De uma onda para outra, peça “Navegantes” conscientiza por meio da cultura a importância da educação ambiental

Foto: Marina Pacheco/divulgação
Foto: Marina Pacheco/divulgação

Nas ruas, nas escolas ou nos tablados, o encanto do teatro se une à educação e leva importantes mensagens para seus públicos, não importa a idade. É isso que propõe a obra ‘Navegantes’ que conquista crianças e adolescentes de Mato Grosso do Sul há seis anos, e traz temas essenciais da atualidade, como a poluição de rios e mares, e como a educação ambiental e o saneamento básico são um dos maiores aliados para combater esses desafios. A peça está em cartaz com apresentação nesta sexta-feira (18) às 19h15, no espaço teatral Grupo de Risco.

A produção tem texto e direção de Lú Bigatão, e apresenta de forma lúdica e envolvente personagens que, em suas aventuras pelas águas, ensinam sobre o impacto das ações humanas na natureza e a necessidade urgente de preservá-la. O espetáculo teve sua estreia em 2018 e possui linguagem híbrida, com mistura de atores, bonecos e teatro de rua, para revelar as belezas e os problemas dos rios brasileiros durante uma viagem do Pantanal até o mar.

Foto: Vaca Azul/divulgação

O cenário é composto por uma camada de terra, sobre a qual os atores se movem, em alusão aos rios contaminados. Os tons de laranja e azul das fantasias dos peixes contrasta com os tons marrons do solo e cria um degradê visual que revela a resistência da vida sob as águas.

Com 44 anos de experiência no teatro, tanto no palco quanto na direção, Lú Bigatão conta que a temática de ‘Navegantes’ gira em torno das aventuras da peixinha Douralis, que tem o sonho de conhecer o mar. Ela sai do Pantanal e faz uma jornada pelos rios brasileiros, mas se depara com diversos problemas ambientais da atualidade.

“Quando o público assiste fica claro o tanto que as ações do homem estão prejudicando o meio ambiente e os animais. O ser humano se acha dono do planeta e nunca pensa nas outras espécies vivas, isso fica muito claro no espetáculo, ao retratar os problemas do ponto de vista de quem está enfrentando esses problemas”, destaca Bigatão.

A questão ambiental sempre esteve presente no trabalho da diretora. Ao longo de sua carreira ela já produziu mais de 50 espetáculos, 20 deles sendo com bonecos e focados na preocupação ambiental, como ocorre com ‘Navegantes’. Conseguimos nesse espetáculo, atrair a atenção não só das crianças, mas também dos adultos”, comentou.

Transmissores do saber

A utilização da arte para promover a educação ambiental, mostra através do processo de percepção, sensibilidade e expressão, os problemas do meio ambiente de forma mais urgente, e traz à tona uma realidade que tem o poder de tocar a todos, ultrapassando barreiras sociais e econômicas.

Fernanda Kunzler, produtora e atriz de Navegantes, conta que ao longo da peça as crianças se tornam participantes ativas da narrativa, torcendo pela peixinha Douralis e alertando-a sobre os perigos que surgem. “Elas assistem com atenção, interagem constantemente uns com os outros, sempre comentando sobre os desastres que ocorrem durante a trama e experiências que tiveram parecidas com as da peça”, detalha.

Foto: Vaca Azul/divulgação

Fabrício Silva Ferreira, programador, compartilhou a experiência de levar seu filho a peça, destacando como essa vivência do teatro pode enriquecer a formação crítica e consciente das crianças.

“A educação ambiental, assim como a financeira, era pouco abordada em nossa geração. A sociedade não dava a devida importância. Nos últimos anos, no entanto, esses temas têm ganhado espaço nas discussões públicas, e isso é crucial. O reflexo da falta de educação ambiental é evidente nas queimadas e na poluição que enfrentamos hoje. Se tivéssemos tido acesso a essas informações, talvez o mundo fosse diferente”, destacou Fabrício.

Para Bigatão, o teatro de rua oferece a oportunidade ainda maior de entrelaçar a arte e o ensino. “A rua é o espaço mais democrático, onde todo mundo é convidado, todos que estão passando podem assistir, é gratuito”.

Conforme o professor de Ciências Biológicas, com especialização em Sustentabilidade, Gestão e Educação Ambiental, Lindomar Ferreira Lima Júnior, a educação ambiental é interdisciplinar, portanto dialoga com todas as áreas de conhecimento. “A arte e o teatro, além de envolvê-los [os alunos], faz com que desenvolvam habilidades como a comunicação, o pensamento crítico, e trata os problemas como algo coletivo”.

