Curta-metragem “Jardim de Pedra: Vida e Morte de Glauce Rocha” resgata a memória da atriz Campo-grandense

Equipe do filme indo gravar - Assessoria

Documentário sobre legado e a importância cultural da atriz Gláucia Rocha estreia nesta quinta-feira (21)

Estreia nesta quinta-feira (21) o curta-metragem documental “Jardim de Pedra: Vida e Morte de Glauce Rocha”. Dirigido por Daphyne Schiffer e Rodrigo Rezende, o filme retrata de forma sensível e impactante a trajetória da atriz campo-grandense, abordando não apenas sua carreira e legado, mas também provocando uma reflexão profunda sobre o empoderamento feminino e a preservação da memória cultural.

Desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Jornalismo pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o documentário é uma produção que busca reviver a trajetória de uma das maiores atrizes brasileiras. Além de recontar a história de Glauce Rocha, o filme propõe uma reflexão sobre o papel da memória na construção da identidade cultural de um país.

Antes mesmo de sua estreia oficial, o documentário conquistou importantes premiações, incluindo os prêmios de Melhor Documentário e Melhor Direção na 9ª Mostra Audiovisual de Dourados (MAD) 2024. A partir do dia 21 de novembro, o filme estará disponível ao público no Espaço Energia, oferecendo uma imersão na vida e legado de Gláucia Rocha. Além da exibição do documentário, os visitantes poderão conferir uma exposição exclusiva dedicada à atriz, que ficará aberta até a segunda semana de janeiro de 2025.

A mostra inclui um acervo rico e diversificado, composto por figurinos originais usados por Gláucia em novelas, filmes e peças de teatro, além de recortes de jornais das décadas de 1960 e 1970 que documentam sua carreira e o impacto de sua morte. Também estão expostas fotos inéditas, biografias e livros, junto a um painel cronológico que destaca suas principais obras.

Produção

A diretora do documentário, Daphyne Schiffer, natural do Rio de Janeiro, compartilhou com a reportagem o que a motivou a investigar a vida de Glauce Rocha. Ao chegar a Campo Grande para estudar na UFMS, Daphyne ficou surpresa ao descobrir que o maior teatro da cidade, localizado na universidade, leva o nome da atriz, mas a maioria das pessoas não sabia quem ela era. Esse contraste despertou sua curiosidade, e ela decidiu pesquisar mais sobre a trajetória da atriz.

“Quanto mais eu investigava, mais me apaixonava pela história dela. A carreira, as obras nas quais se envolveu e a relevância dela enquanto atriz me fascinaram. Mas, além disso, fui me encantando também pela Glauce enquanto pessoa, pela força dela e pela entrega que tinha ao seu trabalho”, contou Daphyne.

A preservação da memória histórica é uma questão delicada e complexa trata no curta-metragem, especialmente quando se trata de artistas e personalidades que marcaram a cultura de uma cidade ou país. Esse questionamento é central na narrativa do filme, que não apenas destaca a trajetória de Gláucia, mas também amplia a discussão para outras personalidades que contribuíram de maneira significativa para a cultura local e nacional.

“Eu acho que é fundamental lembrar das pessoas que vieram antes de nós, para entender que o lugar de onde viemos tem história, tem memória. Existem pessoas que abriram caminhos, que contribuíram para que hoje pudéssemos estar aqui. Imagine só os novos artistas, atores e atrizes de Campo Grande saberem que uma figura tão grande, tão potente, saiu daqui, como a Gláucia. Isso é muito importante. Lembrar do passado é essencial para construir o futuro”, destaca.

O filme busca utilizar o cinema, assim como o teatro e a televisão, como ferramentas de preservação da memória. A intenção é clara: apresentar ao público, ainda que de forma breve, um pouco da trajetória de Gláucia Rocha e do impacto que essa mulher teve na cultura. A obra pretende, assim, proporcionar uma amostra do poder e da relevância de Gláucia, destacando sua importância na história cultural de Campo Grande e do Brasil.

“Eu acredito que o objetivo do filme é exatamente mostrar a potência que Gláucia Rocha foi e, quem sabe, fazer com que as pessoas se interessem mais sobre sua história e se orgulhem de ter uma referência tão importante vinda de Campo Grande. Ela foi uma mulher que fez história, e se eu tenho algum objetivo com esse filme, é justamente ajudar a preservar a memória da cidade, destacando sua contribuição para a cultura e para a luta por direitos”, finalizou Daphyne.

Quem foi Glauce Rocha?

Glauce Eldé Ilgenfritz Corrêa de Araújo Rocha, nascida em Campo Grande, Mato Grosso (atualmente Mato Grosso do Sul), em 16 de agosto de 1930, foi uma atriz de grande renome que marcou a história do cinema, da televisão e do teatro brasileiros nas décadas de 1950 a 1970. Conhecida não apenas pelo seu talento nas artes cênicas, mas também pela sua postura firme diante das injustiças sociais, Gláucia se destacou por sua coragem em se posicionar.

A atriz construiu uma trajetória artística exemplar, que envolveu a participação em 27 filmes, 64 novelas, além de 55 peças teatrais. Sua carreira incluiu papéis emblemáticos no Cinema Novo, movimento cinematográfico que se tornou um marco da história do cinema brasileiro, com filmes como “Rio 40 Graus” (1955), “Cinco Vezes Favela” (1962) e “Terra em Transe” (1967).

Ela não foi apenas uma atriz talentosa, mas também uma mulher engajada politicamente. Durante a ditadura militar, foi uma das figuras públicas que se opôs à censura e lutou pelos direitos humanos e pelas liberdades civis, além de destacar a importância da mulher no cenário artístico e social.

A carreira de Glauce foi tragicamente interrompida em 1971, quando a atriz faleceu aos 41 anos, vítima de um ataque cardíaco fulminante, após uma série de jornadas extenuantes de trabalho. De acordo com o diretor Fauzi Arap, “se não fosse sua morte precoce, hoje estaria figurando ao lado de Fernanda Montenegro e o mais alto escalão do teatro”. Mas, apesar da importância de sua obra, a memória de Glauce Rocha parece ter sido ofuscada pelo tempo, principalmente em Campo Grande, onde a artista nasceu e viveu grande parte de sua infância e adolescência.

Defensora dos colegas de trabalho e das mulheres, ela não hesitava em levantar a voz contra qualquer forma de opressão. Sua paixão pelas artes e sua personalidade forte a tornaram uma figura admirável e inspiradora. O filme que resgata sua trajetória busca, assim, preservar sua memória e legado, celebrando tanto sua contribuição cultural quanto sua luta incansável por um mundo mais justo.

Serviço

A exposição e a estreia do curta “Jardim de Pedra: Vida e Morte de Glauce Rocha” acontecerão a partir do dia 21 de novembro de 2024, no Espaço Energia, localizado na Avenida Afonso Pena, nº 3901, em Campo Grande – MS. O evento estará disponível para o público de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Por Amanda Ferreira

 

Confira as redes sociais do O Estado Online no  Facebook e Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *