Bailarina de Campo Grande representa o MS na França

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Bailarina campo-grandense leva trecho de espetáculo na Bienal de Dança de Lyon, na França

A artista da dança Maria Fernanda Figueiró, de Campo Grande, foi uma das dez jovens criadoras brasileiras escolhidas pela Funarte (Fundação Nacional de Artes) e contempladas com a bolsa ‘Funarte 2025 – Temporada Cultural Brasil/França’, que garantiu sua participação na ‘21ª Bienal de Dança de Lyon’, na França, considerada um dos mais importantes eventos do gênero no mundo, realizado até o dia 28 de setembro.

Em Lyon, a Figueiró irá representar um trecho do seu novo espetáculo ‘Quem a mim nomeou o mundo?’, previsto para estrear em Campo Grande em outubro deste ano. A direção da obra é assinada por ela e pela artista Vanessa Macedo, de São Paulo.

“Levar a dança sul-mato-grossense a um evento de projeção internacional, para mim, representa uma abertura de espaço para a nossa dança seja reconhecida. A dança não é uma coisa recente no nosso Estado, ela tem uma história super longa que parece que muitas vezes é negligenciada”, disse a artista para o Jornal O Estado.

Para a Bienal de Lyon, a artista preparou um espetáculo que traz luz as questões do gênero feminino, como

Além mar: Maria Fernanda Figueiró levou o espetáculo ‘Quem a mim nomeou o mundo?’ para a França – Foto: Helton Pere

desafios impostos, reproduções de violências vividas por esses corpos. “Pode fazer a gente refletir do porquê, por exemplo, somos o Estado que tem altos índices de feminicídio, quais são os significados”. Com uma equipe composta apenas por mulheres, ela reitera que o objetivo não é apenas passar uma mensagem e sim um reflexão.

“Talvez só de causar um pouco de reflexão já seja suficiente para as pessoas se impactarem de alguma forma, não necessariamente carregando uma mensagem após ver a obra”.

Espaço

Com mais de 20 anos de atuação na dança, Maria Fernanda Figueiró explica que sua identidade como artista sul-mato-grossense é influenciada pelas características culturais do Estado. “Sou fruto da cultura sul-mato-grossense por nascer e sido criada aqui”, disse. Ela ainda pontua que sim, Mato Grosso do Sul possui a identidade da dança em sua cultura.

“Há muitos anos isso é debatido na dança, na nossa forma de fazer e pensar o que é a dança sul-mato-grossense, qual é essa característica específica. Nossa forma de fazer é muito abrangente, e acho que estamos no caminho de consolidar a nossa identidade enquanto produto cultural. Quando produzo estou sempre pensando a partir da minha vivência, no meu dia-a-dia, que é em Campo Grande”, explica.

É na dança que a artista coloca as necessidades e problemas que enxerga na cidade, como o fato de Mato Grosso do Sul ser um dos Estados com maior número de feminicídios no país. “Isso não tem como passar batido. É assim, tentando achar soluções, provocações, subjetivações para o que acontece no nosso contexto histórico e social”.

Maria Fernanda explica que encontrou na dança contemporânea a linguagem que melhor traduz sua forma de se expressar e construir sua trajetória. “Existem muitas outras áreas na dança de entender o que é dança e o que é dança contemporânea. E a minha pesquisa, ela se dá nessa área, e de alguma maneira eu venho tentando compreender sempre como o social e o político e o que está acontecendo na nossa contemporaneidade pode influenciar o fazer, o meu fazer artístico na dança”, afirma.

Mais do que apenas movimento, sua pesquisa está ligada a provocar reflexões e instabilidades, em sintonia com o tempo presente. “Sempre penso que a dança que eu faço não é uma dança alheia, não é uma dança que eu quero agradar sempre o público. Claro que a gente quer que o público goste, aproveite aquele momento, mas não é uma dança de entretenimento somente. Eu penso nessa dança que aponta para algumas questões, que questiona alguns funcionamentos, que instabilize alguns significantes, então penso nessa dança que está ali inteirada com o que está no mundo”, complementa.

A artista acredita que o espaço e a visibilidade para artistas da dança no Mato Grosso do Sul ainda pequeno, se comparado com o potencial dos artistas. “Há muitos representantes da nossa dança que estão aí pelo Brasil, circulando e comparecendo em eventos importantes, e acho isso muito importante. Fico muito feliz quando alguém ou companhia vai se apresentar em outra região”, destacou.

Ela ainda espera que participar da Bienal possa abrir portas não só para os participantes, mas para quem ainda não reconhece o trabalho do Estado e do país.

“Espero que abra possibilidades não só para a comitiva que está indo, mas também para o reconhecimento do que fazendo. Meu desejo é que nossa dança possa circular mais, com mais atores da nossa área indo para o mais longe possível. E também por sermos reconhecidos no nosso próprio Estado”, argumenta.

“Quero que o nosso público, nossas próprias pessoas possam ir ao teatro, que elas possam aproveitar quando tem espetáculos, festivais de dança, que não fiquem em uma bolha do que já consomem. Quem faz dança quer ser visto pela própria comunidade, no sentido de poder comunicar, dialogar e produzir pensamento diferente para a gente retornar o nosso fazer para a nossa comunidade, eu acho que isso também é essencial, não só sair do nosso estado”, finaliza.

Foto: Lunar Fotografia

A Temporada Cultural Brasil-França é promovida pelo Instituto Guimarães Rosa e pelo Institut Français, com sede em Paris, em parceria com as embaixadas de ambos os países. A iniciativa conta ainda com a coordenação dos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura do Brasil e da França.

Sobre a artista

Maria Fernanda Figueiró (DRT 4445/GO) é psicóloga clínica pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e mestranda em Psicologia. Com mais de 20 anos de atuação na dança, desenvolve trabalhos como bailarina, intérprete-criadora, diretora, produtora e gestora cultural. Desde 2019 integra a Cia do Mato e, desde 2021, a Ginga Companhia de Dança, além de manter criações autorais independentes, como o espetáculo “Quem a mim nomeou o mundo?”, dirigido em parceria com Vanessa Macedo (SP), e “El alma se embarga por lo mucho que sabe”. É proprietária da produtora Manaká Cultural, que atua na produção de eventos artísticos com ênfase em dança, e também na gestão e elaboração de projetos culturais, produzindo festivais e atuando também com elaboração, gestão e produção de projetos culturais.

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

 

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