentro da proposta de compromissos globais e agenda instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) até 2030, a Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul) se compromete por meio do ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), assegurar um ambiente onde temas como trabalho e direito econômico, saúde de qualidade, erradicação da fome e redução das desigualdades sejam uma máxima.

Do âmbito micro para o macro, as mudanças precisam partir de indivíduo a indivíduo, para somente então alcançar o todo. Com isso, abre-se o questionamento, de como é possível construir uma indústria sustentável e mais justa para o meio-ambiente e para o mundo, sem considerar ao menos, que as grandes transformações, surgem do esforço individual e de um olhar pontual e humano para o trabalhador, ou, neste caso, para as trabalhadoras.

Braço forte da indústria feminina em MS, a vice-presidente da Fiems, Cláudia Volpini, é uma das representantes e, sobretudo, mulher, que sabe das dificuldades e desafios que enfrentou para construir uma carreira sólida na indústria, que hoje, felizmente, tem admitido mais do que antes, a sagacidade das mulheres para o trabalho. “Elas perceberam que seria, sim, possível, acessar direitos que até aquele momento eram apenas dos homens, como o direito ao voto. A organização propiciada pelo trabalho em fábrica, levou-as a exigir, mesmo que de forma tímida, seus direitos cidadãos. Desde sempre a indústria promoveu isso: organização, reflexão e oportunidades”, afirma Volpini.

As mulheres conseguem administrar mais de uma atividade simultaneamente. Isso reflete significativamente no desempenho dela na empresa. Sua sensibilidade e intuição, ajudam a superar os desafios do dia a dia do empresário brasileiro” – Claudia Volpini

Indústria 4.0: Revolução do trabalho ao lar

Dentro dos lares, o impacto trazido pela renda que provém do trabalho digno, executado por cada mulher empregada na indústria, não só faz a diferença, como transforma a vida de milhares de pessoas por todo o país. Afinal, dados do PnadC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), mostram que a quantidade de lares chefiados por mulheres entre 2012 e 2022, cresceu 72,9%, ao passar de 22,2 milhões para 38,3 milhões. A participação feminina como responsável do lar, neste mesmo período, cresceu de 35,7% para 50,9%, enquanto a dos homens caiu de 64,3% para 49,1%.

Com qualidades indispensáveis para uma indústria cada vez mais evoluída, uma das conclusões obtidas através do relatório de “Manufatura – Tendências Globais de RH 2023”, promovido pela Gi Group Holding, revela que a indústria 4.0, deve ampliar a presença feminina nas empresas brasileiras, a fim de suprir a escassez de mão de obra qualificada.

Em Mato Grosso do Sul, a Suzano, maior produtora mundial de celulose e uma das maiores produtoras de papel da América Latina, hoje conta com 30% de mulheres em seu quadro de colaboradores. De acordo com um levantamento feito pela empresa, entre 2020 e o início de 2021, foram pelo menos 104 contratações de mulheres no Estado, o que demonstra um caminhar mais inclusivo, dentro de uma indústria que por muito tempo, foi conhecida como um ambiente majoritariamente masculino.

Volpini é uma das entusiastas que acredita no olhar apurado da mulher para uma indústria mais sustentável e, sobretudo, banhada pelo tom verde esperança, que traga não só o desenvolvimento corporativo, como ainda, leva dignidade para as mães e chefes de família. “Ainda vemos resistências, ainda existe muito corporativismo masculino, mas isso tende a diminuir em ritmo acelerado, juntamente com o acesso ao preparo intelectual, onde inegavelmente a mulher tende a sobressair. Quando uma mulher se sobressai a ponto de assumir não somente a direção de sua empresa, mas também representar todo um setor, é muito gratificante. Hoje temos algumas mulheres na direção de indústrias cerâmicas, seja em parceria com esposos, pais, mas também sozinhas, inclusive transferindo a sucessão para filhas, como eu estou fazendo”, celebra.

A jovem técnica de ativo fixo, Isabela Delai, 24 anos, moradora de Ribas do Rio Pardo e prestadora de serviços na empresa Suzano, é um exemplo prático de que a chegada da indústria no interior do Estado, tem gerado mais oportunidades e uma vida mais justa em termos de igualdade de gênero, mas também, em outros pontos, como trabalho digno e crescimento econômico.

A técnica explica que atualmente trabalha de segunda a sexta e conta com benefícios como plano de saúde, vale alimentação, além da empresa buscá-la em casa e, na sexta-feira, sair mais cedo. Embora pareça o básico para um trabalhador, a jovem ressalta que na atualidade, são poucas as pessoas que sabem o que é ter uma condição digna de trabalho. “Eu não tenho o que reclamar, tenho todo o suporte. É legal que eles estejam sempre divulgando os cursos que tem no Senai, porque eles tem parceria com o Senai aqui em Ribas. É um lugar gostoso de você estar, é um ambiente legal. [Na empresa] Não pode acontecer nada que a pessoa se sinta mal. Tem a ouvidoria e lá tem suporte para tudo, independente se for um chefe incomodando, um colega de trabalho ou uma pessoa de outra empresa, pode ter certeza que a Suzano irá tomar medidas contra isso”, explica a técnica.

