População bovina ultrapassa 16 mi e MS é o quarto do país

Reprodução/Fazenda Luapa
Reprodução/Fazenda Luapa

Levantamento do IBGE aponta o Centro-Oeste como maior região

 

Dados publicados por meio do Censo 2022, em levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontam que 11 dos 26 Estados brasileiros contam com mais cabeças de gado do que pessoas. Somente no Centro-Oeste, o número de animais chega a 75.413.186, em contrapartida ao de pessoas, que totaliza 16.287.809. Mato Grosso do Sul aparece em segundo lugar no ranking por região, com 18.608.503 cabeças de gado e tem a quarta posição do país.

Segundo o economista do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho), Staney Barbosa Melo, para entender como é e por qual razão o rebanho brasileiro ultrapassou a quantidade de pessoas no país, é preciso olhar para questões que vão além do cenário econômico.

Com 8.514.876 km² de território, a criação de gado no Brasil surge como mecanismo de ocupação e expansão dos vazios demográficos do país. “Podemos dizer que um dos fatores que contribuíram para o sucesso e evolução do rebanho bovino no Brasil é seu vasto território e a necessidade de ocupá-lo”, observa. 

Barbosa afirma ainda que,= assim como as pessoas adentraram e ocuparam o Centro-Oeste brasileiro, ocorreu o mesmo com o gado. Afinal, a pecuária extensiva encontrou habitat natural, composto de uma natureza que entrega tudo que o animal precisa. Em termos de cultura, ele coloca ainda que um fator determinante da gênese e desenvolvimento da pecuária foi a simbiose entre homem e animal. Como desenvolve, em seu raciocínio, “cuidar do rebanho é tarefa sagrada para o pecuarista”, define. 

O pecuarista da Fazenda Luapa, localizada em Cassilândia, Leonardo Rodrigues Paladini, esclarece que a criação do gado em MS é forte e concorda que, além de econômica, a questão é cultural. “Você pega em outros Estados ou em Mato Grosso do Sul e existe sempre uma concorrência em relação a culturas. Por exemplo: entrada de soja, entrada de eucalipto, e hoje MS vai crescendo muito na questão do eucalipto. Em Mato Grosso, forte é a soja, no Estado de São Paulo, a cana. Mato Grosso do Sul tem uma história de produção pecuária”, avalia Paladini.

Segundo o pecuarista, com a industrialização e a interferência de grandes fábricas no Estado, a agropecuária pre-cisará lutar para manter seu espaço. “O desafio que a gente está enfrentando, no MS, no momento, é a entrada do eucalipto.

Tem várias regiões e fazendas grandes que estão se tornando produtoras de eucalipto, por causa das fábricas de Ribas do Rio Pardo e, futuramente, em 2025, a entrada de outra empresa em Inocência. (…) Para ela conseguir ficar, ela vai ter que ser valorizada, o produto final vai ter que ser valorizado, para o Estado continuar produzindo pecuária, se não, ela vai perdendo espaço, como aconteceu em regiões de cana e em concorrência com outras culturas”, comenta.

Na visão do especialista Staney Barbosa Melo, a valorização da agropecuária se entrelaça fortemente ao PIB. “Trata-se da linha mestra de todas as atividades econômicas. Se o PIB cresce, todas as atividades na economia tendem a crescer junto, inclusive o rebanho, nos dando pistas da contribuição deste segmento para a geração de riqueza no país. Se olharmos para outros indicadores, como o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária), vemos que, em 2022, a bovinocultura gerou, ao país, aproximadamente, R$ 151 bilhões, segmento que representou, sozinho, 12,7% de todo o VBP gerado pela agropecuária brasileira”, avalia.

 

Pecuária sustentável e estradas são fundamentais para a manutenção de comunidades pantaneiras

O Pantanal tem uma ocupação humana de mais de dois séculos, porém há relatos da presença de bovinos na planície que datam entre os anos de 1600 a 1700. As áreas privadas representam, aproximadamente, 95% do bioma, com cerca de 85% do território mantendo sua cobertura nativa. Com essa afirmação, o presidente da ABPO, Eduardo Cruzetta, defende o desenvolvimento do bioma, até hoje preservado pelos pantaneiros. Ele reforça os dados do IBGE, que sinalizam para uma área de 15 milhões de hectares dos quais 65% (9,73 milhões de ha) estão em Mato Grosso do Sul, ocupando 27% do território estadual. “A pecuária está presente no Pantanal há mais de 300 anos, de forma sustentável, para que as próximas gerações tenham acesso aos recursos naturais que o bioma oferece. Para continuar com essas características, a ABPO desenvolve parcerias com instituições locais, nacionais e internacionais, com o objetivo de fornecer informações, tecnologia e estrutura para instruir e atualizar os pantaneiros sobre a produção sustentável”, explica o presidente da ABPO (Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável).

Outro aspecto levantado pela ABPO diz respeito às estradas construídas no bioma, que conectam pontos importantes. Essa infraestrutura é fundamental, principalmente para as comunidades que vivem em áreas isoladas e muitas vezes precisam deixar o Pantanal, para ter acesso prático a escolas, postos de saúde e serviços de assistência. 

 

[Julisandy Ferreira– O ESTADO DE MS]
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse também as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *