A Polícia Federal (PF) indiciou nessa quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Pai e filho são acusados de coação no curso do processo e de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, em razão da atuação de Eduardo nos Estados Unidos para articular sanções contra autoridades brasileiras.
De acordo com as investigações, a estratégia visava pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e abrir caminho para a aprovação de uma anistia ampla aos envolvidos nos atos golpistas. O relatório final da PF também cita o envolvimento do pastor Silas Malafaia e do jornalista Paulo Figueiredo, apontados como apoiadores ativos da articulação internacional.
A apuração foi aberta em maio, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O relatório já foi encaminhado ao Supremo, e caberá ao procurador-geral, Paulo Gonet, decidir se apresenta denúncia contra os indiciados.
Provas reunidas pela PF
Segundo o documento, as conclusões se baseiam em dados telefônicos, depoimentos e monitoramento em redes sociais. Os investigadores apontam que Eduardo Bolsonaro participou de encontros, audiências e manifestações públicas nos EUA em que defendeu medidas contra ministros do STF.
O parlamentar recorreu a entrevistas e publicações digitais para sustentar a tese de perseguição política e buscar apoio de congressistas norte-americanos. Entre as articulações, constava a inclusão de sanções em projetos legislativos nos Estados Unidos, em alinhamento com setores da direita daquele país.
Em uma dessas ocasiões, Eduardo mencionou a possibilidade de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — medida anunciada dias depois. Segundo a PF, o deputado condicionava a retirada dessas sanções à aprovação de uma anistia aos acusados da tentativa de golpe.
As provas também apontam para o envolvimento direto de Jair Bolsonaro. Mensagens extraídas do celular apreendido do ex-presidente revelam conversas com Eduardo e Silas Malafaia, além de rascunhos de um pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. Para a PF, o documento reforça a intenção do grupo de evitar eventual condenação.
Outro ponto levantado foi a transferência de R$ 2 milhões de Jair para Eduardo via Pix. O dinheiro, segundo o relatório, teve origem em doações de apoiadores e foi usado para custear atividades ilícitas e “coagir autoridades públicas”.
A PF ainda destacou que Bolsonaro descumpriu medidas cautelares impostas pelo STF. Proibido de usar redes sociais e de manter contato com outros investigados, ele teria ativado um novo celular após a apreensão do aparelho oficial. O deputado federal Alden José Lázaro da Silva foi apontado como intermediário dessas comunicações.
O outro lado
Em publicação no X (antigo Twitter), Eduardo Bolsonaro negou irregularidades. Ele afirmou que sua atuação no exterior sempre teve como foco a “defesa das liberdades individuais” e não a interferência em processos judiciais no Brasil.
“Se o meu ‘crime’ for lutar contra a ditadura brasileira, declaro-me culpado de antemão”, escreveu o parlamentar.
Com informações do SBT News
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