Alunos relatam que número de guardas é insuficiente e se sentem amedrontados após ação de criminosos
Acontecimentos recentes dentro da Universidade evidenciaram falta de segurança. Acadêmicos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) expressaram insegurança no campus e apostam no desenvolvimento de um mapa com os pontos considerados mais críticos e onde estão mais suscetíveis a serem vítimas de criminosos, após dois episódios que geraram forte repercussão nesta semana, um assalto ocorrido em plena luz do dia nas dependências da universidade.
Na última segunda-feira (23), por volta das 16h, três estudantes foram assaltados enquanto utilizavam equipamentos eletrônicos para estudo em um corredor próximo ao Complexo Multiuso 2. Na ocasião, dois homens armados com facões, abordaram os jovens e levaram pertences de valor. Segundo os relatos, a abordagem aconteceu de forma rápida e violenta, mesmo em um horário de grande circulação.
Uma das vítimas que optou por não ser identificada contou ao O Estado, como foi a rápida ação dos criminosos e a sensação de impotência e insegurança que ficou espalhada pela comunidade escolar. “Era por volta das 16 horas, meus amigos e eu decidimos parar nas mesinhas da frente do Bloco de Arquitetura porque eu tinha uma reunião online e o corredor estava cheio, tinha uma menina vendendo um cone trufado, pessoas passando. Tudo normal, de relance eu olhei pro lado, vi dois rapazes na outra mesa, na frente dos meus amigos e achei que era alguém conhecido. Quando eu voltei a olhar para o notebook, eu senti alguém puxando a tela e eu segurei no reflexo, porque achei que era alguém brincando. Foi quando vi o assaltante já com a faca na mão, pegou, colocou a mão no meu celular que estava em cima da mesa”, disse o jovem que nesta quarta-feira(25), teve aulas no mesmo bloco e precisou reviver todo o medo passado na segunda-feira.
Os suspeitos, identificados como André Henrique de Oliveira Lima, 33 anos, e Allan Vilhalba Ferreira, 24 anos, foram localizados pelo 10º Batalhão da Polícia Militar no dia seguinte (24). Ambos resistiram à prisão e foram levados algemados à Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Cepol.
Acadêmicas do curso de Engenharia relataram à reportagem o sentimento de medo e insegurança. “É o nosso primeiro ano aqui e nunca tínhamos visto algo assim. O campus tem guardas, mas parece que não é o suficiente. A universidade é muito grande e alguns lugares, como a ponte que liga os blocos, são escuros e perigosos”, contou uma estudante, que preferiu não se identificar.
Amanda Caroline, de 20 anos, também estudante da UFMS, acrescentou: “Os meninos que foram assaltados estavam na frente do bloco de Arquitetura. Dois homens chegaram de moto com facas, abordaram os calouros e levaram tudo. Não foi a primeira vez que ouvimos relatos assim. Sempre circula um mapa entre os calouros com os locais que devemos evitar, principalmente à noite. Eu mesma parei de pegar ônibus porque o caminho até o ponto é muito perigoso”.
Em nota, a UFMS afirmou contar com estrutura permanente de segurança, composta por vigilância armada 24 horas, rondas motorizadas, videomonitoramento e botões de alerta integrados ao aplicativo “Sou UFMS”. A universidade destacou ainda que realiza planejamento contínuo para adequar o efetivo de segurança à demanda da comunidade acadêmica.

Pontos em vermelho indicam áreas de risco para alunos veteranos e calouros da UFMS – Foto: Reprodução
Profissionais do HUMAP preocupados
Além dos assaltos, outro episódio acentuou a sensação de insegurança na UFMS. No último domingo (22), foi descoberto que uma mulher de 29 anos vinha se passando por estudante de Medicina da instituição. Ela chegou a participar de aulas e até de plantões no Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian).
Apelidada de “caloura fake” pelos alunos, a mulher usava jaleco com nome bordado e publicou fotos nas redes sociais comemorando sua participação em partos no Centro Obstétrico durante o plantão do feriado de quinta-feira (19). A fraude só veio à tona quando uma estudante desconfiou da jovem, que não constava em nenhuma lista de aprovados ou de matrícula da universidade.
Segundo relatos, a mulher já havia se passado por estudante de Odontologia, Biologia e Enfermagem. A UFMS informou o caso à Polícia Federal e, em nota, afirmou que não há matrícula ativa em nome da suposta aluna.
O presidente do Sindserh-MS (Sindicato dos Trabalhadores da Área da Saúde de Mato Grosso do Sul), Wesley Cassio Goully, pontuou que casos como este não são frequentes. “Não é com frequência que temos conhecimento de casos como este, nos últimos dias acompanhamos que a gestão do HUMAP aprimorou alguns mecanismos de controle de acesso às dependências do hospital, no entanto, este fato evidenciou que outros mecanismos precisam ser adotados para melhorar o controle de acesso”.
O presidente do Sindicato expressa também sua preocupação com os profissionais do local. “Os trabalhadores veem com muita preocupação a entrada de pessoas não autorizadas, pontuamos que os riscos associados vão de temor pela integridade física de trabalhadores e usuários, a perda de produtividade e materiais de alto custo por interrupções nos procedimentos entre outros prejuízos que não podem fazer parte do dia a dia dos profissionais desta instituição. Esperamos que a gestão do hospital adote com a máxima brevidade instrumentos adicionais para controle do acesso”
A Polícia Civil registrou boletim de ocorrência por exercício ilegal da profissão. O caso será investigado sob sigilo pela 5ª Delegacia de Polícia.
MS teve 13 casos de assédio sexual em instituições federais
Um levantamento realizado com base na Lei de Acesso à Informação revelou casos graves de assédio sexual e violência contra mulheres em instituições federais de ensino em Mato Grosso do Sul. O dossiê faz parte de uma investigação nacional conduzida pelo portal Metrópoles, que analisou 128 PADS (Processos Administrativos Disciplinares) em universidades e institutos federais.
No Estado, foram identificados 13 casos, seis deles registrados na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), quatro no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), em Aquidauana, e três na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).
Entre os casos mais graves está o de um professor da UFMS que sugeriu sexo oral em troca de nota a uma aluna. Outro docente foi demitido após assediar três estudantes durante uma viagem esportiva. Há ainda relatos de comentários obscenos, abordagens constrangedoras, importunação sexual e assédio moral praticados por professores e servidores.
No IFMS de Aquidauana, um professor foi suspenso após enviar mensagem com conotação sexual a uma aluna durante uma feira de ciências. Outro docente foi demitido após ser acusado por múltiplas estudantes de conduta inadequada. Já em Dourados, dois professores da Faculdade Intercultural Indígena foram desligados por assédio a alunas indígenas.
Os casos escancaram a vulnerabilidade de estudantes, funcionárias e professoras em ambientes que deveriam ser de aprendizado e segurança. As punições variam de advertência e suspensão à demissão, mas especialistas e ativistas cobram maior rigor e mecanismos eficazes de prevenção e acolhimento às vítimas.
Por Inez Nazira e Taynara Menezes
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