Xeque Mate: desfile de moda ,oferece uma experiência cultural que transforma xadrez em metáfora da identidade sul-mato-grossense

Foto: Ana Carolina Fonseca/Divulgação
Foto: Ana Carolina Fonseca/Divulgação

Muito além de uma estampa ou padrão, o xadrez sempre carregou uma carga estética de rebeldia, atitude e originalidade. Presente em movimentos como o grunge e em diversas subculturas, ele atravessa décadas como símbolo de estilo e resistência. Mas e se o jogo ganhasse vida fora das peças e do tabuleiro? E se a moda literalmente encarnasse o xadrez como narrativa de um povo, de um território, de uma história? Quando isso acontece, o resultado é mais do que uma coleção: é manifesto visual.

Quem leva essa ideia ao limite é o fashion designer Fábio Mauricio, que há mais de 20 anos desenvolve uma moda autoral que vai além da estética uma moda que documenta, emociona e questiona. Nascido em Rondônia e em Campo Grande desde 2003, Fábio já assinou mais de trinta coleções e figurinos pelo país. Em 2025, ele apresenta sua criação mais ambiciosa até agora: “Xeque Mate”, um desfile conceitual que transforma o jogo de xadrez em metáfora da identidade sul-mato-grossense.

O evento acontece no dia 26 de setembro, às 20h, no palco do Teatro Aracy Balabanian, no Centro Cultural José Octávio Guizzo. A apresentação reunirá 32 modelos, sendo 16 mulheres indígenas, cada uma representando peças do xadrez e elementos culturais do estado. O espetáculo é gratuito e promete uma experiência sensorial e simbólica que une arte, moda e território.

Foto: Ana Carolina Fonseca/Divulgação

Arte, rebeldia e identidade

Com mais de duas décadas de trajetória, Fábio Mauricio construiu uma marca que vai além da roupa: ela carrega conceito, técnica e identidade. À frente da FM desde 2004, o estilista se destaca no cenário nacional por seu estilo inconfundível, que une bordados manuais, upcycling e uma estética que cruza o glam com o punk. Para ele, o verdadeiro diferencial de um criador está na capacidade de ser reconhecido pelo que produz.

“As pessoas identificam uma peça minha à primeira vista. Mais do que confeccionar roupas, vejo na escolha do tema de cada coleção o ponto de partida de todo o processo criativo, um impulso que move minha paixão por costurar histórias através da moda”, afirma Fábio.

A ideia de transformar o xadrez em metáfora da cultura sul-mato-grossense começou a germinar em 2012, quando Fábio Mauricio completava dez anos de trajetória em Campo Grande. Desde então, o conceito foi sendo lapidado com o tempo, até alcançar o formato atual: um desfile que costura a diversidade étnica e simbólica do Estado em cada peça, como quem move estrategicamente os elementos de um jogo, só que aqui, o xeque-mate é cultural.

“Cada ano novas ideias surgiam para essa coleção. As associações entre o tabuleiro e os ícones culturais de Mato Grosso do Sul não paravam de aparecer, e isso me deixava ainda mais empolgado”, conta Fábio.

Na passarela-tabuleiro, os significados se entrelaçam com estética. O lado negro do jogo ganha corpo no Pantanal e em seus peões pantaneiros; as torres evocam o militarismo presente em Ladário e Corumbá, e os bispos traduzem a fé popular, com referências à Nossa Senhora do Pantanal e à tradicional festa de São João.

Tudo isso sob uma lente provocadora, que mistura o rock’n’roll com o fetichismo. Do outro lado, as peças brancas representam a ancestralidade indígena, com peões das oito etnias presentes no Estado; torres inspiradas nas esculturas de Conceição dos Bugres e na bandeira estadual; e bispos que ecoam as influências paraguaia e boliviana que moldam a identidade da região.

Para Fábio, o desfile não se limita a reproduzir vestimentas tradicionais, mas se propõe a ser uma obra artística, capaz de provocar e emocionar. Realizado dentro de um teatro, promete criar um impacto visual e sensorial único. Mais do que um espetáculo, Xeque Mate é um projeto que desafia preconceitos e busca ampliar horizontes, completa.

“Será algo inovador, inusitado e profundamente cultural. É uma tradução pelo meu olhar. Espero que possamos desmistificar a ideia de que usar ícones da nossa cultura é cafona ou bairrista. Acredito que mais pessoas da moda possam olhar com atenção para a riqueza de Mato Grosso do Sul”, define o estilista.

Representatividade

Foto: Ana Carolina Fonseca/Divulgação

Em Xeque Mate, Fábio Mauricio faz questão de trazer à a força e a presença dos povos indígenas, que representam a alma de Mato Grosso do Sul. Com isso, metade do elenco de modelos será formado por mulheres indígenas, em uma seleção realizada em parceria com o designer e produtor cultural terena Bryan Soares, ampliando a representatividade dessa rica cultura.

“Eles são o corpo, a alma e o sangue do nosso Estado. A parte branca do tabuleiro no desfile será representada apenas por indígenas”, afirma Fábio, destacando a importância de celebrar a identidade originária na passarela.

A miscigenação cultural também se reflete nas escolhas materiais de Fábio, que incorpora em suas criações tecidos e acessórios com influências diretas de diferentes povos. Mantas bolivianas, renda ñandutí paraguaia e acessórios indígenas, como os criados pelo artista terena Sulyvan Barros, dialogam com estampas do designer Ghva, que retrata povos originários. “As influências de diferentes povos vão muito além da roupa tradicional. São encontros que constroem a nossa cultura”, pontua Fábio.

Próximos passos

Fábio vê em Xeque Mate uma oportunidade de expandir as fronteiras da moda sul-mato-grossense, levando a diversidade cultural do estado não apenas para outras partes do Brasil, mas também para o cenário internacional. Para ele, a roupa é muito mais do que um item de vestuário: é um reflexo de identidade, um símbolo que comunica valores e pertencimento.

“A roupa vai além de proteger o corpo. Ela revela status, etnia, crenças. A moda, portanto, é um ícone, um fator cultural que registra o tempo em que vivemos”, explica o estilista.

No desfile que assina, Fábio não vê apenas peças de roupa, mas corpos em movimento e expressões que carregam um forte conteúdo político e cultural. Xeque Mate é, para ele, uma forma de celebrar e preservar a história e as tradições de Mato Grosso do Sul, oferecendo uma narrativa que veste e ao mesmo tempo conta.

Este projeto tem incentivo da Lei Paulo Gustavo, do MinC (Ministério da Cultura), por meio de edital da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), autarquia do Governo do Estado de MS. Mais informações pelo Instagram @f.mauriciobr. (Com assessoria).

Serviço: O desfile da coleção Xeque Mate acontece no dia 26 de setembro, às 20 horas, no Teatro Aracy Balabanian, localizado no Centro Cultural José Octávio Guizzo (Rua 26 de Agosto, 453 – Centro, Campo Grande). A apresentação é gratuita e aberta ao público.

 

Amanda Ferreira

 

 

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *