Mudança Climática: Água Pantanal Fogo

Lalo de Almeida. Fogo assola a vegetação da Fazenda Paraíso, na Nhecolândia, no Pantanal Sul. Corumbá, Mato Grosso do Sul, 2 de agosto de 2024.

A exposição reúne mais de 80 fotografias que capturam a riqueza da fauna e flora do Pantanal, contrastando com a devastação causada pelas queimadas

 

Com o objetivo de fazer soar um alerta global sobre as evidências da emergência climática, evidenciadas pela dura realidade enfrentada no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul nos últimos quatro anos, o “Documenta Pantanal” levará, entre fevereiro e junho de 2025, a exposição-manifesto “Mudança Climática: Água Pantanal Fogo” a dois importantes países europeus: Alemanha e Portugal. Composta por uma seleção impactante de 80 fotografias, a mostra visa sensibilizar e engajar o público internacional para os desafios ambientais enfrentados por este ecossistema único.

Originalmente chamada “Água Pantanal Fogo”, a exposição foi apresentada ao público paulista em 2024, com enorme sucesso, atraindo mais de 15 mil visitantes no Instituto Tomie Ohtake. Sob curadoria de Eder Chiodetto, a mostra reúne 40 imagens de Luciano Candisani e 40 de Lalo de Almeida, dois dos mais renomados fotojornalistas brasileiros, cujos registros contrastam as cenas de vida e destruição em um bioma que sofre uma ameaça constante.

Agora a exposição será um dos principais destaques da programação do Museu Internacional Marítimo de Hamburgo, na Alemanha, entre 6 de fevereiro e 6 de abril de 2025. Após Hamburgo, a mostra segue para Lisboa, onde ficará em cartaz no Museu Nacional de História Natural e da Ciência de 19 de abril a 25 de junho de 2025.

O Pantanal pela Lentes

Foto: Site Oficial do Fotojornalista

Entre as imagens da exposição, o trabalho de Lalo de Almeida se destaca não apenas pela força estética, mas pela urgência de sua mensagem. O fotógrafo, conhecido pelo seu trabalho de fotojornalismo, documentou as queimadas no Pantanal em 2020, ano em que os incêndios atingiram proporções alarmantes. Para o Jornal O Estado, Lalo compartilhou suas experiências, reflexões e a motivação por trás de seu trabalho.

Lalo sempre foi familiarizado com a realidade das queimadas. Seu trabalho, que se concentra principalmente na Amazônia, o havia preparado para cenários de destruição. No entanto, ao chegar ao Pantanal em 2020, ele foi tomado por uma sensação de impotência diante da magnitude dos incêndios. “Eu já havia fotografado muitos incêndios, mas o que encontrei no Pantanal foi algo muito mais devastador. A quantidade de focos de incêndio era impressionante, e o que mais me chamou a atenção foi a quantidade de animais mortos”, disse Lalo.

O fotógrafo descreveu uma cena particularmente marcante: “Estávamos em uma estrada no Pantanal, cercada por um campo queimado. Quando paramos o carro, avistamos um ponto marrom. Era um viado morto. Logo mais adiante, encontramos uma família inteira de macacos-prego, carbonizados, com mais de 30 animais. Foi ali que percebi a dimensão da tragédia. O fogo não dava chance de fuga aos animais, nem mesmo aos mais rápidos ou inteligentes. As imagens dos animais mortos, como os macacos carbonizados, ajudaram a mobilizar a sociedade e a pressionar o governo a tomar medidas, embora essas ações tenham sido tardias e ineficazes”, reflete o fotógrafo.

Segundo Lalo, o impacto das suas fotos não se restringiu apenas aos brasileiros, mas alcançou uma audiência global. As imagens publicadas em veículos internacionais e nas redes sociais causaram um enorme despertar.

“A fotografia tem um poder direto de comunicação. Ela cria uma empatia imediata e também proporciona reflexão. Em um mundo inundado de imagens que desaparecem rapidamente, a fotografia ainda consegue parar o tempo e nos fazer refletir. A empatia que as pessoas têm pelos bichos foi um motor poderoso para a conscientização. O Pantanal se tornou um símbolo da crise ambiental no Brasil e no mundo”, comenta.

As imagens de Lalo capturam não apenas a destruição, mas também a tragédia pessoal de cada animal perdido no fogo. “Eu nunca vou esquecer de uma foto de um animal carbonizado, quase em uma posição humana, como se estivesse tentando fugir das chamas. Isso me marcou profundamente. Mesmo os animais mais rápidos e inteligentes, como os macacos, não conseguiram escapar”.

Entre Águas e Destruição

Foto: Site Oficial do Fotojornalista

A fotografia de Luciano Candisani transcende a mera captura de imagens; ela é um convite à reflexão profunda sobre os ambientes naturais que, silenciosamente, formam a base da nossa existência.Para o Jornal O Estado, Candisani mostra a visão por trás de sua obra fotográfica, com foco em uma série emblemática que agora compõe a exposição. O fotojornalista nunca teve dúvidas sobre o que o atrai nas grandes paisagens naturais: a água.

“Nunca foi minha intenção produzir mais um conjunto de imagens sobre as belezas do Pantanal. Meu objetivo sempre foi fornecer uma visão mais profunda, um olhar sobre a vida que se desenrola no elemento fundador do Pantanal: a água. Ao longo de diversas expedições, passei horas submerso, a poucos centímetros de jacarés, sucuris, piranhas e ariranhas. Essas criaturas, estavam ali, diante da minha câmera, não apenas como seres a serem observados, mas como representantes de um ciclo maior, onde a água controla a paisagem e sustenta toda a vida”.

Em sua colaboração com Lalo de Almeida, que documentou os incêndios na região, Candisani criou uma narrativa visual poderosa, na qual a exuberância das águas e a vida submersa se encontram com a devastação trazida pelo fogo “Minha parte da exposição mostra a exuberância das águas formadoras do bioma, enquanto Lalo documentou a destruição provocada pelo fogo”, explica.

Sob a curadoria de Eder Chiodetto, a exposição Água Pantanal Fogo revela o trabalho colaborativo e ousado dos fotógrafos Luciano e Lalo de, que, com a ajuda de cientistas e pesquisadores, se expuseram a condições extremas para capturar imagens impactantes do Pantanal.

“É em trabalhos como esses, que aliam idealismo, paixão e militância, que a fotografia alcança seu ápice, tornando-se uma janela aberta a revelar as idiossincrasias e o sublime do mundo. A justa medida do encontro dos dois nos mostra não só a pulsão de morte e a pulsão de vida, mas, sobretudo, o quanto a gente pode trabalhar como sociedade para repensar o que estamos fazendo com o planeta”, finaliza Chiodetto.

 

Amanda Ferreira

 

 

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