Feira internacional na Colômbia destaca 85 artistas latino-americanos, incluindo artesãs de Mato Grosso do Sul
O Brasil tem conquistado uma posição crescente no cenário artístico global, especialmente a partir da década de 1970, com o processo de globalização e a valorização de expressões artísticas fora dos centros tradicionais. Esse movimento abriu espaço para o reconhecimento das produções de diversas regiões, incluindo a América Latina, e levou a arte brasileira a ser cada vez mais apreciada em importantes eventos internacionais.
Um exemplo disso é a Expoartesanías 2024, que ocorrerá de 4 a 17 de dezembro em Bogotá, na Colômbia. O Brasil será o país de honra da feira, considerada uma das maiores da América Latina, e terá um pavilhão de 285 metros quadrados, onde peças de 79 artesãs brasileiras serão expostas e comercializadas, incluindo artistas do Mato Grosso do Sul.
Entre as participantes, quatro artesãs do Estado representarão o estado: Ana Paula Polidório, da etnia Terena, Elizângela Morais da Silva, da etnia Kadwéu, Fabiane Avalhaes Marçal de Brito e Ramona Coimbra Pereira, da etnia Ofaié. O evento, promovido pela APEX Brasil, visa destacar a diversidade e a riqueza do artesanato brasileiro, promovendo a fusão entre tradição e inovação, com peças nas áreas de moda, cerâmica, joias e decoração.
Arte Indígena
A Expoartesanías é a feira de artesanato latino-americana que procura promover a preservação do artesanato latino tradicional. Nessa ocasião, são exibidos os grandes trabalhos dos artesãos e suas criações, que representam as diversas culturas e tradições das diferentes regiões e países.
Para a reportagem do Jornal O Estado, Ramona Coimbra Pereira, indígena do povo Ofaié e ex-vice-cacique de sua comunidade, explicou que, embora não tenha sido selecionada diretamente para participar da Expoartesanías 2024, celebra o fato de que um de seus produtos artesanais, um tecido, foi escolhido para compor a exposição.
“Enviar nosso produto para uma feira internacional, para uma exposição tão grande e maravilhosa, é a realização de um sonho antigo. Sempre quis que os nossos produtos estivessem em uma feira internacional, e mesmo que eu não tenha sido selecionada pessoalmente, nosso tecido foi, o que nos traz uma felicidade enorme”, destaca Ramona.
O trabalho artesanal do grupo de mulheres indígenas do povo Ofaié teve início em 2010, quando uma empresa de fibras se aproximou da comunidade para apoiar o desenvolvimento da arte local. Desde então, o tecido artesanal se tornou uma grande oportunidade para o grupo, que se destaca como o único a produzir esse tipo de trabalho.
“Com o foco no fazer manual, nós criamos peças como caminho de mesa, jogo americano, toalhas, almofadas e bolsas ecológicas, sempre com desenhos e grafismos originais que refletem nossa cultura e tradições. Para nós, mulheres indígenas, participar de eventos internacionais como a Expoartesanías é um marco significativo, representando o reconhecimento da nossa arte e a valorização do nosso trabalho. Além disso, é uma importante conquista para a visibilidade do artesanato indígena e para o fortalecimento da nossa identidade cultural”, relata.
A artesã afirma que, para o povo Ofaié, é uma grande honra mostrar seu trabalho e sua cultura, únicas no estado, no Brasil e no mundo. Um povo de resistência, fruto de muita luta, força e coragem ao longo dos anos, que agora tem a oportunidade de compartilhar sua história e demonstrar que sua língua materna e suas tradições estão vivas.
“Hoje, temos a oportunidade de compartilhar nossa história e mostrar que nossa língua materna e nossas tradições estão vivas. Em nossos artesanatos, inserimos a língua Ofaié nos tecidos, além de representar a fauna e a flora da nossa reserva por meio de desenhos de animais, pássaros e folhas que fazem parte do nosso cotidiano”.
A artesã Fabiane Marçal teve sua peça “Onça com filhote na boca” selecionada para participar da Expoartesanías 2024. A seleção, que contou com diversas etapas, recebeu inscrições de artesãos de todo o Brasil. Ao ser informada de que sua obra havia sido escolhida, Fabiane expressou sua felicidade e gratidão pela oportunidade, destacando a importância de representar o Brasil em um evento de grande porte.
“A onça carregando o filhote é um felino muito apreciado no Brasil e no exterior, porque a onça-pintada é linda por natureza e depois carregando o filhote, traz um lado materna. Eu espero que Bogotá seja uma porta exportações de artesanato de MS. Para o estado, é muito importante esse reconhecimento, pois temos artesanatos lindíssimos que merecem fazer parte da exposição”, explica Fabiane para a reportagem.
O trabalho de Fabiane é baseado em uma tradição que busca preservar as técnicas que aprendeu com sua mãe, ao mesmo tempo, em que ela procura inovar, utilizando métodos que otimizam sua produção e criam novos modelos de acordo com as demandas do mercado.
Ela destaca que sua participação na Expoartesanías 2024 é uma oportunidade para compartilhar a cultura do artesanato de Mato Grosso do Sul, ao mesmo tempo em que espera aprender novas práticas e trocar experiências culturais durante a feira.
“Desde criança, vi minha mãe criando peças lindas e transmitindo o amor pelo artesanato, o que me inspirou a seguir essa arte. Aos 18 anos, decidi viver do artesanato. A arte de Mato Grosso do Sul está bem representado, pois retrata a fauna pantaneira e utiliza o barro retirado do solo local, transformando-o em lindas obras feitas à mão”, relata.
A priorização sobre a identidade nacional e o reconhecimento das práticas artísticas não-ocidentais permitiram que a riqueza das produções latino-americanas, africanas, oceânicas e de outras regiões ganhasse destaque. Nesse contexto, a arte brasileira passou a circular mais intensamente no cenário internacional, sendo acolhida e celebrada por instituições de renome no sistema artístico global.
Amanda Ferreira
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