Especialistas alertam para o aparecimento de doenças respiratórias cada vez mais cedo
Proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde abril, os dispositivos eletrônicos para fumar, também conhecidos como cigarros eletrônicos e popularmente chamados de vape ou pod, não são mais encontrados no mercado formal de tabaco, mas são facilmente comercializados em grupos de compras virtuais. Essa procura pelo público jovem preocupa especialistas, que estimam um adoecimento prematura dos consumidores.
A reportagem do jornal O Estado circulou pela região do Camelódromo, onde são comumente encontrados produtos importados do Paraguai, mas, por lá, não se vê mais o produtor nas prateleiras. Quem trabalha com a venda de fumo e derivados enfrentou prejuízo com a proibição.
“O pessoal vem aqui muitas vezes procurando esse produto, só que não posso ter mais, resultando na perda dos clientes. Como a gente está aqui na área central, a gente nem se arrisca a vender, porque a polícia vem direto. No dia em que proibiu, a polícia levou nossa mercadoria, levou sacolas e sacolas de produtos”, compartilha o vendedor de uma loja de tabaco, próximo à Rua Sete de Setembro.
Sem se identificar, ele defendeu que o lucro segue sendo do público mais tradicional, dos cigarros de nicotina convencional, para o qual é permitida a venda se o produto for legalizado ou nacional. “A gente tinha um público leal a isso, leal a esse cigarro eletrônico. Agora não temos mais, a gente só tem os consumidores dos produtos tradicionais”, completa.
Porém, a proibição acaba sendo desleal ao comércio físico, já que nos grupos de vendas do WhatsApp e do Facebook a venda continua normalmente, com garantias, entrega a domicílio, com diversos sabores e preços que variam de R$ 50 a R$ 150. “Entregas gratuitas para mais de 20 regiões da cidade. Aproveitem a melhor e mais verdadeira promoção de Pod de CG”, diz o anúncio em um grupo de estudantes de uma universidade de Campo Grande.
80% dos usuários possuem entre 15 e 25 anos
Essa linguagem descolada e sabores mais variados preocupam os especialistas. Segundo o médico pneumologista da Unimed, Ronaldo Queiroz, as campanhas da indústria do cigarro eletrônico visaram o jovem, tanto que 80% dos usuários de cigarro eletrônico estão entre os jovens de 15 a 25 anos.
“A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, da qual eu faço parte, e mais de 80 entidades médicas já estão levando esclarecimentos e trabalhando no Congresso Nacional para que esse projeto de lei não avance e que jamais possa ser liberada uma droga tão grave como esta, que são os cigarros eletrônicos, especialmente pelos malefícios que estão provocando nos nossos jovens”, destaca o médico.
Para Ronaldo, as consequências do uso de cigarros eletrônicos nem serão de longo prazo, já estão sendo vistas e a tendência é piorar, pois as doenças relacionadas ao tabagismo, que normalmente aparecem em pacientes com mais de 60 anos, são encontradas em pessoas com 30 anos.
“O alerta que a gente faz é o seguinte: se a gente não conscientizar por meio de políticas públicas os jovens, e são os jovens que mais utilizam cigarro eletrônico, nós estamos cultivando uma geração de pessoas que no futuro serão doentes muito jovens, que para ter enfisema pulmonar, bronquite crônica. Ou seja, é uma geração que, se não parar de fumar, está fadada a ser uma geração doente, portadora de doenças crônicas pulmonares”, termina.
Por Kamila Alcântara e Inez Nazira