Indústria Verde de MS move setor, se transforma em energia e surfa na sustentabilidade

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Reprodução/Semadesc Reprodução/Eldorado Brasil Reprodução Adecoagro

Cases de sucesso vão de termelétricas movidas a cavaco de madeira a trator de biometano

Lembra-se das fumaças saindo pelas chaminés de indústrias? Lagoas de decantação na beira de frigoríficos, exalando mau cheiro, ou mesmo despejo de produtos químicos em rios? Pois bem. Estas imagens estão cada vez mais no passado. A realidade vem mudando e as indústrias têm se tornado cada vez mais verdes, em Mato Grosso do Sul. As tais exigências não vêm apenas do clamor de consumidores brasileiros, mas dos mercados que regem mundialmente.

É a tal agenda sustentável, que se caracteriza por neutralizar ou zerar a emissão de GEE (gases de efeito estufa), nocivos à saúde e ao meio ambiente. São ações que promovam a chamada economia circular nas indústrias, medidas de governança e gestão calcadas na sustentabilidade. Nesta revolução industrial, algumas práticas, há anos, estão presentes nas indústrias do Estado. Os destaques estão na celulose, com seu plantio de florestas e energia renovável, no setor sucroalcooleiro, com geração de bioenergia de bagaço de cana-de-açúcar, em frigoríficos e granjas de suínos que transformam literalmente os resíduos e dejetos das fábricas em biogás e até em combustível, que é o biometano.

O crescimento do setor da celulose em MS se alinha à busca por projetos menos agressivos ao meio ambiente. A Eldorado Brasil, por exemplo, que tem fábrica instalada em Três Lagoas-MS, desde de 2010, tem a sustentabilidade como um dos seus pilares. Outra é a unidade da Suzano, em Ribas do Rio Pardo-MS, que com o “Projeto Cerrado” já plantou mais de 250 mil hectares de florestas e tem um amplo plano de redução de emissão de gases de efeito estufa. A importância de se fomentar a agenda sustentável na indústria é vista como uma tendência pelo secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck. “Os exemplos na celulose são de indústrias que já atuam na descarbonização dentro dos preceitos de uma agenda sustentável. A indústria segue a política defendida pelo governo, de validar o desenvolvimento da sustentabilidade no setor da celulose e também no setor sucroalcooleiro”, reitera o secretário.

Uso do selo de certificado 

A chamada Indústria Verde é uma das bandeiras que integram a política do Governo do Estado para chegar ao Carbono Neutro em 2030. MS é pioneiro em medidas para a redução da emissão de gases de efeito estufa e combate a queimadas no Pantanal, no país. São políticas de incentivos à sustentabilidade como o “MS Renovável” na descarbonização e recuperação de rios, como de Taquari. “Normalmente, nossa indústria é chamada indústria do agro ou de processamento agrícola. Nós temos pouco potencial de indústria química de petróleo, que são as mais poluentes. Por esta razão, acreditamos que, em MS, a indústria também tem que desempenhar seu papel”, salientou Verruck.

O Governo do Estado tem atuado junto à Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), para que o setor consiga reduzir suas emissões de carbono. O setor faz isso avaliando quanto a produção industrial gera de CO2 na atmosfera. “Este é o primeiro levantamento. A partir daí, uma das estratégias que ela pode fazer é alterar sua tecnologia, mudar sua forma de ação, produzir novos combustíveis e usar a energia renovável”, acrescentou Verruck.

A indústria de MS tem procurado cumprir seu papel em busca deste certificado. “O governo está tratando e nós vamos dar um selo para certificar tais empresas. Quem cumpre este protocolo reduz a emissão e faz um balanço. Nós vamos dar um selo com algum tipo de benefício para as empresas, assim como fazemos com a área rural. A ideia é o governo incentivar políticas públicas sustentáveis, tornando realmente o MS que queremos chegar, em 2030, como o Estado Carbono Neutro”, enfatiza o secretário.

O governo publicou, em junho de 2023, um decreto que obriga toda a indústria que venha para o MS, além dos estudos ambientais, a realizar um balanço de sustentabilidade. “Então, ela já tem que apresentar, na instalação ou na renovação de sua licença, as que estão instaladas e as que estão vindo, este documento. Esta é uma questão inédita no Brasil, e estamos trazendo isso para o processo de licenciamento, o balanço de emissão de carbono e depois chamamos de trajetória”, revela Verruck.

