Agô!! Agô!! Para entrar nesse lugar saudando os meus mais velhos, os meus mais novos, os que estão presentes e aqueles que virão de pois de nós!! Axé e benção a todos!!
Não é difícil ouvirmos o questionamento: “Para que o Dia da Consciência Negra, uma vez que somos todos iguais ou só existe a raça humana?” Instituído em novembro de 2011 (Lei nº 12.519) e convertido em feriado nacional no ano de 2023 (Lei 14.759), o dia seria para discutir e refletir sobre ações que combatam o racismo estrutural que ocorre diariamente na sociedade brasileira, na tentativa de diminuir esses episódios que nos últimos anos parecem que “insistem” em permanecer.
Negar a necessidade de ter um dia alusivo às análises das desigualdades que estão presentes em nossa sociedade e em toda herança, bem como, sobre as resistências do povo negro, é não reconhecer e diminuir, ou mesmo tentar apagar mais uma vez, o legado de um povo e as suas dores. Conscientizar sobre as questões étnicas é uma condição diária não só em novembro, pois as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 trazem uma oportunidade desse processo em ambiente escolar. Ambas as leis tornam obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.
Outrossim, existem outros questionamentos, por exemplo, sobre quando teremos um dia da “Consciência Branca” ou sobre “racismo reverso”. E dessa forma, observa-se que uma grande parte da população que não se reconhece, inclusive, como negra, e uma outra parte que tem a pele clara, mas desconhece a história e as definições do que venha a ser racismo, discriminação e preconceito. Dia da Consciência Negra é para negros e não-negros… Para que os negros reafirmem ou se identifiquem e os não-negros compreendam essas questões anteriores citadas.
Há pessoas que para não repensarem em suas ações e por não assumirem suas posturas promovem um discurso de que não é preciso ter um dia específico para isso e ainda se colocam em discordância dizendo que é forçar uma ideologia e que não concordam, pois acreditam no mito da harmonia racial brasileira, para o qual todos, independente da tonalidade de pele, são tratados da mesma forma. O que nos remete avaliar o incômodo que é gerado a quem não se propõe ao menos compreender as dores de outro ser humano, por ter a sua ancestralidade marcada na pele como legado, pois negros sentem com e na pele todas as nuances desses discursos que (in)visibilizam as possiblidades e as oportunidades de deixarem esse imaginário social associado a condições depreciativas (nuvem negra; ovelha negra; etc.). Se fôssemos, de fato e de direito, tão iguais como dizem esses discursos, não precisaríamos mencionar o orgulho de sermos negros e nem tampouco ir buscar na história do país justificativas para o nosso reconhecimento. Dessa forma, vivemos em uma sociedade onde não somos humanos, como faremos? Elza Soares entoa: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, em total discordância digo que barata seria de menos valor e que negros no Brasil não possuem valor algum.
E que não fiquemos somente no Dia da Consciência Negra, mas nas ações e nas políticas públicas que possam garantir enegrecer os espaços, reparação a esses afro-brasileiros que tiveram na sua ancestralidade um legado de lutas e resistência, e diminuição das desigualdades, e nesse quesito também se possa proferir a fé… Um salve a toda a ancestralidade!! Um salve a esse espaço pela oportunidade de aquilombar em palavras!! Axé a todos!!
Mirtes Rose Menezes (UEMS/UFGD) é Professora Doutora em Geografia e atuante nas questões étnico-culturais e educação antirracista. E-mail: [email protected]
Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS