Segundo Elaine Cristina Benicassa, delegada titular da DEAM, número de feminicídios diminuíram pela metade em 2023
Segundo a delegada titular da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Elaine Cristina Benicassa, o número de feminicídios diminuíram no ano passado e com isso Mato Grosso do Sul está no caminho para deixar de ser o Estado brasileiro que mais mata mulher. “Em 2022, 14 mulheres morreram na Capital, só pelo fato de ser mulher, esse número em 2023 chegou a oito, ou seja, diminuímos pela metade. Nesse ano as mulheres procuraram mais a DEAM, são quase oito mil boletins de ocorrência, sinal que as vítimas entenderam que de fato é necessário buscar ajuda. Um trabalho entre equipes que vem dando bons frutos”, destaca.
Natural de Marília, Estado de São Paulo, formada em direito, com pós-graduação em ciências criminais, Eliane, está há dois anos a frente da DEAM, além disso, ministra palestras sobre violência de gênero e abuso sexual infantil, e para adolescentes nas escolas. “Todos nós somos transformadores nessa luta, se não pensar assim, o ciclo de violência contra as mulheres continua. Se não tiver ninguém ali para corrigir nós nunca vamos evoluir”, enfatiza.
O Estado: Vem observando mudanças do tipo de violência contra as mulheres?
Elaine Cristina Benicassa: O carro-chefe da delegacia continua sendo lesão corporal , vias de fato ameaça, injúria, agressão física e crimes de stalking que somam o maior número de boletins de ocorrências. Houve um aumento nos crimes de cunho sexual. A grande maioria das vítimas de violência doméstica são mulheres entre 20 a 35 anos, em idade reprodutiva, que acabam trocando de parceiros e vivendo um ciclo de violência, por conta, na maioria das vezes financeira.
O Estado: Qual a diferença dos crimes de importunação sexual e assédio?
Elaine Cristina Benicassa: Houve um aumento nos casos de crimes sexuais. O crime de assédio sexual precisa preencher alguns requisitos, como a prática do ato libidinoso e de cunho sexual, mas que venha de uma hierarquia, como por exemplo, professor, patrão, chefe de setor, pastor ou padre. Já importunação sexual, qualquer homem ou mulher pode ser autor ou vítima, por exemplo, um esfregão ou passar a mão nas partes íntimas, dentro do transporte público ou até mesmo dentro do carro de aplicativo, masturbação e beijo sem consentimento também são atos de importunação sexual.
O Estado: Quais os desafios do futuro na proteção e combate a violência contra mulher?
Elaine Cristina Benicassa: Continuar o trabalho de forma intensa, todos nós somos transformadores nessa luta, se não pensar assim, o ciclo de violência contra as mulheres continua. Se não tiver ninguém ali para corrigir, nós nunca vamos evoluir. A rede de proteção precisa dar às mãos. Um trabalho de longo prazo para diminuir essas estatísticas.
O Estado: Ainda há algum setor do sistema de proteção que precisa melhorar?
Elaine Cristina Benicassa: É importante as capacitações corriqueiras, que vire rotina ,em todas as áreas envolvidas na rede de proteção. Nosso objetivo é acolher cada vez melhor as vítimas de violência doméstica. O maior desafio é ter um olhar social, precisamos ouvir, acolher e fazer mais o papel social do que de enfrentamento. Já tivemos esse ano, muitos boletins de ocorrência, a informação precisa ser o carro-chefe, sem informação não a enfrentamento. Dos feminicídios deste ano, apenas uma vítima tinha registrado boletim de ocorrência. Isso é um padrão nacional, a dificuldade de enfrentamento onde as mulheres não registram ocorrências, logo não conseguimos tentar ajudá-las. Precisamos ainda trabalhar o resgate do homem que cometeu violência doméstica, para que ele não volte a sociedade cometendo os mesmos crimes. Futuramente terá um novo relacionamento e precisamos evitar que faça mais vítimas.
O Estado: Qual a sua visão de como foi o ano de 2023 e quais as perspectivas para 2024?
Elaine Cristina Benicassa: Em 2022, 14 mulheres morreram na Capital, só pelo fato de ser mulher, esse número em 2023 chegou a oito, ou seja, diminuímos pela metade. Nesse ano as mulheres procuraram mais a DEAM, são quase oito mil boletins de ocorrência, sinal que as vítimas entenderam que, de fato, é necessário buscar ajuda. Um trabalho entre equipes que vem dando bons frutos. Então o balanço é positivo sem dúvidas, nós tivemos um aumento nos boletins de ocorrência, isso é bom, quer dizer que as vítimas finalmente têm se conscientizado e vindo até a delegacia registrar a ocorrência. A máquina não consegue se movimentar se não tivermos, ao menos, os comparecimentos das vítimas. A formalização é fundamental para conseguir ajudá-las. No balanço sobre os casos de feminicídios, Mato Grosso do Sul caminha para deixar de ser o estado que mais mata mulher, creio que sairemos dessa estatística. Além disso, tivemos a intensificação de campanhas e operações.
O Estado: Como o projeto da Casa da Mulher Brasileira em Dourados vai ajudar?
Elaine Cristina Benicassa: É uma grande iniciativa, sabemos que a população indígena é uma população carente de acolhimento, além das inúmeras aldeias indígenas que concentram grande número de feminicídios. Ter uma Casa da Mulher preparada pensando nesse público é um avanço do Estado. As mulheres indígenas vivem uma realidade totalmente diferente da maioria das mulheres. Na Capital tem aldeias indígenas, e há pouco descobrimos que existem mulheres vítimas de violência, mas elas sentem a falta de alguém nas delegacias para entender a língua delas.
O Estado: Qual seu balanço nesses dois anos à frente da DEAM?
Elaine Cristina Benicassa: Participei da inauguração da DEAM como plantonista em 2015, fiquei cinco anos no plantão, isso me deu experiência para administração dessa delegacia com tamanha importância .Houve um fortalecimento muito grande da rede, não tem como “tampar os olhos” para o tema. Cada vez mais mulheres têm ocupado espaço de poder, e isso fez com que homens agressores, se sintam acuados e com ódio das mulheres, que estão cada vez mais tendo seu espaço, principalmente no mercado de trabalho.
Por Thays Schneider.
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