Desde 2022, o Senai-MS desenvolve seu programa de Carbono Neutro. De acordo com o diretor-regional do Senai, Rodolpho Caesar Mangialardo, a proposta é acompanhar a meta do governo estadual de neutralizar a emissão dos gases do efeito estufa. Neste primeiro momento, está sendo feito o cadastro de todos os CNPJs das empresas. Seria uma espécie de inventário individual de remissão de gases de efeito estufa para que depois o Senai- -MS entre com um projeto de plano de ação para mitigar e reduzir essa emissão de gases na indústria. “O próximo passo é iniciar a comercialização dos créditos de carbono. A ideia é criar uma criptomoeda, com o nome de carbonus. Paralelo a isso, passa-se a certificar as usinas fotovoltaicas que geram crédito de carbono. E começa a ser feito o inventário de créditos de propriedades rurais. Hoje, a gente tem, no Estado, algo próximo de 100 mil hectares, concluído o inventário, vão gerar em torno de 68 mil toneladas de carbono”, explica, com entusiasmo, Rodolpho Caesar.

Termelétrica de Três Lagoas é exemplo por ser autossuficiente em energia limpa

A Eldorado Brasil Celulose é uma das mais eficientes e sustentáveis empresas de base florestal para a produção de celulose do mundo. A companhia opera, em Três Lagoas-MS, uma fábrica com capacidade para produzir 1,8 milhão de tonelada de celulose por ano. Em energia limpa, há a geração de 50 megawatts/hora de energia na usina termelétrica Onça Pintada, além da mesma quantidade na planta de celulose – que é autossuficiente.

A base florestal é de mais de 293 mil hectares de florestas plantadas em Mato Grosso do Sul. Para dar condições para operar em níveis de excelência, a companhia conta com o trabalho de mais de 5 mil colaboradores no Brasil e em escritórios internacionais. Em Santos-SP, a Eldorado Brasil opera um dos maiores terminais portuários multimodais da América Latina, com capacidade para exportar até 3 milhões de toneladas de celulose por ano.

Em 2022, as florestas da empresa sequestraram 16 vezes mais carbono da atmosfera do que o emitido por todas as operações próprias da companhia para o mesmo período – cerca de 4,5 milhões de TCO2e (toneladas de carbono equivalente).

Essas e outras iniciativas ajudam a explicar por que em 2022 foram produzidas 1,832 milhão de tonelada de celulose, 3,1% a mais que no ciclo passado – o que levou a receita líquida a R$ 7,5 bilhões e o EBITDA ajustado a R$ 4,6 bilhões (24,5% e 30% superior a 2021, respectivamente).

Ao atingir uma década e antecipar a produção que era esperada para 11 anos, a Eldorado Brasil criou uma marca inédita no mercado internacional de celulose e se posiciona entre as mais eficientes do mundo, no setor. Fez isso sem renunciar aos seus pilares e dentro das melhores práticas ESG. Um marco para uma Eldorado “jovem”, mas que segue à risca seu plano de negócios, pensando sempre à frente.

“A celulose é a razão de existir da Eldorado Brasil e os produtos feitos pela empresa são imprescindíveis para a sociedade. O crescimento da companhia está diretamente ligado a toda a sua cadeia de valor”, explica o diretor de RH, Sustentabilidade e Comunicação, da Eldorado Brasil Celulose, Elcio Trajano Jr.

A gestão ambiental define as ações e metas para o avanço do tema na companhia. Ao longo de toda a cadeia que envolve plantar florestas de eucalipto e extrair a celulose da madeira, há uma série de investimentos em soluções e boas práticas silviculturais, exemplificando que o agronegócio e o meio ambiente não precisam caminhar em lados opostos. “A empresa se compromete com a conservação da biodiversidade nas suas áreas de atuação. Os indicadores ambientais (energia, água e efluentes, emissões e resíduos) são monitorados sistematicamente, para que a companhia se torne cada vez mais eficiente”, explica Elcio Trajano.

Para alcançar os números que fazem parte do relatório, a Eldorado aposta em inovação, pilar da companhia desde sua fundação. Em 2022, a Eldorado deu início ao projeto Floresta 5.0, com análise estatística avançada e sensores instalados em máquinas e florestas, disponibilizando dados sobre o crescimento das árvores em tempo real. A eficiência operacional da companhia, medida por meio do máximo ritmo sustentável sobre a média de produção, ficou em 95% em 2022, maior desde a partida da fábrica. Parte desse aumento provém do uso de modernas tecnologias que automatizam os processos da fábrica, com a indústria 4.0 e da inteligência artificial.

