Diretor do Naviraiense é acusado de injúria racial contra árbitro em jogo Sub-15

Foto: Reprodução
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FFMS emitiu nota de repúdio nesta quarta-feira e caso será analisado pelo TJD-MS

O Campeonato Esadual Sub-15 registrou mais uma denúncia de injúria racial no futebol sul-mato-grossense. No sábado (16), no jogo entre Naviraiense e Náutico, no Estádio Jacques da Luz, em Campo Grande, o árbitro Francis da Silva Bandeira relatou na súmula que foi vítima de injúria racial por um diretor do Naviraiense. A partida ficou paralisada por cerca de três minutos.

Na súmula, o árbitro descreve que o dirigente reagiu a uma marcação de falta com a ofensa em voz alta, ouvida, inclusive, pelos assistentes. “O torcedor, identificado como Cícero dos Santos, que acompanhava o time do naviraiense, gritou dizendo “toma vergonha na sua cara preta, seu safado, bandido”. Eu, árbitro da partida, Francis Bandeira, paralisei o jogo, e através do delegado da partida, Neuri Carvalho, foi acionada, através do 190, a polícia militar, mas antes que a mesma chegasse, o torcedor se retirou do local”, informa o documento.

Nas imagens da transmissão, feita pelo canal Fair Play TV, no YouTube, é possível ver o homem próximo ao alambrado do campo, ao lado do vestiário visitante, com boné e camiseta preta, discutindo com o árbitro após a paralisação do jogo. Logo em seguida, a transmissão também capta Francis conversando com o delegado da partida.

Nesta quarta-feira (20), a FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) divulgou uma nota de repúdio sobre o caso. “A FFMS não admite qualquer ato de racismo em competições que organiza e reafirma seu compromisso em combater práticas discriminatórias”, afirmou a entidade. O caso será encaminhado ao Tribunal de Justiça Desportiva de Mato Grosso do Sul, responsável por definir eventuais punições ao clube e ao dirigente.

O que diz a lei

O Código Penal diferencia injúria racial e racismo. A injúria racial ocorre quando alguém utiliza elementos ligados à raça, cor, etnia, religião ou origem para ofender a dignidade de uma pessoa específica. Desde 2023, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), esse crime é imprescritível e inafiançável, com pena de até cinco anos de reclusão.

Já o racismo, previsto na Lei nº 7.716/1989, trata da discriminação dirigida a um grupo ou coletividade, como impedir o acesso a locais públicos, recusar atendimento em estabelecimentos ou adotar práticas institucionais de exclusão. Nesse caso, a pena pode variar de dois a cinco anos de prisão, também sendo crime imprescritível e inafiançável.

No futebol, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) orienta que partidas sejam interrompidas ou até encerradas em situações de racismo. Desde 2019, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol monitora e divulga relatórios anuais. O levantamento mais recente aponta que 250 casos de discriminação racial no esporte foram registrados no Brasil de janeiro a dezembro 2023, com destaque para o futebol, incluso casos que envolvem atletas brasileiros no exterior. Até então, esse foi o maior número desde o início da contabilização pelo Observatório.

Outros episódios em MS

O caso de sábado soma-se a uma lista recente de ocorrências no futebol sul-mato-grossense. Em março deste ano, o jogador Diego dos Santos Soares, do Corumbaense, relatou ter sido chamado de “macaco” por torcedores do Águia Negra durante partida do Estadual. O clube foi punido pelo TJD-MS com multa e perda de mando de campo. Ainda em março, na MS Cup, torneio de base em Sidrolândia, equipes do Pantanal e do próprio Náutico foram excluídas após a mãe de um atleta denunciar ofensas racistas contra seu filho.

Em 2024, episódios semelhantes marcaram a Série A. No dia 29 de fevereiro, o atleta Vinícius Machado, da Portuguesa, disse ter sido chamado de “macaco” por um policial militar em partida contra o Náutico, no Estádio Jacques da Luz. Poucos dias depois, em 3 de março, no jogo entre Costa Rica e Operário, o quarto árbitro Rosalino Sanca relatou insultos racistas vindos de dirigentes e de um médico da equipe mandante.

A reportagem dO Estado tentou entrar em contato com o presidente do Naviraiense, Carlos Talão, para ouvir a versão do clube e do diretor, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Por Mellissa Ramos

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