Em âmbito nacional, essa é a primeira vez de retração após quase 16 meses de estabilidade
No início de um ano desafiador para os comerciantes, o setor de serviços enfrentou uma queda significativa, apresentando retração pela primeira vez em quase 16 meses. De acordo com a pesquisa PMI (Índice de Gerentes de Compras), em janeiro deste ano, vários estabelecimentos relataram uma diminuição na demanda dos consumidores.
Levantamento publicado nesta quarta-feira (05) pela S&P Global revelou que o índice caiu de 51,6 em dezembro para 47,6 em janeiro, abaixo da linha dos 50 que distingue crescimento de contração. Este é o nível mais baixo registrado para o PMI de serviços desde abril de 2021. Embora a diminuição nas vendas em janeiro tenha sido considerada moderada, segundo a pesquisa, foi a mais acentuada em quase quatro anos.
Ainda de acordo com a pesquisa, os custos com insumos e os preços de produção subiram na maior intensidade em dois anos e meio. Essa alta foi impulsionada pela valorização do dólar, pelos preços internacionais elevados e por um mercado interno inflacionado. Os poucos aspectos positivos da pesquisa incluem um modesto crescimento do emprego e uma recuperação na confiança, que havia caído para o seu nível mais baixo em 43 meses em dezembro.
Na Capital do Estado a realidade não tem sido diferente da apresentada na pesquisa e comerciantes relatam dificuldades nas vendas. Atuando há 13 anos na profissão e 8 anos como proprietária do Studio Suzana Make, a maquiadora Suzana de Almeida Ajala afirmou que tem se deparado com uma retração na procura por seus serviços, mas que queda pode estar ligado ao período de férias.
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Suzana de Almeida Ajala – Foto: Nilson Figueiredo
“O movimento em dezembro foi excelente, mas em janeiro houve uma queda. Acho que isso se deve, em parte, às férias, já que muitas pessoas viajam. Como eu trabalho com noivas, esse serviço não teve queda, mas os atendimentos de maquiagem e de final de semana, que costumam ser mais frequentes, tiveram uma diminuição”, explicou.
Para alavancar as vendas em período de baixa procura, a maquiadora investe principalmente na divulgação pelas redes sociais. “A principal estratégia tem sido focar na internet. Eu tento divulgar bastante os meus serviços online, coloco promoções e compartilho fotos do meu trabalho para aumentar a visibilidade e alcançar mais pessoas”, afirmou.
Dona do salão de beleza Natienne Hair há 4 anos, Neuza da Silva percebeu um baixo número de atendimento a clientes neste começo de ano. “Especialmente com os clientes que costumavam vir com frequência de duas vezes por mês, agora estão vindo apenas uma vez por mês, em comparação com o ano passado. Janeiro deste ano foi pior do que o de 2024. Começamos o ano bem devagar”, pontuou a empresária.
Em relação as expectativas para os próximos meses, Neuza não tem perspectiva de aumento até o começo de abril. “Eu acredito que, no geral, a situação vai continuar complicada. Janeiro já é um mês mais calmo, devido aos impostos e aos gastos do fim de ano. O Carnaval pode atrapalhar, pois as pessoas viajam e gastam muito, o que diminui o movimento. Quando retornam, há uma calmaria, porque já gastaram tudo. Então, acredito que as coisas devem melhorar mesmo após março, mas não tenho muitas expectativas de uma grande melhora, pois os preços continuam altos”, acredita a empreendedora.
Outro segmento
Mesmo em segmentos diferentes, a redução do interesse dos clientes tem impactado diversas áreas dentro do setor de serviços. A proprietária do Restaurante do Tomas, Sônia Beatriz, explicou que houve uma queda de 30% nas vendas da marmitas e pratos feitos do local, e por isso busca inovar em novos pratos com preços acessíveis para atrair mais clientes.
“A solução é tentar inovar nos pratos para chamar a atenção dos clientes. Está difícil, porque, do que vendíamos antes, as vendas caíram bastante. Eu criei um prato mais barato, de R$15,00, que é o frango frito, o mais acessível do cardápio. Também lancei um prato econômico, que tem ovo, frango, arroz, feijão e um pouco de salada, por R$11,00, para tornar mais acessível e atrair o cliente”.
Outro proprietário que também sente o impacto na busca por clientes, embora de forma mais acentuada, é Waldemir Barbosa, responsável pela Cantina do Tio Wal. Ele explica que a principal razão pelas quais suas vendas se mantêm em movimento é a localização estratégica do restaurante, ao lado do Hotel da FETEMS (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul). No entanto, ele destaca que, houve uma queda significativa na procura por seus serviços.
“Para nós os meses de janeiro e fevereiro não costumam ter uma queda muito grande, porque dependemos bastante do hotel. Dependendo do movimento de hóspedes, a movimentação no nosso comércio não diminui muito. Já o pessoal que vem de fora para almoçar, esse sim, houve uma redução na procura”.
Análise do setor
Para o mestre em economia Eugênio Pavão, um dos fatores que podem ser responsáveis pela baixa procura no setor podem estar associados desde fatores como a inflação quanto a decisão dos próprios clientes em reduzir gastos. “A contração verificada pelo setor de serviços no Brasil se deve a um conjunto de fatores, como a alta da inflação, que descola a renda para despesas mais necessárias. Um certo esgotamento no setor, devido ao grande número de empresas de serviços disputando um número limitado de consumidores, além da queda da demanda por serviços no período”.
Na visão do economista, os setores de serviços mais impactados neste período incluem salões de beleza, cabeleireiros, manicures, serviços de home care, entregas em domicílio, táxi, mototáxi, aplicativos de transporte e conserto de roupas. Eugênio ressalta que a recuperação desse setor está diretamente ligada ao aumento da renda, com maior nível de emprego e melhores remunerações. No entanto, 2025 apresenta desafios para essa retomada, como a inflação, a alta nas taxas de juros e a redução dos investimentos, o que pode tornar o ano difícil para diversos segmentos da economia.
“O esfriamento da economia em 2025 já é uma realidade, obrigando o setor de serviços a se adaptar às novas condições. Estratégias como ampliação da oferta de serviços, conquista de novos clientes e fusões entre empresas do setor são algumas das formas de melhorar as expectativas para o futuro”, concluiu.
Por João Buchara
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