Sintomas de transtornos como o TDAH ficam mais notáveis no período e psicóloga cita importância do diagnóstico
Na Capital, milhares de crianças da Rede Municipal de Ensino retornam à rotina de aprendizado nesta segunda (10). No entanto, a reaproximação em ambientes fechados e o contato frequente com colegas aumentam a exposição a vírus e bactérias. Para evitar o aumento de doenças respiratórias, viroses e outras infecções comuns nessa época, os pais devem adotar medidas preventivas para fortalecer a imunidade dos pequenos. Com o intuito de orientar os pais, a pediatra Camilla Florenciano compartilha algumas dicas de prevenção que escolas e os pais podem aderir para garantir a saúde de seus pequenos.
Nesse período de volta das férias, as crianças, que vivenciaram diversos momentos de diversão e troca nos últimos meses, retornam às aulas animadas para compartilhar novas experiências, dividir brinquedos e materiais, interagindo mais de perto e com empolgação. Contudo, de acordo com a pediatra Camilla Florenciano, esse é o momento ideal para reforçar os cuidados, tanto na escola quanto em casa, para reduzir os riscos e garantir que os pequenos tenham um retorno tranquilo e saudável.
Segundo a profissional, as escolas têm um papel fundamental na prevenção das viroses. Por isso, podem realizar algumas pequenas medidas que podem fazer toda a diferença. Para Florenciano, o primeiro ponto é garantir que os ambientes estejam sempre bem ventilados, porque espaços fechados favorecem a circulação de vírus. Além disso, “a higienização das mãos é essencial”, enfatiza a profissional.
“Ter álcool em gel disponível e incentivar as crianças a lavarem as mãos com frequência, principalmente antes das refeições e após usar o banheiro, já ajuda muito. Outro cuidado importante é higienizar brinquedos e materiais compartilhados, que podem ser um grande meio de transmissão. E, claro, sempre orientar as crianças sobre a importância de cobrir a boca e o nariz com o braço ao tossir ou espirrar”, explica a pediatra, ressaltando que algumas práticas simples podem contribuir para um ambiente mais seguro.
Quando se trata das prevenções que podem ser realizadas em casa, Camilla Florenciano sublinha: “Gosto daquela frase que diz que a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Para a profissional, a educação para a saúde começa dentro de casa. “Os pais podem ensinar desde cedo a importância de lavar bem as mãos e ter isso como um hábito da família toda. Para as crianças menores, transformar esse momento em algo lúdico, com musiquinhas ou brincadeiras, pode ser um ótimo jeito de incentivar”, sugere.
Além disso, a pediatra ressalta que é importante reforçar a hidratação e garantir uma alimentação rica em frutas e verduras, “porque um corpo bem nutrido tem mais defesa contra infecções”, enfatiza. Por fim, Florenciano ainda acrescenta que cuidar do sono dos pequenos é fundamental. “A criança descansada tem um sistema imunológico mais forte!”, frisa.
Psicóloga explica que os sintomas do TDAH são mais acentuados no retorno letivo
Com o retorno das aulas, pais e professores sentem dificuldades para readaptar crianças com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) na nova rotina. O transtorno é caracterizado pela desatenção, impulsividade e hiperatividade, podendo ser mais intenso em alguns casos específicos, e no ambiente escolar os sintomas podem ser mais acentuados. Especialista orienta pais e professores sobre cuidados com crianças no período.
Estima-se que o TDAH afeta cerca de 3% a 8% das crianças e adolescentes em idade escolar, de acordo com levantamento das Secretarias de Atenção Especializada à Saúde e da Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. O transtorno é uma condição relacionada ao desenvolvimento neurológico que afeta crianças e pode persistir na vida adulta.
O cuidado se torna ainda mais urgente na volta às aulas, pois a falta de uma rotina bem definida durante as férias pode tornar mais difícil retomar hábitos escolares, como cumprir horários, concentrar-se nas aulas e gerenciar tarefas. A mudança na volta às aulas, muitas vezes, aumenta o sentimento de frustração e sobrecarga emocional, dificultando a adaptação. A psicóloga Paula Meyori relembra que o “TDAH é um transtorno de autocontrole e de autorregulação” e alerta sobre os possíveis sintomas que a criança pode expressar.
