Da terra para a arte

Foto: divulgação
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Artesãs de MS usam produtos reciclados e matérias-primas da natureza para criar produtos sustentáveis

Não dá para negar: o consumo cresce a cada dia mais, e muitas vezes, de forma exagerada, onde a população compra com exagero, sem pensar nas consequências, como a possibilidade de falta de insumos básicos para produção e descarte irregular. Para tentar conscientizar o mundo, nesta quarta-feira (5) é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, para dar luz a questões de proteção e saúde do planeta, destacando os desafios ambientais mais urgentes do nosso tempo.

A data foi estabelecida pela ONU (Organizações das Nações Unidas), em homenagem à primeira cúpula ambiental do mundo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, de 1972. Na época, o evento adotou o slogan ‘Uma só Terra’, para destacar a necessidade de proteger e restaurar o único lar da humanidade, de forma urgente, envolvendo indivíduos, empresas e comunidades. Com a criação da data, governos e organizações do Sistema das Nações Unidas se comprometeram a realizar atividades para reafirmar a preocupação com a preservação e valorização do meio ambiente, todos os anos.

É com o pensamento de manter a natureza para o futuro, que artesãs de Mato Grosso do Sul utilizam como matéria-prima para seus trabalhos, itens que seriam descartados, seja da própria natureza, ou materiais como garrafas e madeiras.

Há 38 anos no meio do artesanato, Beatriz Barros, que faz parte da Confederação Nacional dos Artesãos do Brasil e da Artems (Associação de Artesãos de Mato Grosso do Sul), produz peças com chifre bovino para confecção de biojoias, ou joias naturais, acessórios desenvolvidos a partir de materiais orgânicos encontrados na natureza.

Biojoias

“Eu aproveito materiais que, muitas vezes, seriam descartados, o que é uma excelente oportunidade de renda. Transformo o osso do chifre e unhas do boi em biojoias, que está surgindo como uma tendência atualmente. Primeiro eu cozinho chifre, para limpar todas as sujeiras e impurezas. Após isso, realizo o corte, com bases em desenhos já estipulados, faço o lixamento e por último o polimento. Com a peça pronta, defino como vou fazer o produto, que podem ser anéis, pulseiras e colares”, explicou a artesã em entrevista ao jornal O Estado.

Barros conta que o artesanato entrou na sua vida como uma recomendação médica, e que a prática a transformou por completo. “Na época, o Governo do Estado e o Sebrae buscavam uma identidade para o MS na área do artesanato, já que a maioria dos produtos eram voltados para os animais do pantanal. Então, eu iniciei uma pesquisa de materiais primas locais, para transformá-las em identidade regional”.

Enquanto buscava inspirações, a artesã se conectou com Audenir Evangelista, artista especialista na técnica de entalhamento e esmerilhamento, que trabalha com chifre e osso de boi. Com o chifre bovino, Evangelista produz berrantes, chapéus, guampas para tereré e canecas, o que chamou a atenção de Barros. “É uma matéria-prima local em abundância aqui em Mato Grosso do Sul. Eu olhei para o lado feminino e fui para a fabricação de acessórios. Com a ajuda de Audenir, desenvolvi desenhos para a fabricação de peças como colares, brincos, chaveiros e outros adereços femininos. É uma tendência da moda atual”, relatou.

“A importância desse trabalho é o aproveitamento do material, que muitas vezes são descartados. Passo meu conhecimento por meio de oficinas, mostrando como um produto pode ser reciclado de várias formas, e que no artesanato podemos criar peças belíssimas. Além disso, o artesanato relaxa a mente, e nos tranquiliza em pensar que trabalhamos com a reciclagem, reaproveitando materiais e ajudando o meio ambiente”, destacou.

Sustentabilidade

O uso de matérias-primas regionais também é um dos focos da artesã Eliana Miyuki. Nascida e criada em São Paulo, se mudou para Campo Grande há mais de 20 anos. “Desde os 12 anos pintava paisagens em telas e também pintava em tecidos. Em 1999 fiz uma aula de biscuit, com a intenção de presentear a família e não parei mais. Em 2002 comecei a dar aulas do assunto, ensinando a fazer massas, modelar e confeccionar peças”, relembra.

Com 23 anos de artesanato como profissão, Miyuki faz uso de diversos materiais para compor suas peças, desenvolvendo diferentes técnicas. “Pensando na sustentabilidade, reciclo garrafas de vidro, tubos de papelão, jornais, caixas de madeira, troncos de madeira e galhos de árvore, por exemplo”. Em seus trabalhos que divulgam a cultura sul-mato-grossense, a artesã utiliza de frutos do cerrado, cabaça (porunga) e o coité, para confeccionar figuras indígenas e a fauna pantaneira. “O uso desses materiais é importante para a consciência ambiental e questões mercadológicas, onde a tendência é a sustentabilidade”, ressaltou.

Também parte da Artems e da AMI (Associação dos Microempreendedores Individuais de Mato Grosso do Sul), em 2021 a artesã ganhou o Prêmio de Artesanato e Referência Cultural de Mato Grosso do Sul pela Fundação de Cultura, com a peça “Índia Pantaneira’, que está atualmente exposta no Bioparque Pantanal. Ela também representou o artesanato e a cultura do Estado na Feira do Artesão, na Feincartes 9Feira Internacional de Artesanato e Decoração) 2023, em Florianópolis, Santa Catarina, na Fenarte 2023, em Pernambuco, conhecida como a maior feira de artesanato da América Latina e na Fenacce (Feira Nacional de Artesanato e Cultura, no Ceará, também no ano passado.

Artesanato em MS

O artesanato do Estado é composto por peças feitas em cerâmica, cestarias, argila, e outros, com uma grande variedade de estilos, que preza muito pela utilização de itens retirados do meio ambiente. O artesanato indígena também se apresenta na região principalmente por duas etnias, a Kadiwéu e a Terena. É diferenciado conforme sua região, com técnicas distintas das regiões do Pantanal, Bonito, Serra da Bodoquena, Rota Norte e Costa Leste.

 

Por Carolina Rampi

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