A temporada 2025 do Operário no futebol feminino ficará marcada pela melhor campanha da história do clube nas competições nacionais, com a inédita classificação para a terceira fase da Copa do Brasil e a chegada às quartas de final do Brasileirão Série A3.
No entanto, à reportagem de O Estado, jogadoras acusam a diretoria de atrasos salariais, falta de estrutura adequada e descaso. Durante a temporada, o Operário Feminino conquistou premiações importantes. Com base em valores divulgados pela CBF, o clube recebeu cotas por fases na Copa do Brasil, somando valores que variam de R$ 25 mil a R$ 40 mil nas três primeiras etapas. Também garantiu premiações no Brasileirão Série A3, com valores que ultrapassam R$ 36 mil na fase inicial. Ao todo, foram de aproximadamente R$121 mil.
Apesar da campanha histórica, o elenco tem enfrentado atrasos de pagamentos que comprometeram a rotina e o desempenho das atletas. Uma delas, que não quis se identificar, fez um relato sobre as condições dentro do clube. “A situação aqui está precária. Depois que a temporada foi encerrada, ficamos esperando cair o pagamento pelo último mês de contrato, mas não recebemos. Para se ter uma ideia, neste último fim de semana, a gente mesmo teve que fazer nossa comida. Quando a gente pedia ajuda, parecia que respondiam com raiva ou tinham uma desculpa”.
Segundo as jogadoras, os atrasos eram frequentes, ainda que os salários tenham sido pagos parcialmente. “Tivemos meses que atrasaram, mas nunca deixamos de receber. Pelo menos 50% a gente recebia na data certa, e o restante depois. A gente ficava insatisfeita, é claro, mas não deixávamos de treinar porque sabíamos do nosso objetivo maior”.
Outras atletas, que também preferiram não se identificar, confirmaram à reportagem a gravidade dos atrasos e, segundo elas, a falta de transparência da diretoria. Segundo as jogadoras, a diretoria raramente esteve presente para prestar esclarecimentos. “Nosso contrato era até o dia 16 de agosto, ou seja, receberíamos pelo mês inteiro de trabalho. A diretoria veio até nós, pediu para adiantar o contrato para o dia 6, data do nosso último jogo na Copa do Brasil. Chegou dia 6 e não recebemos. Falaram que seria pago na sexta (8), mas não fomos pagas até hoje”, afirmou uma das jogadoras.
Verba ‘parada’
Um dos pontos mais comentados, é a verba de R$1 milhão destinada ao futebol feminino do Operário neste ano, pela senadora Soraya Thronicke (Podemos), que não foi recebida pelo clube, devido a pendências burocráticas e falta de regularização documental do clube. Segundo a diretoria, a verba, que conta também com $500 mil para o masculino, não pode ser utilizada por conta de certidões como negativações de débitos e dívidas com o INSS que precisam ser regularizadas.
Segundo o Presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB-MS, Marcelo Carriel Honório, em entrevista ao O Estado em 11 de julho, a exigência dessas certidões é uma forma de garantir que a verba seja investida em instituições que estão em dia com suas obrigações legais. “É uma forma de atestar que o clube está em conformidade com os órgãos governamentais e não possuem dívidas ou outras pendências com o governo”, explicou.
Notícias só via internet
Outra situação levantada pelas atletas foi a não participação do Operário no Campeonato Estadual deste ano, previsto para setembro. Muitas souberam da informação por meio da internet, sem comunicado oficial do clube. “A gente ficou bem surpresa e um pouco indignada, porque o Operário tem uma história de elevar o futebol feminino no estado. É triste não poder continuar esse trabalho.” Essa ausência no calendário estadual reforça a incerteza sobre o futuro do time e a dificuldade de manter o elenco unido e motivado, já que a ausência no torneio tira a chance do clube de disputar qualquer competição nacional no próximo ano.
‘Pagamento está sendo regularizado’, diz presidente
O presidente do clube, Nelson Antônio da Silva, reconheceu as dificuldades financeiras e burocráticas. Segundo ele, dívidas antigas das décadas de 1980 e 1990 impedem a regularização financeira, e somente a partir de janeiro de 2025 será possível iniciar um novo processo de negociação e parcelamento com a Receita Federal. “Não conseguimos a certidão negativa da Receita Federal, o que inviabilizou vários projetos e o investimento no futebol feminino”, explicou.
O dirigente também explicou que os contratos das atletas foram encerrados antecipadamente em acordo com as jogadoras, pois o Operário não disputará o campeonato estadual, impossibilitando a manutenção do elenco. “Fizemos um acordo para antecipar o fim dos contratos, porque ainda havia expectativa de disputar o estadual, mas não foi viabilizado,” afirmou
Sobre os atrasos nos pagamentos, o presidente afirmou que o salário referente ao mês de junho, previsto para o dia 6, acabou atrasando devido a problemas na empresa responsável pelo pagamento mas, segundo ele, foi regularizado na segunda-feira (11). “O pagamento venceu no dia 10, que caiu num domingo, e está sendo regularizado,” disse Nelson. Até o fechamento desta edição, as atletas afirmaram que não haviam sido pagas.
Por Mellissa Ramos
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