Secretaria de Cidadania quer promover mudança de comportamentos em relação à proteção da mulher
Mato Grosso do Sul contabiliza, hoje, 37 feminicídios registrados ao longo de 2025. Para mudar este trágico cenário, a SEC (Secretaria de Estado de Cidadania de MS) tem trabalhado para além da rede institucional de proteção à mulher, em um tentativa de combater a violência doméstica e o número de mortes em contextos de misoginia, com ações em escolas, bairros, comunidades, além de promover o acolhimento das vítimas pelo CEAMCA (Centro Especializado de Atendimento à Mulher, Criança e Adolescente em Situação de Violência).
Em entrevista ao jornal O Estado de MS, subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Manoela Nicodemos reconhece que os números são alarmantes, mas, em seu entendimento é essencial que, além da rede de proteção institucional — formada pela DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Casa da Mulher Brasileira, TJMS (Tribunal de Justiça de MS) e diversos outros órgãos públicos — sejam promovidas mudanças comportamentais para combater atitudes que contribuam com cenários de violência de gênero.
“Não digo que são fatores culturais, porque cultura é coisa boa. O que tem a ver é o comportamento, é o ódio, a misoginia e o machismo. Então é importante que a gente fale sobre a raiz do problema”, afirma.
Nicodemos enfatiza que, além da mudança de comportamento da sociedade, é preciso que a educação dos homens também tenha modificações para que saibam lidar com sentimentos como a frustração, ponto de partida para muitas atitudes agressivas em relação às mulheres, sejam elas mães, esposas, namoradas ou colegas.
“A gente promove mudança de comportamento. Ele até acha que não precisa, mas vai aprender a lidar com a frustração, por exemplo. É muito importante que a gente trabalhe na perspectiva de prevenção. É muito importante, mas não podemos trabalhar apenas no atendimento especializado”.
CEAMCA
Com 511 mulheres e 60 crianças atendidas do começo do ano até o dia de ontem (25), o Ceamca (Centro Especializado de Atendimento à Mulher, Criança e Adolescente em Situação de Violência), entidade vinculado à SEC, oferece atendimento psicossocial não apenas às mulheres vítimas de violência doméstica, mas, também, aos filhos e filhas, vítimas diretas ou indiretas das agressões.
O Centro pode ser acessado por essas mulheres de diversas maneiras, sejam elas encaminhadas por outros órgãos, como a Casa da Mulher Brasileira ou por demanda espontânea, quando o local é buscado por mulheres que estão em situação de violência, mas não sabem a quem recorrer ou ainda não registraram boletim de ocorrência.
“Ela inicialmente passa pela assistente social, que faz uma triagem e um levantamento das demandas desta mulher. Se tiver filhos e ela compreender que há necessidade de acompanhamento para os seus filhos, eles também serão atendidos pela psicóloga”, explica.
Para todas as mulheres e crianças são disponibilizadas de 12 a 15 sessões de terapia, nas quais são trabalhados aspectos ligados ao ciclo de violência. Ao final, elas são convidadas para participarem de grupos terapêuticos, nos quais as trocas coletivas tem surtido efeitos benéficos, fazendo com que elas consigam ter mais segurança emocional quando terminam o acompanhamento no Ceamca.
“É um processo coletivo de escuta, de reflexão, de desenvolvimento. Está sendo positiva para a saída delas desse lugar, porque debatemos muito as formas que essas mulheres saem daqui, porque é muito importante”, disse.
Após o término das terapias individuais e em grupo, as mulheres são acompanhadas por meio de visitas e telefonemas periódicos. Também há oferecimento de vagas de emprego para que elas possam ter independência financeira, já que a limitação material é uma das principais razões para que mulheres permaneçam em relacionamentos violentos.
BOX Vítima tinha endereço desatualizado
A Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) informou que Cristian Alexander Cabeza Henriquez, ex-militar suspeito de matar Alliene Nunes Barbosa era monitorado por tornozeleira eletrônica. No entanto, como a mulher estava em um endereço fora da chamada área de exclusão, onde o agressor não pode se aproximar a 300 metros da vítima, o equipamento não funcionou, deixando de emitir alerta para os policiais quando o crime foi cometido.
A Agência explica que Alliene estava em um outro endereço diferente no cadastrado no sistema, impossibilitando que o equipamento calculasse a área de exclusão em relação à vítima.
“Ela não informou o novo endereço ou informou endereço diferente do que era a casa dela. Se estivesse correto, quando ele se aproximasse 300 metros já iria acionar, por isso é importante que as vítimas mantenham o endereço atualizado no sistema”, disse a assessoria da Agepen.
Por Ana Clara Julião e Inez Nazira
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