Banda alternativa que fez sucesso na Capital, volta com apresentação após 11 anos de pausa
“Vá e explore o mundo,
Vá antes que o tempo mude,
Vá e sinta a força do vento,
Vá, eu te dou asas para voar”
Seguindo os versos de sua própria música, a banda Dimitri Pellz, após 11 anos de silêncio, está pronta para explorar o mundo, aproveitar o vento e se permitir recomeçar. Com sua volta à cena alternativa, a banda se apresenta neste sábado, 21, no Vexame, acompanhada pelas discotecagens de Link Off e pelas apresentações das bandas Os Alquimistas e Parkers.
Para os fãs da cena alternativa em Campo Grande, o momento finalmente chegou: é hora de reviver a energia que, mesmo no silêncio, sempre fazia seu barulho ser ouvido. A noite começa com os Parkers, trazendo um rock cheio de atitudes e influências do bubblegum, seguidos pelos Alquimistas, uma mistura de garage rock com o espírito das gerações eletrônicas. Para fechar a noite com chave de ouro, o Link Off vai transportar a galera para um universo de eletrônica experimental, com ecos das ondas cósmicas da era soviética, para os que vivem à margem do fim do mundo.
A noite também celebra o lançamento de Dimitri Pellz nas plataformas de streaming. Vinda da era dos CDs, a banda sempre manteve seu repertório guardado nos discos compactos. Agora, toda a intensidade, a loucura e a irreverência da banda estarão ao alcance de um clique, prontas para serem ouvidas a qualquer hora, em qualquer lugar.
Quem foi Dimitri Pellz?
Formada por Maíra Espíndola nos vocais, André Samambaia no teclado, Heitor Teixeira no baixo, Jean Albernaz na bateria e Michelle Meza na guitarra, a banda nasceu em Campo Grande, em 2005, e se tornou um marco na cena alternativa da cidade. Em uma época dominada por botas de sertanejo e chapéus de cowboy, Dimitri Pellz trouxe coturnos e muito lápis de olho, transformando o cenário musical local.
A origem do nome da banda Dimitri Pellz remonta a uma lenda, que diz que um revolucionário russo, acreditando tanto no comunismo quanto no rock and roll, foi executado na década de 1950 por possuir compactos de música americana durante a Guerra Fria. Outros, no entanto, afirmam que Dimitri, na verdade, se tornou uma travesti para escapar da Rússia com vida e hoje vive na Tailândia.
Mas para a banda, isso pouco importa. Para eles, a propriedade é um roubo e não têm pudor em saquear tudo o que encontram: a mítica do nome, os riffs sujos dos pioneiros do grunge, a banda Mudhoney, a polca fronteiriça, o charme da new wave e a presença de palco avassaladora de um Iggy Pop. Sedutores e subversivos, eles seguem quebrando todas as convenções.
Com dois EPs e um álbum completo no retrovisor, a banda deixou uma marca indelével na geração que frequentava desde os moquifos até o Parque das Nações, entre 2005 e 2013.
O álbum “TREPANADOR” da banda completou 11 anos em 2024 e, na última quarta-feira (18), finalmente chegou às plataformas de streaming com um repertório atualizado e digitalizado. Esse hiato foi crucial para a banda, que percebeu que algumas coisas não envelhecem — elas permanecem cruas, intempestivas, como se o tempo não tivesse poder sobre elas.
Gravado com a brutalidade e a urgência de uma revolução que explode nas ruas, o álbum foi produzido por Alex “Fralda” Cavallieri (Bando do Velho Jack), que rasgou os manuais de gravação em um impulso destrutivo, disposto a reconstruir tudo de uma maneira que poucas bandas ousam.
O Retorno Após 11 Anos
A volta da banda foi impulsionada por uma conversa entre os integrantes, que, durante um show de fim de ano com outras bandas contemporâneas, decidiram que seria interessante ter o grupo de volta aos palcos. Jean Albernaz, que mora no Rio de Janeiro há 12 anos, relembra que a ideia surgiu como uma oportunidade única de rever os amigos e se reconectar com o público. “Na verdade, foi a vontade de estar com essas pessoas de novo, fazendo algo que sempre foi espontâneo”, diz o baterista para a reportagem.
Heitor Teixeira complementa que o retorno foi quase um acidente, no estilo caótico característico do Dimitri Pellz. A ideia de realizar um show surgiu de uma conversa rápida e, em apenas dois meses, a banda decidiu voltar aos palcos após 11 anos de pausa. Já Maíra Espíndola relembra o retorno como algo surpreendente: “Eu não sei quem teve a ideia, mas eu gosto de como essa pessoa pensa. Um Dimitri Pellz do nada, no meio do furacão da vida… eu concordo com isso!”.
O reencontro no estúdio não foi sem desafios. Jean, que se considera o mais distante fisicamente da banda, relata que o sentimento de “síndrome do impostor” invadiu o momento antes dos primeiros ensaios. “Será que a química vai ser a mesma? Será que conseguimos capturar o espírito de antes?”, questiona. No entanto, a sensação foi de que tudo fluiu naturalmente assim que a banda se reuniu. “Não somos mais os mesmos, mas o que tornava tudo interessante ainda está ali”, afirma Jean.
Heitor também menciona o quanto a interação foi fácil após a reaproximação, destacando o papel fundamental da guitarrista Michele Meza: “Tocar novamente foi como se o tempo não tivesse passado. A ‘Mitchoo’, com sua presença, trouxe uma estabilidade que o Dimitri precisava”. Maíra, de maneira simples, resume: “Parece que foi ontem que tocamos pela última vez”.
Com o lançamento de TREPANADOR nas plataformas digitais, a banda busca trazer a mesma intensidade e irreverência que marcaram sua trajetória. O processo de gravação, que começou em 2012, foi finalizado recentemente, mas a energia crua que caracteriza a banda se mantém intacta. Para Jean, a gravação do disco foi um processo de experimentação, mas ele ressalta que o verdadeiro espírito de Dimitri Pellz ainda está nos shows ao vivo: “O disco tem um peso e refino, mas ao vivo o Dimitri é um monstro bem diferente. O que se perde na produção, ganhamos na energia ao vivo”, explica.
Heitor também lembra que o lançamento não representa um material completamente novo, mas uma reaproximação com o passado da banda. “Era uma vontade antiga lançar as músicas nas plataformas, e o show de 11 anos nos deu a chance de finalmente resolver essa pendência”, conta.
O show de retorno promete ser um evento épico, e os integrantes estão preparados para entregar uma apresentação que reverbera a energia que marcou a banda no passado. Jean observa que, apesar das mudanças no público e na cena local, o retorno ao palco será uma oportunidade para reacender a chama que sempre existiu entre eles e a cidade. “Queremos que quem nos viu lá atrás, e quem nos vê agora pela primeira vez, sinta a mesma intensidade, o mesmo impacto”, afirma.
Para Heitor, a expectativa é que o público de Campo Grande, sempre reconhecido pela sua intensidade, continue sendo um ponto forte da recepção: “O público de CG sempre foi especial. Vamos descobrir como ele responde ao nosso retorno depois de tanto tempo. Mas, de qualquer forma, sabemos que será algo inesquecível”, conclui.
Serviço: O retorno do Dimitri Pellz será realizado neste sábado (21), no Vexame, às 20h, na Avenida Calógeras, 3100-Centro. A entrada é a partir de R$13,00. Para conferir as músicas da banda, acesse pelo link: https://youtube.com/@dimitripellz?si=NbvV7B3eKCCfrZ_m
Amanda Ferreira