A Usina Termelétrica Onça Pintada, situada no mesmo complexo da fábrica de celulose da Eldorado, iniciou suas operações em abril de 2021, com capacidade instalada de 50 mw (megawatts). O empreendimento se destaca pela tecnologia que utiliza biomassa feita de madeira de eucaliptos não aproveitados para a produção de celulose, conferindo ainda mais eficiência e sustentabilidade ao processo produtivo da Eldorado Brasil.

Dejetos de suínos viram luz e movem tratores em Brasilândia-MS

A SF Agropecuária, que fica em Brasilândia-MS, usa os dejetos de suínos no abastecimento de energia por meio de geração distribuída, com o abate de 188 mil animais por ano e conta com diversas atividades. Entre elas, estão suinocultura, a pecuária, a agricultura e a geração de energia elétrica. O proprietário da SF, Fábio Barros, é o idealizador do trabalho.

“Estamos com este sistema no caminho do Carbono Neutro”, citou, lembrando que a fazenda é incentivada pelo Programa Leitão Vida, no estágio avançado. A fazenda adota o conceito de economia circular, ou seja, aproveita os dejetos dos suínos e bovinos como fertirrigação e adubo. O sistema de biometano instalado na fazenda produz o gás, que é gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos.

Ele é composto por um biodigestor, sistema de purificação de biogás, gerador, tratores e caminhões pesados. O novo ecossistema é o primeiro do tipo no Brasil e promete revolucionar o mercado de biogás.

O lançamento dessa solução inédita no mercado de biometano brasileiro é resultado de uma colaboração bem-sucedida entre New Holland, Iveco Group, Sebigás Cótica e Air Liquide. O projeto ainda deverá se estender para a utilização do lodo dos confinamentos na produção de biogás.

Pioneira, indústria de Ivinhema-MS prepara próxima usina de combustível renovável

Além de processar a cana- -de-açúcar para a obtenção de açúcar e etanol, a Adecoagro, instalada em Ivinhema-MS, é um exemplo em economia circular na retirada do processo de decomposição anaeróbica de resíduos orgânicos no país. A usina gera biomassa a partir do resíduo fibroso, o chamado bagaço. O subproduto gera vapor e eletricidade, sendo que a maior parte da energia gerada é consumida nas instalações e a restante é vendida ao Sistema Nacional de Distribuição de Eletricidade.

A energia elétrica que é fornecida à rede estadual é suficiente para atender a demanda de 1 milhão de pessoas. A empresa usa outros subprodutos do processo industrial para produzir biofertilizantes, que são devolvidos às lavouras. As cinzas das caldeiras junto à torta de filtro passam por um processo de compostagem e são utilizadas como adubo orgânico nas áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Nas usinas de Angélica-MS e Ivinhema-MS, a vinhaça gerada no processamento da cana-de-açúcar passa pelo método de concentração industrial e depois é convertida em adubo orgânico líquido. Este processo é registrado e reconhecido pelo MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) e é aplicado como biofertilizante nas lavouras de cana, enquanto a outra parte é utilizada na fabricação de biogás e de biometano. Na usina de Ivinhema é produzido o biogás a partir da vinhaça concentrada, que é um subproduto da produção de etanol. Esse biogás é usado principalmente para aquecer a água da caldeira, no processo de cogeração de energia.

O projeto começou em 2010, em parceria com a Methanum, empresa que desenvolveu o primeiro biodigestor da empresa. Hoje, a Adecoagro comprou a Methanum. O novo negócio de biometano já nasce com uma patente da tecnologia desenvolvida para a produção e purificação do renovável na usina de Ivinhema. O foco principal do negócio deve ser a clientela do setor sucroenergético, que tem o maior potencial de produção de biometano do país. A nova empresa também oferecerá tecnologia para gerar biometano de rejeitos animais e de aterros sanitários.

A estratégia é aproveitar a onda de crescimento esperado para a produção do biometano no país, que hoje não chega a 3% de seu potencial. Na visão da companhia, não apenas há potencial como existe um cenário favorável para investimentos no gás renovável. Atualmente, parte da frota da usina já é abastecida com biometano produzido a partir da vinhaça da cana, na Usina Ivinhema-MS. A companhia vem desenvolvendo tecnologias para a produção de biogás há 15 anos e agora está abrindo novas oportunidades de negócios, em diferentes mercados.

A Adecoagro está usando cerca de 3% da vinhaça gerada, para produzir 6.600Nm3/dia de biometano, o equivalente a 6.000 litros de diesel/dia. Com a construção e inauguração de mais um biodigestor na planta de Ivinhema para 2023, a empresa dobrará sua capacidade. Isto permitirá a substituição equivalente a 4,3M de litros de diesel, o suficiente para abastecer 66 caminhões canavieiros.

Por Bruno Arce – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

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