O professor ainda pontua que um projeto como ‘Navegantes’, traz o público para um lugar de ativista ambiental. “Quando o aprendizado se concretiza, o aluno se torna um aliado nas causas ambientais, reforçando a necessidade de um caminho que busque a consciência ambiental”.

Fernanda acredita que os artistas provocam mudanças e constroem caminhos possíveis por meio da arte. “Navegantes é um grito de socorro. Uma forma de tocar em nossa consciência de alguma forma. De dizer: ‘olha, acorda! Depende de nós!’ A temática da história nos retrata situações reais de como está nosso planeta frente a ação humana”.

Democratizar para ensinar

“Navegantes” faz parte do projeto cultural “No Caminho das Águas”, que, em maio de 2024, levou as peças “Navegantes”, “Piraputanga” e “Dona Arara vai Casar” a 14 cidades e distritos de Mato Grosso do Sul, em locais sem acesso a apresentações culturais. Além das peças, o projeto ofereceu oficinas para professores sobre técnicas de confecção e manipulação de teatro de papel, permitindo o uso de recursos simples nas escolas para montar espetáculos com os alunos.

“Acredito que essa temática pode provocar mudanças de comportamento e ação. Isso acontece a partir do momento em que se instiga a reflexão e a sensibilização de que não estamos sós no mundo; há muitas coisas ao nosso redor que se relacionam em algum momento”, destacou Fernanda.

O trabalho rendeu muitos frutos. No ano passado, o espetáculo venceu o Prêmio Campo Grande de Teatro, nas categorias de Melhor Espetáculo Infantil, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Sonoplastia, Melhor Iluminação e Ator Revelação.

Educar, preservar, multiplicar

Abrir a torneira de casa, do trabalho ou da escola, e por ela sair água limpa e tratada é algo corriqueiro para grande parte da população de Campo Grande. Conforme o Ranking do Saneamento de 2024, realizado pelo Instituto Trata Brasil, a capital de Mato Grosso do Sul é a segunda no ranking de capitais do país com os melhores índices de saneamento. Em 2023, foram implantados mais de 230 quilômetros de rede de esgoto na cidade, o que ampliou o abastecimento e tratamento.

Na capital, a água que usamos passa por mais de quatro mil quilômetros de rede da concessionária Águas Guariroba. Mais de 40% dessa água vem da captação do Córrego Guariroba e do Córrego Lageado, além de 150 poços profundos, 10 deles conectados ao Aquífero Guarani.

Foto: Vaca Azul/divulgação

Para garantir que essa água chegue na nossa torneira de forma adequada é preciso uma série de cuidados ambientais e sanitários específicos, como explica o gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Águas Guariroba, Fernando Garayo.

“Coletamos a água, seja num poço ou captação superficial, como num rio, bombeamos para a estação, e lá realizamos o tratamento, purificação e fluoretação, para prevenir doenças. Depois, há o processo de distribuição, a primeira parte do ciclo da água. Na segunda, a água utilizada é lançada na rede de esgoto, depois tratada, com os poluentes removidos e lançada no ambiente de forma adequada”.

Segundo o gerente, um dos desafios da concessionária é conscientizar a população quanto à ligação adequada a rede de esgoto. Ele indica que há resistência de algumas pessoas em desativar fossas, o que pode causar um problema de saúde e ambiental, com risco de contaminação no lençol freático e águas subterrâneas.

Uma das maneiras de conscientizar e educar as pessoas em relação ao saneamento e preservação ambiental é assim, na escola, com o apoio das crianças, por meio de ações específicas, como a peça ‘Navegantes’.

“Estar nas escolas é uma maneira de plantar uma semente da educação ambiental. Todos os públicos devem ser educados, temos muitos adultos que não tiveram educação ambiental na sua infância, não sabem como funciona um sistema de saneamento, de abastecimento. A ideia desse projeto é trazer essa temática da preservação da água para esse público, principalmente para as crianças”, argumenta, Garayo.

A peça ‘Navegantes’ serve para expor as crises ambientais existentes no país, onde as maiores vítimas são os animais inocentes, que têm o seu lar destruído pelas ações do homem. Para que a situação mude, é preciso trabalhar a conscientização conjunta, e as crianças são grandes aliados, pois ao serem educadas em relação ao meio ambiente, se tornam agentes de preservação, e passam a educadores de suas famílias e comunidades. O espetáculo ‘Navegantes’ será apresentado hoje, às 19h15, no Espaço Teatral Grupo de Risco, localizado na Rua Trindade, 401, Jardim Paulista. A entrada é gratuita.

 

Por Carolina Rampi e Amanda Ferreira

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