Secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe afirma que redução pode estar relacionada ao Ramadã
As exportações de carne bovina e de derivados de frango de Mato Grosso do Sul para os países árabes registraram uma redução significativa neste primeiro trimestre do ano. De acordo com dados do sistema oficial de estatísticas do comércio exterior brasileiro, a exportação de frango, que vem crescendo a nível nacional, apresentou uma queda de 31,46% sobre o mesmo período do ano anterior, com Mato Grosso do Sul exportando apenas US$ 23,11 milhões para a Liga Árabe.
Outra diminuição significativa veio através da carne bovina, com uma retração 46,23% sobre o mesmo período do ano anterior, entre os primeiros três meses, o Estado exportou aos 22 países que formam o bloco um total de US$ 44,30 milhões. Uma das razões que possam explicar essa baixa nas exportações se deve ao Ramadã, feriado sagrado para os muçulmanos e que tradicionalmente reduz o ritmo de embarques para a região. Mesmo assim, entre os Estados brasileiros, o Mato Grosso do Sul foi o quinto maior exportador de carne bovina para os mercados árabes e ainda se mantém como o sétimo maior exportador de frango.
O economista Sthenio Martins aponta que mesmo com as quedas mais recentes nas exportações, o fato do Estado se consolidar entre os dez maiores exportadores de carne, tanto bovina quanto de frango, para os Emirados Árabes Unidos é reflexo de modernizações na produção de carne bovina e de aves. “Nosso Estado tem sido referência na pecuária sustentável tanto a nível nacional quanto mundial, no qual, com uso de tecnologias e políticas públicas há um aumento na produtividade e, gera também, o avanço da rastreabilidade dos rebanhos que possibilita atender a demanda crescente pela segurança alimentar de mercados exigentes, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos que, além da necessidade do abate halal, é feito a rastreabilidade completa dos animais”.
Sthenio ainda ressalta a importância de investidores e empresas da região em explorar novos mercados para impulsionar a economia local e aumentar as oportunidades para os produtores. “Mercados alternativos como o caso dos Emirados Árabes Unidos, oitavo maior comprador dos itens produzidos em Mato Grosso do Sul, contribuem para a diversificação da economia de nosso Estado e a busca pela sustentabilidade durante os processos de produção. Isso pode ser exemplificado pelos produtos exportados do MS para os Emirados em 2024, que vão de celulose, carne bovina, açúcar a calçados, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior”.
Em nota, a Famasul destaca uma queda considerável no início deste ano, reflexo do cenário das exportações, especialmente de carne de frango para os países árabes, e das recentes oscilações no mercado externo. Apesar dos desafios, a valorização da carne no comércio internacional tem contribuído positivamente para a economia regional. “A valorização no preço da carne no mercado externo estimula a economia local. Para os exportadores é a possibilidade de aumento de faturamento e receita, viabilizando novos investimentos, melhorias no sistema produtivo e geração de mais empregos. Para os produtores é a garantia de que haverá demanda e estímulo para manutenção do alojamento de frango já que estamos falando de uma atividade de ciclo curto, no sistema intensivo e integrado”. Para a instituição, os principais desafios da exportação de produtos sul-mato-grossenses para a Liga Árabe envolvem, principalmente, as diferenças culturais e linguísticas entre os países. Além disso, a grande distância geográfica encarece o custo de transporte, impactando diretamente a competitividade dos preços.
Exportações Nacionais
A nível nacional, as exportações de carne de frango do Brasil para os países árabes aumentaram em 9,95%. De acordo com uma pesquisa da Câmara de Comércio Árabe, esse crescimento está no mesmo ritmo do ano passado, alcançando um total de US$ 936,29 milhões. A Arábia Saudita é o principal comprador, com aquisições de US$ 256,94 milhões, seguida pelos Emirados Árabes Unidos, que compraram US$ 224,50 milhões, e pelo Iraque, com US$ 98,76 milhões.
Em termos de volume, os países árabes importaram 453,59 mil toneladas de frango brasileiro no primeiro trimestre, marcando um aumento de 3,30% em relação ao ano anterior. Por outro lado, as vendas de derivados bovinos, que tiveram um bom desempenho no ano passado, caíram 12,02%, somando US$ 391,78 milhões.
Em entrevista ao jornal O Estado, o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Mohamad Mourad explica que essa parceria comercial entre os países é recente, e tem se fortalecido ao longo das últimas duas décadas, sendo marcada por uma crescente demanda por produtos brasileiros, especialmente na área de alimentos. “Os países árabes, devido à sua geografia, são grandes importadores de alimentos, consumindo muito mais do que conseguem produzir localmente. Essa dependência do Brasil é fundamental para garantir sua segurança alimentar. Além disso, o Brasil, nos últimos anos, tem desenvolvido significativamente seu setor agrícola, o que resulta em uma produção abundante, de alta qualidade e com grande competitividade. Com isso, há um alinhamento entre a necessidade dos países árabes de assegurar sua alimentação e a capacidade do Brasil de atender a essa demanda”.
O secretário ressalta que nos primeiros meses deste ano, houve uma queda nas exportações de proteína, e isso se deve ao período do Ramadã. “Isso está muito ligado ao calendário, especialmente ao Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos. Vale lembrar que mais de 95% da população dos países árabes é muçulmana. E o Ramadã tem um impacto direto no comércio. Nos próximos anos, o Ramadã continuará ocorrendo cada vez mais cedo”. Em sua análise, quando a data se aproxima, o ritmo do comércio exterior, especialmente com os países árabes, desacelera. Depois do Ramadã, o ritmo volta ao normal, e o mercado tende a se aquecer novamente.
Por João Buchara
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