Em homenagem à artista venezuelana Julieta Hernandez, assassinada no fim do ano passado, nesta sexta-feira (12), o coletivo Bicicletadacg, em parceria com cidades dos quatro cantos do Brasil, realiza a bicicletada nacional em prol à artista. O ato, além de demonstrar solidariedade, consiste em ser um protesto contra o crime de feminicídio e outros delitos que violentam mulheres por seu gênero. O encontro na Capital está marcado para às 19h no Relógio Central.
Julieta Hernandez, uma mulher, artista, especialista em palhaçaria e cicloviajante, teve sua vida interrompida em 23 de dezembro de 2023, quando pedalava rumo à casa da mãe na Venezuela. Segundo detalhes da Polícia Civil do Amazonas, em coletiva à imprensa nesta segunda-feira (8), Julieta foi estuprada, queimada e enforcada pelo casal que a hospedou. Os acusados responderão pelos crimes de cadáver, latrocínio e estupro.
Julieta Inés Hernández Martínez, 38 anos, conhecida como “Palhaça Jujuba”, fazia da bicicleta a extensão de seu mundo. Há quatro anos, a artista decidiu percorrer o país por meio das pedaladas. Assim, Julieta conheceu mais de nove estados brasileiros, realizando apresentações circenses e trabalhando como bonequeira, confeccionando réplicas de pessoas em miniatura. Para a gestora cultural, atriz e escritora Ligia Prieto, o assassinato de Julieta escancara condutas machistas enraizadas na estrutura social.
“É dolorido demais.” Estamos imersos num machismo estrutural que mata, e precisamos encontrar formas urgentes de lutar pela vida. A Julieta era sinônimo de coragem e liberdade. A morte dela revela uma atrocidade real, diária e constante em nosso país. É importante que todos tenham consciência disso: “A mulher no Brasil não é livre!” enfatizou a gestora.
Nas ruas da Capital
O ato em homenagem a Julieta recebeu a alcunha de #JulietaPresente. Encabeçado por artistas, ciclistas e ativistas, a mobilização é descrita com o intuito de ocupar as ruas, exigindo justiça e a liberdade da mulher. Na capital, o encontro é mobilizado pela Massa Crítica, um grupo de ciclo ativismo independente de Campo Grande. Uma das organizadoras do ato, Fernanda Savaris, estudante de psicologia, compartilha que um dos propósitos do evento é a manifestação do luto, mas, especialmente, o “fortalecimento de vínculos para quem viveu situações parecidas”. Ainda, organizadora acrescenta que a mobilização é aberta ao público em geral, e sua importância se revela também como um momento de conexão. “A vida de uma cicloviajante pode parecer muito solitária, a vida de uma artista também, assim como a de uma mulher… sinto que esses atos mostram que não estamos só, que somos muitas, que existe uma força que nos mantém firmes nas direções que queremos seguir”, disse Fernanda.
Organização Nacional
O coletivo Bicicleta da Juju promoveu a convocação nacional, e, segundo Aline Cavalcante, uma das coordenadoras da mobilização, mais de 100 cidades participarão do ato. Tal número expressa de modo significativo o repúdio da população ao crime cometido contra a artista, conforme explicou Aline
“A importância é tirar da invisibilidade o que aconteceu, não deixar ser esquecido, marcar uma posição de que é inaceitável o que aconteceu com Julieta, que o feminicídio é crime e precisa ser denunciado, que foi uma barbaridade, uma crueldade. O propósito da bicicletada é denunciar o que aconteceu com Julieta, mas também enaltecer a vida e o trabalho dela. Quanto mais a gente conhece a história dela, mesmo que pessoalmente não a tenha conhecido, mais percebemos o tamanho, a grandeza, a imensidão que foi essa mulher para o nosso país, para a atuação cultural, para a divulgação do circo, das ideias, da cultura popular, pontuou a organizadora.
A Bicicletada na Capital é mobilizada pela Massa Crítica. O encontro está marcado no Relógio Central, entre a Av. Calógeras e Av. Afonso Pena, à partir das 19h. Os interessados em acompanhar informações sobre o encontro podem acessar @bicicletadacg.
Por Ana Cavalcante
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