“Habitat” convida o público a refletir sobre a diversidade

Foto: Lu Barcel
Foto: Lu Barcel

Espetáculo de dança convida o público a refletir sobre a construção de um ambiente ideal e livre de preconceitos

Estreou ontem (15), no palco do Sesc Teatro Prosa, em Campo Grande (MS), o espetáculo Habitat, do grupo goiano Bacae Dança. Com dramaturgia marcada por uma estética pop, colorida e imaginativa, a apresentação convida o público a refletir sobre a construção de um ambiente ideal, livre de preconceitos e aberto à diversidade LGBTQIAPN+. Para quem perdeu a estreia, ainda há oportunidade: o grupo se apresenta novamente nesta sexta-feira (16), às 19h, no mesmo local. A entrada é gratuita.

Além do espetáculo, a companhia realiza pela manhã, das 9h às 12h, a oficina gratuita de dança contemporânea Habite seu imaginário, voltada para artistas, estudantes de dança e o público interessado em explorar o corpo como linguagem criativa. Campo Grande é a primeira cidade da região Centro-Oeste a receber o espetáculo como parte do projeto de circulação viabilizado por recursos da Política Nacional Aldir Blanc.

 

Foto: Lu Barcel

Arte sem preconceitos

Comemorando dez anos de trajetória, o Grupo Bacae Dança apresenta Habitat, seu terceiro espetáculo, que propõe uma reflexão sensível e potente sobre a construção de espaços sociais e identidades para pessoas LGBTQIAPN+. É a primeira vez do grupo em Campo Grande e em cena, os bailarinos; João Paulo Amorim (também na direção artística), Danrley Rodrigues e Ingrid Costa dão corpo e voz a essas experiências por meio da dança contemporânea, incorporando elementos visuais e coreográficos inspirados na cultura pop e no universo do K-Pop.

“As expectavas são muitas, fizemos contatos com vários artistas da cidade e estamos nos sentindo muito bem recebidos antes mesmo de chegar. É a nossa primeira vez na cidade e estamos muito felizes de poder levar um pouco das nossas experiências para Campo Grande. O espetáculo foi bem recebido em Goiânia e no Encontro de Dança do Sudoeste Goiano, lugares que se emocionaram com a poesia do trabalho”, afirma João Paulo para a reportagem.

A performance busca imaginar como seria ocupar um espaço ideal em uma sociedade que, historicamente, marginaliza e exclui corpos dissidentes da norma. Ao evidenciar as barreiras enfrentadas por essas pessoas para se verem representadas, o espetáculo também aponta para a importância do reconhecimento, da escuta e da liberdade de expressão na formação da identidade individual e coletiva.

“O primeiro direito que é negado a pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis, não binários, Queers e transexuais é o de legitimidade. Legitimidade a ter moradia, de poder realizar escolhas e ter o conforto do lar. A exclusão familiar e a problematização sobre onde pertencer, deixa todas essas pessoas vulneráveis e incapacitadas de ter seu habitat”, explica, Amorim.

Na biologia, habitat é o ambiente natural onde uma espécie vive, encontra alimento, abrigo, proteção e espaço para se reproduzir. É o lugar onde a vida se estabelece em equilíbrio com seu entorno. No contexto da obra de dança do Grupo Bacae, esse conceito ganha novas camadas de sentido.

Em Habitat, o termo se transforma em metáfora: um espaço imaginário, tropical e diverso, uma utopia possível. É o cenário onde pessoas LGBTQIAPN+ podem expressar suas emoções mais profundas, ser intensamente vivos, brilhantes e singulares. Esse habitat dançado é, antes de tudo, um convite: à liberdade, à expressão e à construção de um mundo onde todos os corpos tenham o direito de florescer em harmonia com quem são.

Processo Criativo

O ponto de partida para a criação do espetáculo nasceu de vivências pessoais de João Paulo enquanto corpo LGBTQIAPN+ e da reflexão sobre como a imaginação pode ser um potente instrumento de resistência, autoexpressão e resiliência. Segundo ele, em uma sociedade que historicamente marginaliza e apaga essas existências, imaginar é também reivindicar espaço, construir identidade e projetar possibilidades de pertencimento.

“O Lar, o nosso habitat é uma das primeiras coisas que é arrancada de nós e consequentemente a legitimação da nossa existência. A estética do espetáculo tem a ver com os meus gostos musicais, videoclipes que me agradam, moda camp e nas flamingas, seres que passam por desafios e transformações as quais me identifiquei”, destaca o coreografo do espetáculo que tem na trilha sonora Duda Beat, AKMU, Jaloo, Mc Tha, XG, AVUÁ e Aespa.

Oficina de dança

Como parte das ações formativas que acompanham o espetáculo Habitat, o Grupo Bacae oferece a oficina artística “Habite em seu Imaginário” voltada a pessoas LGBTQIAPN+ com 16 anos ou mais, a atividade propõe uma vivência prática e sensível em torno da dança contemporânea e da performance como meios de expressão artística e afirmação identitária.

Foto: Lu Barcelos

Ministrada por João Paulo, a oficina tem duração de três horas e será conduzida de forma dinâmica e interativa, explorando técnicas de improvisação e criação coreográfica utilizadas no espetáculo Habitat. A proposta é estimular a imaginação corporal e a liberdade criativa, convidando cada participante a descobrir e ocupar artisticamente seu próprio espaço.

“A oficina é inspirada em uma cena específica do espetáculo. Vamos estimular o imaginário por meio das linguagens que os próprios bailarinos pesquisaram durante o processo de criação. Iremos oferecer um espaço de estímulo criativo, onde artistas de qualquer gênero e origem possam se sentir livres para explorar e pesquisar sua própria dança”.

Entre os elementos que inspiram a criação corporal do grupo estão as flamingas, símbolos de leveza, exuberância e resistência, que influenciaram diretamente a linguagem física da obra. A oficina também contará com a participação de Gabriela Mancine, referência na cena ballroom no estado e imperatriz da House of Hands Up. Com sete anos de atuação na cultura ballroom, Gabriela conduzirá uma aula introdutória sobre os sete elementos do “vogue femme”. “A dança é um espaço onde não limitamos nossos movimentos nem nossas identidades. É onde criamos novas formas de vida, acolhemos quem precisa e fortalecemos a existência de pessoas negras, LGBTs e periféricas”, finaliza.

Com 30 vagas disponíveis, as inscrições podem ser feitas gratuitamente pela plataforma Sympla, com o link disponível no Instagram oficial do grupo: @bacae. Além das apresentações e oficinas, o Grupo Bacae Dança também realizará, nos meses de agosto e setembro, três sessões do Cine-Habitat em Goiânia, ampliando o debate sobre arte, identidade e diversidade.

Serviço

A apresentação será realizada dia 16 de maio no Sesc Teatro Prosa localizado na R. Anhanduí, 200 — Centro, às Horário: 19h com Entrada franca: retirada de ingressos pela plataforma Sympla, acessando link na bio do Instagram @sescculturams. Classificação: 10 anos com 50 minutos de duração.

 

Por Amanda Ferreira

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