No coração de Mato Grosso do Sul, mais precisamente em Campo Grande, ressoa a melodia de uma sanfona que conta histórias de vida e resiliência. Aos 73 anos, celebrados hoje, Ilza Feitosa Nogueira não apenas toca músicas; ela tece sonhos e memórias com cada acorde, guiando corações e mentes através do tempo com sua arte acolhedora. Fundadora da Instituição Cultural “Origens e Raízes”, Ilza transforma notas musicais em pontes que conectam gerações, oferecendo um refúgio para músicos idosos que encontram na arte um renascimento. Sua sanfona, companheira fiel, é mais que um instrumento; é a voz de uma vida dedicada à cultura e à inclusão.
A artista começou sua carreira musical muito jovem, influenciada por sua família de músicos. Ao jornal O Estado, ela contou um pouco de sua trajetória. “As minhas origens estão em Jaraguari (município que fica a cerca de 47km da capital). Eu comecei a tocar sanfona aos meus 13 anos e hoje vislumbro toda essa galera com a gente, nessas vertentes a que a música nos impulsiona. É impressionante como a música é uma ‘celebridade’. É um verso, um poema, a música realmente surpreende.”
A Instituição Cultural “Origens e Raízes”, nasceu há 11 anos e foi por meio de uma pesquisa aprofundada sobre música, que Ilza começou a vislumbrar o seu projeto.“Eu me apaixonei terrivelmente. Eu comecei a pesquisar e percebi que a música é a única essência capaz de promover a paz mundial, olha a importância disso. E também, a única essência que estabelece laços entre povos. Ela cura, ela restaura, ela renova, ela rompe fronteiras”, apontou a musicista.
O projeto ganhou corpo, e com ele, vieram os ideais que Ilza vislumbrava para o seu sonho, cuja música de raiz, mais precisamente o Chamamé tornou-se o carro chefe da instituição. “O ideal da Instituição Cultural ‘Origens e Raízes’ é utilizar a música como o nosso instrumento de transformação. Hoje é pra mim instrumento de transformação e de inclusão social. E a música no nosso projeto hoje, é dar vida para essa pessoa, que se sente inserida nesse contexto, porque a cultura raiz que eu defendo, é o sertanejo regionalista, onde está enquadrado o ‘chamamezeiro’, toda a nossa influência e toda a cultura do chamamé está ligada diretamente nisso. Nós necessitamos de espaço para estabelecermos nossa cultura.”
Projeto Sarau Raiz
Para o primeiro passo foi organizado um sarau, que logo de cara impressionou Ilza Feitosa. Boa parte de quem compareceu ao evento eram músicos, que vieram para tocar. “Quando eu me vi estava diante de alguns dos melhores músicos da ‘melhor idade’. Em quatro tardes que eu sentei pra tocar eu me vi com 27 violeiros e 4 sanfoneiros, e eu tomei um susto. Eu me dei conta que o músico idoso, infelizmente não tem espaço, então nós temos que fazer com que o idoso seja visto, que os músicos idosos se sintam representados. E eu arrasto também a bandeira da PCD (Pessoa com Deficiência). Quem antes se preocupou com o músico com deficiência? Eu resolvi defender isso”.
Segundo a sanfoneira, foi a falta de palcos para tocar, que fez com que criasse um espaço para acolher aqueles que não tem onde apresentar seu trabalho. “A coisa deu certo. Oportunizamos o palco, espaço e os equipamentos necessários para as apresentações musicais das pessoas excluídas, aqueles que não possuem recursos para comprar um instrumento. Para os músicos que não conseguem sequer chegar aos editais Então como eu trabalho com acolhimento, eu abraço todo mundo, seja quem vem para tocar e quem vem para dançar. Eu cataloguei também as mulheres. A colaboração da mulher dentro do universo da musicalidade. A ideia é inserir todas essas pessoas no cenário. Somos maioria. E aí eu lancei o meu olhar pra isso. Eu amo tocar a minha sanfona, mas hoje eu quase nem acho esse espaço. Então eu preciso oferecer esse espaço para os outros. E são muitos.”
As mulheres tomam conta
Foi em uma gravação para um programa de televisão, que Ilza encontrou novas parceiras de música e descobriu artistas de primeira linha, que não eram conhecidas ainda. “Nos chamaram uma gravação na praça central do bairro Estrela do Sul, para a TV Morena. Como eu tinha feito o primeiro encontro de mulheres, eu cataloguei algumas mulheres musicistas. Temos inúmeras ocupações, mães, profissionais, esposas, nós fazemos inúmeras coisas e ainda encontramos tempo pra ensaiar um instrumento e propiciar o entretenimento. Eu fiquei surpresa com o que eu descobri. Achei dúzias de mulheres idosas que tocam percussão. São 60 idosas que tocam percussão e é um espetáculo. Eu trouxe isso para a sociedade ver e ouvir. Um mundo de mulheres instrumentistas. De mulher sanfoneira, de mulher violeira, mulher contrabaixista, mulher que toca bateria e mulher que toca percussão. São muitas artistas”.
Buscando parcerias
Após dois grandes encontros musicais Ilza já tem um terceiro idealizado e quer que seja celebrado em 20 de outubro, e ela explica o porquê da escolha desta data, mas agora é necessário também encontrar parceiros e se possível, um local maior para a realização do evento. “Fizemos um primeiro encontro delas com eles, depois um segundo encontro nosso. Agora eu desejo realizar o terceiro evento e para isso busco parcerias. Será no dia 20 de outubro dia do poeta. Aliás em outubro tem mais celebrações. Dia primeiro é o dia da música e também da pessoa idosa. Quero realizar o ‘Festival Chamanejo’ uma mistura de chamamé com sertanejo, onde terá entrega do troféu da cultura raiz para essas pessoas que participam dessa realização. Mas como que eu vou fazer? Onde eu vou realizar e quem vai me ajudar? O troféu, o modelo já tá pronto, o discurso já tá pronto e nós precisamos urgentemente de um espaço pra acolher esse povo. Música todo canto tem, a minha ideia não é só música, a minha ideia é alcançar esse objeto”, finaliza Ilza Feitosa Nogueira.
Serviço: Toda quinta-feira, Ilza Feitosa realiza encontros musicais na Rua Doutor Jivago, 830, bairro Estrela do Sul. O evento começa às 19h. E caso alguém queira abraçar a causa da Instituição Cultural ‘Origens e Raízes’, pode entrar em contato pelo número 67 991764646.
Por Marcelo Rezende
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