Para que filosofia? O que ela faz do ponto de vista prático? Qual a importância da filosofia para um lugar como Mato Grosso do Sul? Essas questões parecem abstratas, mas refletem desafios muito concretos. Pensar a filosofia nesse contexto exige identificar características únicas do estado: a diversidade cultural, o protagonismo do agronegócio, a abundância de fauna e flora, o pantanal, os territórios indígenas, entre outras.
A grande questão é: como a filosofia pode ser útil na resolução de problemas locais? Aos que defendem a tese de que a filosofia não tem serventia nenhuma e que ela é útil apenas em si mesma e para si mesma, pasmem: sim, a filosofia é útil! Não apenas é útil como é indispensável. É possível aplicar teorias filosóficas para pensar em melhorias concretas relacionadas a nossa cidade e ao nosso estado. A conscientização da população sem dúvidas é o primeiro passo. Mas, é possível ir além e identificar algumas utilidades práticas da filosofia no contexto sul-mato grossense, cito algumas delas: promover reflexões sobre os direitos e a sabedoria ancestral das comunidades indígenas; auxiliar na criação de debates sobre ética e estratégias sustentáveis nos desafios do desmatamento, do agronegócio e da preservação do pantanal; contribuir para a formação de lideranças conscientes, principalmente nos setores educacionais e políticos etc.
Nós, que estamos inseridos no campo da filosofia, sabemos da sua importância e da sua capacidade de lidar com determinados desafios por meio do discurso, da reflexão lógica e crítica. Porém, um dos maiores desafios da filosofia é comunicar-se de forma acessível e significativa. Mas como conscientizar e ensinar a lidar com problemas cotidianos através da filosofia de uma forma que toque as pessoas? “A filosofia deve voltar a falar aos corações”. Nós perdemos essa capacidade e não estamos sendo formados para isso. O pior de tudo é que essa lacuna abre espaço para oportunistas de toda espécie (coaches, religiosos, populistas e afins), que com suas retóricas exploram a habilidade de se conectar emocionalmente com as pessoas, mas de forma artificial, muitas vezes manipuladora, sempre enriquecendo a poucos e empobrecendo a muitos. Uma alternativa para os desafios da filosofia no contexto pantaneiro é direcionar seu potencial para resolver problemas locais e cotidianos, adotando uma linguagem que fala aos corações do povo sul mato-grossense.
Além disso, a filosofia não precisa provar constantemente o seu valor. Sua história de mais de dois milênios já demonstrou seu impacto na formação de sociedades mais justas e conscientes. Em Mato Grosso do Sul ela pode fazer o mesmo: ajudar a construir uma população mais crítica e preparada para os desafios do futuro.
Assim como as águas do pantanal conectam vida às suas margens, a filosofia pode conectar ideias universais às necessidades locais, trazendo luz às questões mais urgentes do estado. Que ela seja a faísca capaz de inspirar novas lideranças e criar um futuro onde a autonomia e a liberdade não sejam somente ideais, mas práticas cotidianas.
Natasha Garcia Coelho é graduanda em filosofia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: [email protected]
Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.
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