“A criança vai ter dificuldade de ficar parado ou sentado em situações que vão me exigir esses comportamentos. A impulsividade na fala também é marcante, porque quando a gente fala de hiperatividade, a gente não pensa só na impulsividade de ação, a criança com TDAH vai te interromper o tempo inteiro, isso também traz prejuízo. Outro sinal que ela apresenta é a dificuldade com noção de espaço, então, é uma criança que está sempre se machucando, que cai muito, tropeça o tempo inteiro e ela nem percebe”, pontua.
Ainda, no ambiente escolar existem outros sintomas que podem auxiliar a identificar o transtorno na criança, de acordo com a psicóloga. “Ela [a criança] tem dificuldade de fazer amizades, porque como são crianças impulsivas, normalmente são crianças que têm comportamentos inadequados e que começam a ser excluídas no ambiente escolar. Eles têm dificuldade também em olhar o lado do outro, isso tem a ver com uma função do cérebro que se chama flexibilidade cognitiva. Crianças com TDAH, isso também acontece no autismo, têm essa dificuldade de conseguir interpretar uma situação como o outro interpretaria, ou então de imaginar como que o outro se sentiria numa determinada situação. Além da falta de atenção e da falta de interesse em atividades que exijam esforço mental”.
Conforme a Lei nº 14.254/2021, é obrigatório o acompanhamento integral de alunos com TDAH, dislexia ou outros transtornos de aprendizagem. A Semed (Secretaria Municipal de Educação) comunicou ao jornal O Estado que conforme a Resolução SEMED nº 227/2021, a secretaria oferece acompanhamento psicopedagógico por meio do GAPSI (Grupo de Atendimento Psicopedagógico), no contraturno escolar.
“O objetivo desse atendimento é: garantir o acesso, a participação e a aprendizagem no ensino regular; Prover serviços de apoio especializado, conforme as necessidades individuais dos alunos; desenvolver recursos didáticos e pedagógicos para superar barreiras no processo de ensino e aprendizagem; melhorar a relação dos alunos com a aprendizagem, corrigindo gradualmente padrões e dificuldades anteriores; potencializar as habilidades das crianças para superar déficits de aprendizagem”, informa.
Além disso, como formas de intervenções, a especialista orienta os pais e professores a valorizar, elogiar, o comportamento adequado. A psicóloga reforça que a medicação também ameniza os sintomas. “É muito difícil manejar comportamentos inadequados do TDAH sem a intervenção medicamentosa, então, primeira coisa, medicação e avaliação psiquiátrica. Quando falamos de um transtorno em que a criança não consegue controlar o próprio corpo e os próprios impulsos, a gente vai precisar muito de intervenções do ambiente, do professor. Como? A gente vai focar nos comportamentos adequados na criança, e normalmente isso não acontece”
O indivíduo com o transtorno pode ressaltar o lado hiperativo. E para as crianças com essa característica, Paula Meyori orienta que os professores peçam que essa seja ajudante da sala. “Se o professor notar que a criança está ficando muito agitada, ele pode sugerir que a criança vá beber uma água, ou então vá pegar alguma coisa lá na coordenação, vá ao banheiro, por exemplo”
O suporte adequado, como acompanhamento especializado por profissionais de saúde e da pedagogia, é essencial para minimizar esses impactos. É fundamental que crianças com TDAH recebam acompanhamento de profissionais especializados, como psicólogos e psiquiatras. A psicoterapia, por exemplo, pode ensinar habilidades específicas para gerenciar o comportamento e transformar padrões de pensamento negativos em positivos, ajudando na adaptação escolar e no desenvolvimento de habilidades sociais.
“A gente precisa considerar que o TDAH não afeta só a vida escolar, mas afeta todas as áreas da vida, de relacionamentos, a vida pessoal, mais para frente, inserção no mercado de trabalho. Precisamos lembrar que o que caracteriza um transtorno psiquiátrico é prejuízo clinicamente significativo, que significa que a família e a criança estão em sofrimento, para isso a gente precisa ter um olhar cuidadoso e um acompanhamento da equipe profissional, o psiquiatra, o psicólogo, ou psicopedagogo quando for necessário, neuropsicólogo para avaliar quais são os déficits. Mas também as potencialidades desse paciente, para gente verificar se o paciente está progredindo ou se ele está regredindo e saber quais são as habilidades que ele precisa construir uma vida que vale a pena ser vivida”
Por Ana Cavalcante e Inez Nazira
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