Consumidores da capital contam como fazem para “tapear” o aumento para não ficar sem a bebida
A estiagem e o calor afetou até a bebida queridinha do Brasileiro, o café. Com temperaturas acima dos 35ºC e sem chuvas, o preço do produto vem sentindo os reflexos do clima, aumentos que podem durar até abril do ano que vem, de acordo com estimativas da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). “Até o momento, não há nenhum indício de queda de preço da matéria prima para este ano. Essa previsão se estende até, pelo menos, abril de 2025”, calcula o diretor, Celírio Inácio.
Fiel da bebida, a dona Claudenice Maria Ramos, compartilhou com o jornal O Estado que o café é consumido em sua casa diariamente. Que em temporadas de inflação nos preços como é o cenário atual, ela substitui as embalagens do produto, estratégia adotada por ela que não abre mão de ficar sem seu café pela manhã. Conforme a consumidora, mensalmente, a auxiliar de limpeza compra em média três pacotes do pó.
“Quando o pacote de 500g está muito caro, a gente compra o de 250g para tapear e não ficar sem. E olha que às vezes ganho um sacolão que vem café, mas, mesmo assim, em casa consumimos todo dia, e aí preciso comprar além do que vem no sacolão. E quando não tem o sacolão compro um pacote de 500g a cada 10 em média”, explica a consumidora.
Já a tática do consumidor, Marco Aurélio Bernardo é ficar de olho nas ofertas nos supermercados, para garantir o produto mais em conta. “O jeito é ficar atento às promoções nos supermercados, até porque não tem como substituir o café. E como estou toda semana no mercado fico atento aos preços, pois é algo compro bastante tanto para consumir em casa como na firma. Mas também só deixo de comprar no mercado que é perto da minha casa, se o preço do café em outro mercado estiver compensando muito, se não acabo gastando mais com a gasolina me deslocando, e no final das contas não compensa”, frisa o profissional de artesanato.
Em Campo Grande, o produto se mantém em alta pelo quinto mês seguido, conforme o último levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) o pó do café subiu 3,38% em agosto. A justificativa sobre os preços elevados seriam: “A oferta restrita de grão no Vietnã, o aumento do preço internacional, a desvalorização do real em relação ao dólar e as oscilações no volume da colheita devido às mudanças climáticas são alguns dos fatores que podem explicar a alta de preços no varejo”, pontua o estudo.
Para consumir a bebida, o campo-grandense desembolsa em média R$ 22,84 na compra de um pacote de 500 g, de acordo com a reportagem do jornal que visitou seis supermercados da cidade. Já dados a nível nacional da própria indústria do café, o quilo pago pelo consumidor alcançou um preço médio de R$ 36,63 em agosto, frente a R$ 29,18 em abril (aumento de 35,80%).
Ainda segundo Dieese, das 17 cidades mapeadas pela instituição todas apresentaram elevação nos preços do café. As altas variaram entre 1,06%, em Florianópolis, e 13,75%, em Goiânia. No período de 12 meses, todas as cidades também tiveram aumentos nos preços de comercialização, com destaque para os percentuais de Belo Horizonte (41,70%) e Aracaju (38,12%).
Dica para driblar os preços
Conversamos com a economista, Cristiane Mancini, sobre outros métodos que o consumidor pode recorrer para não ficar sem o “café de todo dia” por conta dos aumentos que o produto vem acumulando. A especialista ainda ressaltou que no geral, comparamos o café robusta e o arábica. A robusta superou o arábica pela primeira vez desde janeiro de 2017. A saca do Robusta chegou a custar R$ 1490, já a Arábica R$ 1440 por saca. Segundo ela, a diferença entre ambos levou a situação presente no Brasil.
“A minha recomendação é que a população que gosta de consumir café procure pelo dito ‘café normal’. Esse tipo de café é uma mistura de diferentes grãos e qualidades, incluindo o arábica e o robusta. Enquanto o arábica, por exemplo, possui qualidade superior, pois é cultivado em temperaturas elevadas, com sabores refinados e mais complexos. As pessoas ainda compram no automático muitas coisas e se tratando de café pensam mais em alguma marca em específico e não no nome do café (com exceção dos conhecedores)”, alerta para que o consumidor possa buscar informações nos rótulos dos produtos.
Ainda conforme análise da economista, os preços mais altos do tipo robusta têm sido incentivados pelo aumento dos contratos em Londres (onde são precificados), mas não somente isso, também por conta da alta demanda do mercado interno . “E a oferta menor na Ásia contribui para que os preços se mantenham altos. Além disso, os produtores no Brasil estão ‘segurando’ os grãos. Diante de tantas variáveis, ainda existem os riscos climáticos para a produção”, concluiu a especialista.
Para Mancini, o que se prevê é que mantendo o clima quente e seco pode afetar negativamente a produção, aumentando as incertezas e consequentemente a possibilidade de novos altos de preços.
Por Suzi Jarde
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