A empresa, que tem se destacado em boas práticas em MS, reconhece que um futuro mais justo precisa ser construído em conjunto. Em apoio ao evento JUNTOS, promovido pelas Redes Unidas pelo Voluntariado Empresarial, formada por seis redes de promoção e fortalecimento do voluntariado empresarial no Brasil, na América Latina e no mundo, a Suzano destacou a transformação social como fator decisivo. “Nós temos muito orgulho de engajar pessoas e entidades no trabalho genuíno do voluntariado e ver o potencial desse movimento pelo Brasil, reforçando o nosso propósito de transformação social. Por isso, neste Dia do Voluntariado, gostaríamos de parabenizar as pessoas que inspiram e transformam na construção do futuro que queremos para as próximas gerações”, disse a coordenadora de voluntariado e projetos de formação da Suzano, Elisabete Flores Pagliusi.

Verde esperança – Um tom feminino

Se no início da Revolução Industrial, as mulheres ocupavam funções que ganharam a alcunha de “trabalho do cuidado”, ao desempenhar atividades de subserviência como limpar os espaços e servir as refeições, na atualidade, elas mostram que estão prontas para o páreo, ao desempenhar funções altamente complexas.

Dados do Observatório Nacional da Indústria, da CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostram que entre 2008 e 2021, houve um aumento de 24% para 31,8% da participação delas em cargos de gestão no setor, ou seja, em comparação a outros setores da economia, o crescimento foi de 32,5% frente a 9,8% em cargos de liderança.

Desenvolvidas desde cedo, as mulheres do verde esperança na indústria, buscam galgar seu espaço enquanto jovens. Em MS, a Bracell, é uma das que abrem as portas para que novos talentos surjam. Ao abrir inscrições para o seu Programa de Trainee, a empresa implementa jovens em atividades operacionais industriais, florestais, logísticas e administrativas.

Como afirma a gerente de recrutamento e seleção da Bracell, Marcela Fagundes Pereira, a ideia é buscar e “atrair jovens profissionais que se identifiquem com o setor de celulose, em franca expansão no Brasil, e desejem apoiar o crescimento da empresa”. Com duração de um ano e meio, o programa contém um plano desenvolvido para aprimorar habilidades de modo que, ao final da experiência, a candidata esteja preparada para assumir posições estratégicas na companhia.

A trainee da Bracell, Serena Ferreira Rodrigues, vinda do estado do Paraná para Mato Grosso do Sul, explica que o programa é um fator de transformação. “Sou formada em Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília, mas morei no estado do Paraná e foi lá que fiquei sabendo do Programa de Trainee. Na época da faculdade tinha interesse em manejo de bacias hidrográficas, mas quando passei a atuar na área de silvicultura como trainee na Bracell, mudou muito a minha visão. Além de desenvolver o meu conhecimento técnico, o programa também possibilitou ampliar a minha visão estratégica do processo. Além disso, mudei de cidade, conheci o estado de Mato Grosso do Sul por meio do programa e superou todas as minhas expectativas”, comemora Rodrigues.

Além do programa de incentivo para jovens mulheres, a Bracell também faz parte da RMF (Rede Mulher Florestal) desde dezembro de 2022. Embora recente, a trajetória desenvolvida dentro da indústria verde, a partir de mãos femininas, mostra que fibra é o que não falta para aquelas que visam liderar com responsabilidade. A exemplo, a executiva da organização, Lais Drezza, que assumiu seu lugar no Conselho Diretor da RMF, iniciativa independente e pioneira, que promove ações para a equidade de gênero, com foco na inclusão de mulheres no setor florestal.

Para Drezza, a presença em iniciativas como esta, representa um ambiente de trabalho cada vez mais igualitário. “Acredito que esse é o momento perfeito para assumir o desafio junto à RMF, uma vez que estamos discutindo também as metas de sustentabilidade de longo prazo da Bracell, incluindo as de diversidade e inclusão. Os dados da RMF são muito importantes para a elaboração dessas estratégias e, agora que estou dentro da organização, pretendo ouvir, entender, aprender com as associadas, e impulsionar essa agenda na Bracell e no setor florestal como um todo, com foco no planejamento estratégico 2022-2026. Além disso, será importante mostrarmos às nossas colaboradoras que elas estão representadas e que a companhia está realmente comprometida com o tema”, afirma a executiva.

Por – Julisandy Ferreira

 

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