Uma dupla que coleciona colaborações em filmes icônicos está de volta aos cinemas, com o filme ‘Aqui’ (Here): Tom Hanks e Robert Zemeckis. O ator e diretor já trabalharam juntos em ‘Náufrago’, ‘O Expresso Polar’, ‘Os Fantasmas de Scrooge’ e o mais famoso, ‘Forrest Gump – O Contador de Histórias’, que rendeu a Hanks o Oscar de Melhor Ator. ‘Aqui’, é uma das apostas ao Oscar de 2025.
Em Aqui, a história se ambienta em um único lugar: a sala de uma casa. Acompanhando diversas famílias ao longo de gerações, todas conectadas por este espaço-tempo que um dia chamaram de lar. Usando esse espaço único para ilustrar as transformações ocorridas em diversas eras, desde os primórdios da humanidade. Richard (Tom Hanks) e Margaret (Robin Wright) são um casal prestes a deixar o lar onde colecionaram uma emocionante jornada de amor, perdas, risos e memória, que transportaram desde o passado mais distante até um futuro próximo. Apresentando uma viagem pela linha do tempo da humanidade, contada de forma emocionante e surpreendente, onde tudo acontece em um único lugar: Aqui.
A dobradinha de Hanks e Zemeckis vira um trio no novo filme, com a adição de Robin Wright no elenco, que já trabalhou com o ator e com o diretor em Forest Gump, no papel de Jenny, o trágico interesse amoroso do Forrest.
No trailer, vemos que o filme não começa apenas na sala da casa. Ele mostra o espaço desde os seus primórdios, quando os dinossauros andavam pelo Planeta Terra, até as mudanças climáticas ocorridas naquele único espaço. O surgimento da humanidade é mostrado, desde seu Homo Sapiens até a construção de uma civilização. Vemos ali o começo do que seria a casa, sua construção e compra pelos pais de Richard, Rose Yong e Al Young, interpretados por Kelly Reilly (Yellowstone) e Paul Bettany (Wandavision). O drama irá mostrar então tudo que podemos viver ao longo da vida em um lar: aniversários, namoros, nascimentos e perdas.
‘Aqui’, é baseado na Graphic Novel de mesmo nome do quadrinista e designer norte-americano Richard McGuire, publicada inicialmente com apenas seis páginas, em 1989, na revista Raw, editada por Art Spiegelman (Maus) e sua esposa Françoise Mouly. Em 2014 o autor lançou a edição amplificada, que mostrou um ‘novo’ jeito de fazer quadrinhos, em que mostra diversos pontos de vista em apenas um quadro, expondo a passagem de tempo.
Tecnologia: a atual ‘vilã’ do cinema
Um dos pontos que ganhou destaque na crítica de ‘Aqui’ foi o uso da tecnologia para rejuvenescer Hanks e Wright, mostrados como adolescentes em parte do filme. O uso do digital não é novidade para o diretor, como visto em suas produções em O Expresso Polar (2004), A Lenda de Beowulf (2007, esse também com Wright), Os Fantasmas de Scrooge (2009). A intenção de Zemeckis é revolucionar a experiência, com efeitos de rejuvenescimento em tempo real. Entretanto, a discussão sobre o uso da tecnologia é comentada em Hollywood, onde críticos ponderam se esse avanço não será prejudicial para os atores a longo prazo, citando a possibilidade de substituição.
Mas, os atores principais defendem o uso. Em entrevista a Rádio Times, Hanks elogiou os aspectos técnicos. “É uma ferramenta incrível porque o supercomputador elimina a necessidade de esperar pela pós-produção para realizar o trabalho técnico de visualização”. Robin Wright pontou que há limitações. “Nunca poderíamos emular nossos olhos aos 19 anos. Temos toda essa experiência de vida agora. Mas o [rejuvenescimento digital] foi uma ferramenta incrível para que não precisássemos escalar alguém mais jovem para nos interpretar.”
Critica
O filme não é isento de críticas. Com 39% de aprovação no Tomatômetro da plataforma “Rotten Tomatoes” baseado em 157 avaliações, o filme não conquistou unanimidade entre os críticos. Essa pontuação indica que, apesar de seu elenco de peso e da ambiciosa proposta narrativa, a produção não conseguiu agradar a todos os especialistas, com algumas críticas apontando falhas no ritmo e na construção das relações entre personagens e história.
As plataformas de críticas de cinema, “Letter Box” e “Meta Critics”, destacaram que a proposta do filme refletir sobre a classe média, suas expectativas e frustrações ao longo de gerações, é um conceito válido. Porém, durante o filme, muitas vezes, se perde em delírios históricos e tentativas de dar relevância aos personagens em relação aos grandes acontecimentos da época.
“Aqui” utiliza uma câmera que raramente sai do mesmo ponto de vista, o que ajuda a sobrepor momentos de diferentes épocas, em um jogo de temporalidades. Essa escolha estética, embora considerada por alguns como uma técnica simples, oferece uma sensação de continuidade e reforça o aspecto de que tudo, com o tempo, se entrelaça. A ideia de que uma casa, um lugar fixo, armazena não apenas objetos, mas histórias e emoções, é o grande climax do filme, transformando-a em um verdadeiro personagem dentro da narrativa.
A combinação entre o olhar nostálgico e a análise da fragilidade da classe média ao longo do tempo é a base da narrativa, que embora se arraste em alguns momentos, consegue encontrar respiro ao focar na evolução das relações pessoais. A presença de Tom Hanks e Robin Wright, conhecidos por sua química em Forrest Gump, trazem, mais uma vez, uma performance impressionante, especialmente no que tange à construção de seus personagens que atravessam décadas de história.
O CGI, em alguns momentos, não atinge o nível esperado para um filme de grande produção, mas isso não compromete a essência da trama, que vai muito além das escolhas técnicas e busca tocar o espectador de forma emocional. O filme se distancia de uma narrativa idealizada, deixando claro que o tempo e a rotina, embora pareçam triviais, são os elementos que realmente definem as vidas e histórias dos seres humanos.
A obra, apesar dos erros, consegue trazer sensibilidade, emocionar e provocar reflexões sobre as dinâmicas familiares e as transições de uma geração para outra. Embora falhe em alguns aspectos, especialmente ao tentar encaixar seus personagens em uma narrativa histórica mais grandiosa do que o necessário, a obra é, sem dúvida, uma história emocionante e sobre as memórias que ficam e as situações que nos moldam. Quem estiver disposto a se deixar envolver pela proposta de Zemeckis e Roth, encontrará um filme tocante, que, apesar de seus defeitos, consegue fazer a audiência refletir sobre as marcas do tempo.
Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi