Banda celebra trajetória com reunião de membros antigos e atuais em show na Capital
Prepare-se para uma noite repleta de whisky e blues! Os Bêbados Habilidosos comemoram seus 30 anos de carreira neste sábado (7), as 21h no Mirante Pub em um grande evento que reúne a formação atual da banda om participação especial de antigos membros, como Edney Costa, Marcelo Rezende, Fábio Brum, Clayton Sales, Álvaro Vasques, Nelson Weis além dos convidados especiais João Gerd, Renan Heimback, Zé Fuiza e Felipe Lira.
Para quem “está na solidão” e busca por uma rodada de blues, o show será estruturado em blocos, com a formação original se reunindo em momentos especiais para tocar ao lado do atual vocalista, Sal dos Santos. Organizado por Rodrigo Queiroz, o único membro original presente na formação atual, o evento trará um repertório que combina músicas dos primeiros álbuns com novas composições das formações recentes.
Esta reunião vai além de uma simples performance; é uma celebração de uma trajetória que moldou a cena musical local e inspirou gerações de músicos. “Este processo de reencontro vem sendo trabalhado há mais de um ano. Trabalhar com os ‘Bêbados Habilidosos’ foi um aprendizado. Digo sempre que foi o emprego em que fiquei mais tempo, mais de 20 anos. É natural que eu tenha um carinho especial por tudo que fizemos juntos — desde as músicas que compusemos até as viagens e experiências compartilhadas. Tenho saudade de tudo isso, então voltar agora, especialmente com o Edney e o Fábio, com quem não toco há muito tempo, será muito gratificante”, revela Marcelo Rezende, ex-baixista da banda.
Saudosa Blues Band
Quando se fala em blues no Brasil, especialmente em Mato Grosso do Sul, os Bêbados Habilidosos são uma referência obrigatória. Originada de uma divisão na banda Blues Band, em Campo Grande nos anos 90 (que foi a pioneira ao introduzir o blues na região), combinando influências americanas com um estilo próprio. Passadas três décadas de história, a banda continua a ser um marco na cena musical sul-mato-grossense, mantendo vivo o legado de Renato Fernandes, principal compositor e alma criativa do grupo.
A história dos Bêbados Habilidosos começa em uma época em que o blues engatinhava no Brasil, especialmente em Mato Grosso do Sul. “Quando montamos a banda, o blues era algo ainda desconhecido por muitos, há trinta e três anos”, relembra Fábio Brum, um dos ex-integrantes. “Começamos com a ‘Blues Band’, eu e o Renato. Naquela época, o blues era um território inexplorado. Renato começou a compor essas pérolas magníficas que realmente impactaram muita gente e ajudaram a moldar o cenário musical. Ele e a banda se tornaram um marco musical em Campo Grande, sem dúvida alguma”.
O grupo cresceu como uma resposta ao cenário musical regional, que tinha forte influência de sertanejo e rock, mas ainda pouco contato com o blues. A banda trouxe uma sonoridade inédita, misturando os ritmos e expressões do genêro com o sotaque regional, criando uma conexão imediata com o público boêmio da capital. “Campo Grande é uma referência para nós. Crescemos e envelhecemos ouvindo essa música, e as letras estão no inconsciente coletivo boêmio da cidade”, destaca Fábio.
Fora do eixo MS
Os Bêbados Habilidosos se destacaram em importantes festivais de jazz e blues em Mato Grosso do Sul e também marcaram presença em eventos renomados nacionalmente, como o SESI Jazz & Blues de julho de 2003, que contou com a participação de grandes nomes como Blues Etílicos e Victor Biglione. Em 2003, a banda ganhou destaque adicional com uma apresentação ao vivo na Kiss FM e no espaço Cemitério de Automóveis, resultando em mais shows na capital paulista e uma significativa parceria com Paulão, vocalista a banda paulistana Velhas Virgens, que gravou uma participação especial no álbum “Envelhecido 12 Anos”.
No mesmo ano, os Bêbados Habilidosos participaram do Dia do Grito da Música Independente no Parque do Ipiranga, evento que celebrou os 17 anos dos Velhas Virgens e o lançamento do álbum “Com a Cabeça no Lugar”. O evento contou com a presença de outros grupos notáveis, como “Caça Níqueis” e “Crazy Legs”. Este show consolidou ainda mais a presença da banda na cena musical independente. O reconhecimento da banda continuou a crescer com o lançamento do álbum “Envelhecido 12 Anos” no SESC Vila Mariana em abril de 2007 e uma marcante apresentação no SESC Belenzinho em janeiro de 2012, ao lado de Fernando Noronha e André Christovam.
Trilha sonora em filme e premiação
Em 2009, os Bêbados Habilidosos foram premiados como “Banda do Ano” e “Guitarrista do Ano” pelo Prêmio MTV Rock do Mato, e em 2008, suas músicas foram incluídas na trilha sonora do filme “Nossa Vida Não Cabe Num Opala”. A banda também recebeu atenção de revistas nacionais, como a Gol e a Brasileiros, que destacaram a cena underground de Campo Grande e a importância dos Bêbados Habilidosos, além de citações na revista Trip e revista da MTV.
O Último Blues
Renato Fernandes, vocalista e principal letrista, foi a figura central dos Bêbados Habilidosos. Com sua presença carismática e seu estilo de vida autêntico, ele personificava o blues. “Renato sempre foi o principal da banda: o principal compositor, o vocalista e a pessoa que vivia o que cantava”, afirma Fábio. “Ele tinha um estilo de vida autêntico, o que era um diferencial. Muitos músicos do blues na época eram apenas pose, mas o Renato vivia verdadeiramente a vida que cantava”.
Renato faleceu em 2015, o que abalou profundamente a banda e seus fãs. Porém, os Bêbados Habilidosos continuaram tocando suas músicas, honrando a memória do amigo. “A maior conquista é manter a banda funcionando. A banda sempre será uma homenagem a ele, e 90% do nosso repertório são músicas dele. Acho que essa é a nossa maior conquista: trinta anos de banda. É um tempo considerável”.
Edney Costa ex-membro da banda, acabou de sair de um tratamento intenso contra um câncer de orofaringe. Ele que já se apresentou em outros estados, como Santa Catarina e Paraná, percebe que ainda é reconhecido pelo trabalho com os Bêbados Habilidosos. “Eu ainda me refiro à minha banda como ‘nossa’. A jornada exigiu muita força mental e física para poder vir e fazer este show, especialmente após o tratamento. Portanto, não houve um reencontro específico; na verdade, sempre estivemos juntos, apoiando uns aos outros ao longo de tudo” afirmou Edney.
Tocadores de Blues
Rodrigo Queiroz destaca a importância de continuar compondo e expandindo o legado da banda: “Estamos trabalhando em músicas novas com o nosso novo vocalista, Sal, que também é poeta. Queremos manter o legado de Renato vivo, mas também criar material original”.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo cenário do rock e do blues, a banda continua a atrair novos públicos, especialmente com a entrada de Sal dos Santos como vocalista. “Atualmente, com o nosso novo vocalista, estamos conseguindo atrair um público mais jovem, que está curtindo o som e entendendo a poesia do Renato”, comentou Rodrigo.
Celebrando seus 30 anos, os Bêbados Habilidosos enfrentam o desafio de manter o blues relevante em um mundo onde a música está cada vez mais digital e voltada para o mainstream. “O desafio que ainda não superamos é colocar a banda na cena nacional”, reconhece Rodrigo. “Desde a época do Renato, tentamos entrar em festivais e eventos, mas é um processo complicado”.
O processo evolutivo da banda incluiu a passagem por diversos vocalistas após a saída de Renato. O trabalho da banda é predominantemente baseado em improviso, com cada apresentação oferecendo uma nova interpretação das músicas. Nunca tocam a mesma música da mesma forma em dois shows diferentes. A flexibilidade é uma característica fundamental do estilo da banda, permitindo que uma música dure desde três até dez minutos, conforme o momento e a interpretação dos músicos.
“É um tempo considerável de banda. Entrei na banda quando tinha 16 anos e hoje tenho 47. Sinto que cumprimos nossa missão, tanto em relação ao Renato quanto à fase que ele representava. Conseguimos fazer um blues regional, com um estilo próprio e muita identidade aqui no Mato Grosso do Sul”, destaca Rodrigo.
A trajetória dos Bêbados Habilidosos é um testemunho da força do blues em Mato Grosso do Sul. Desde os primeiros acordes tocados nos bares boêmios de Campo Grande até os grandes palcos locais, a banda construiu uma história de persistência, talento e amizade. Hoje, com três décadas de estrada, eles continuam a inspirar tanto os antigos quanto os novos fãs, mantendo vivo o legado de Renato Fernandes e abrindo caminho para novas gerações.
Para os fãs, o reencontro da formação original com a atual promete ser um evento histórico. Como Fábio conclui: “Vamos lotar o lugar e curtir essa noite incrível que vai ser fantástica. Compareçam e aproveitem com a gente!” E assim, o blues continua a ecoar pelos cantos de Campo Grande, carregado pelas mãos habilidosas dos Bêbados Habilidosos.
Serviço: O show de 30 anos do Bêbados Habilidosos começa as 21h no Mirante Pub localizado na Rua Dr. Zerbini, 53, Chácara Cachoeira. Os ingressos para o 2º lote antecipado custam R$ 50,00 e estão disponíveis no site appingressos.com.br.
Por Amanda Ferreira