Especialista avalia que medida deve reduzir demanda por ferro-gusa de Corumbá
A decisão dos Estados Unidos de dobrar as tarifas de importação sobre o aço, elevando a alíquota de 25% para 50%, deve impactar diretamente as exportações de Mato Grosso do Sul, sobretudo na cadeia do ferro-gusa produzido em Corumbá e tradicionalmente destinado ao mercado americano. A avaliação é do economista Eugênio Pavão, especialista em indústria, que aponta um cenário de retração imediata nas vendas externas, mas também vê possibilidade de reposicionamento comercial do Estado.
“A taxação vai encarecer os produtos de MS nos EUA, fazendo com que parte desse volume ‘sobre’ no Estado, já que o excedente dificilmente será absorvido pelo mercado interno ou pela China, nosso principal destino atual”, afirma Pavão. Segundo ele, o impacto recai especialmente sobre o ferro-gusa, cuja exportação anual gira em torno de US$ 120 milhões. Após um crescimento de 175% nas exportações entre 2020 e 2024, a tendência agora é de retração.
Para o economista, o momento exige que o Estado busque novos mercados. “É também uma oportunidade de diversificar os compradores mundiais do nosso minério de ferro e reduzir a dependência de um único destino”, acrescenta. Ele ressalta ainda que a medida norte-americana afeta principalmente o produto acabado, o que evidencia uma estratégia de proteção à indústria siderúrgica local.
Medida protecionista
O aumento das tarifas foi oficializado na terça-feira (3) por meio de decreto assinado pelo presidente Donald Trump e entrou em vigor nessa quarta-feira (4). Segundo o governo americano, o objetivo é conter a entrada de produtos estrangeiros a preços baixos e preservar a competitividade das siderúrgicas e metalúrgicas dos Estados Unidos, além de garantir a segurança nacional.
A medida vale para todos os países exportadores de aço e alumínio para os EUA, com exceção do Reino Unido, que mantém a alíquota anterior de 25% devido a um acordo bilateral firmado em maio. Com isso, o Brasil, segundo maior fornecedor de aço ao mercado americano, será diretamente afetado, sobretudo nas exportações de aço semiacabado — produto intermediário utilizado na fabricação de chapas, tubos e perfis.
Participação brasileira
Em 2023, o Brasil exportou 3,88 milhões de toneladas de aço aos Estados Unidos, o equivalente a 16% do total importado pelos norte-americanos, ficando atrás apenas do Canadá (20,9%) e à frente do México (11,1%). Em termos de valor, as vendas brasileiras somaram US$ 2,66 bilhões, atrás dos US$ 2,79 bilhões do México e dos US$ 5,89 bilhões do Canadá.
Em janeiro deste ano, o Brasil foi o maior exportador de aço para os EUA, com 499 mil toneladas, superando o Canadá (495 mil toneladas). Já em março, último mês com dados disponíveis, o País ficou em segundo lugar em volume (364 mil toneladas) e terceiro em valor (US$ 225 milhões).
No setor do alumínio, o comércio entre os dois países movimentou US$ 267 milhões, de um total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo Brasil em 2024. Apesar da baixa participação brasileira nas importações americanas de alumínio (menos de 1%), os EUA representaram 16,8% das exportações nacionais desse metal no ano.
A nova elevação tarifária já vinha sendo sinalizada por Trump desde a última sexta-feira (30), quando, em discurso em uma unidade da siderúrgica US Steel, na Pensilvânia, defendeu o aumento como forma de proteção ao setor.
Djeneffer Cordoba